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Imagem ilustrativa da imagem OS ÓRFÃOS DE ROMA parte 1 - O FIM DA PAX ROMANA | Benedito Ramos

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Letras de Alagoas

Sobre o autor

Letras de Alagoas O blog Letras de Alagoas é um espaço alinhado a Academia Alagoana de Letras voltado a divulgação da literatura contemporânea, seus autores, a produção literária em prosa, verso, história e crítica. Aberto ao debate de temas da atualidade, o blog também explora as curiosidades etimológicas da língua portuguesa o neologismo cibernético e preciosidades da língua vulgar nordestina.

OS ÓRFÃOS DE ROMA parte 1 - O FIM DA PAX ROMANA | Benedito Ramos


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Se há uma lacuna na história, algo que não ficou bem contado e que até hoje ninguém escreveu especificamente, é sobre o período de transição do mundo antigo ao medieval. E não é, simplesmente, uma questão de se arrematar informações sobre o período de decadência do Império Romano, que coincide com o início da Alta Idade Média. É muito mais que isto. Esta resposta estaria guardada na consciência do homem desse período, na sua visão e compreensão do que estava acontecendo com a poderosa Roma que ele conhecia. Diz o pernambucano Oliveira Lima, autor de “História da Civilização”, publicado em 1919 pela Editora Melhoramentos, pg. 109, que Roma era: “A mais sólida das civilizações antigas, aquela que descende diretamente a civilização moderna...” E com certeza este pensamento não era diferente para um cidadão romano, fosse este, um senador, um agricultor ou até mesmo um simples escravo. O poder de Roma, não vinha da força de seus exércitos, como muitas vezes julgamos. Ao contrário, era o seu povo, a sua gente, aquela humilde plêiade de trabalhadores, artesãos, camponeses, artistas, engenheiros, comerciantes e tantos outros que moviam a sua economia. Marvin Perry, no seu livro Civilização Ocidental, da Martins Fontes, publicado em 1999, diz, na página 117 que: “A deterioração do exército foi uma das principais causas da crise do século III”. Mas é preciso ir mais fundo na questão, para entender que a origem da indisciplina e da desordem das forças militares romanas, são, sem dúvida alguma, de ordem econômica. Basta observar que este império não cresceu apenas geograficamente, tomando cidades e se beneficiando de sua infraestrutura. Sua expansão foi também semeada de construções, obras públicas, estradas, pontes. Mas era na capacidade de manter o império autossuficiente, com um comércio bem distribuído, com uma indústria e uma agricultura estabilizada que gerava a riqueza de sua população. Famílias inteiras, empregados e escravos conseguiam manter uma propriedade rural, produzindo uma dúzia de produtos vitais, desde a preparação de conservas, até tecidos de lã e linho alvejado. Produtos, com compradores certos atravessavam as boas estradas, construídas pelo império e que serviam ao escoamento dessas mercadorias para as principais cidades, guardadas dos saqueadores pela sua milícia. Com uma moeda valorizada a riqueza do campesinato, assim como da indústria e do comércio em geral, fazia nascer uma classe, que mesmo considerada plebéia, concentrava mais riqueza que os membros do Senado Romano. Esta autonomia econômica baseada no sistema do Laissez-faire permitia que a população estivesse engajada na distribuição de emprego e renda, sem a interferência do estado. Com todos os desníveis sociais, a concentração da riqueza a uma minoria privilegiada de políticos e altos funcionários, não chegava a ser um escândalo. Durante muito tempo, não foi a política do pão e circo, o principal objetivo do governo. Grandes investimentos foram feitos para dar a cidade de Roma uma infraestrutura a altura de seu pendor.

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Mas a capital do império não produzia nada, vivia da exploração das atividades agrícolas e industriais mantidas nos seus entornos. Ganhou-se dinheiro até quando a máquina estatal funcionou adequadamente. Quando a sobrecarga a tributária começou a ser usada para cobrir os gastos públicos e o governo ditou leis para controlar as atividades econômicas, não havia mais operários suficientes para segurar o mesmo nível de produção. A população havia sido dizimada em mais de 30%, tanto pela guerra, como pelas suas consequências – as epidemias. O empobrecimento do populacho ao nível de miséria torna Roma sua inimiga mortal. É quando a lealdade e o patriotismo se esvaem, principalmente, do soldado romano, recrutado das províncias mais pobres e que fatalmente aderiam também aos ataques contra a riqueza. Aproveitando-se disso as tribos germânicas, começam a atravessar as fronteiras para saquear e destruir. Coisa que o próprio cidadão romano reduzido à miséria, também já estava fazendo, sobretudo, nas cidades. Para conseguir suprimentos e fundos para pagamento aos militares, o governo confiscou bens e impôs trabalho forçado, além de obrigar a hereditariedade profissional na indústria familiar e na agricultura. A urbanidade romana começava a ser destruída pelas invasões, saques, guerras civis e a fome. E isto tudo, contribuiu sobremaneira, para a desvalorização da moeda e o declínio da economia. Nada mais havia restado da “Pax Romana”, de Otávio Augusto, nem da “Plenitude dos Tempos” a que se referia a carta de São Paulo aos Gálatas, capítulo 4, versículo 4.
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Benedito Ramos Amorim
Pesquisador, Crítico de Arte e Coordenador de Ação Cultural e Social da Associação Comercial de Maceió, tem livros publicados a partir de 1974: Mona Lisa Um Autorretrato de Leonardo da Vinci - Pesquisa, em 1979 Lamento Derradeiro que recebeu o Prêmio Moinho Nordeste da Academia Alagoana de Letras – Contos, 2003 A Construção do Palácio do Comercio Pesquisa, Edufal, 2005, Um Amor Além do Tempo – Romance, HD Livros, 2006, Doce de Mamão Macho – Novela, Editora Catavento. Articulista em diversos jornais da capital alagoana desde 1976, no extinto Jornal de Alagoas desde 1976, a partir de 2002 no O Jornal e Jornal Gazeta de Alagoas. Prêmio Graciliano Ramos da Academia Alagoana de Letras com o romance inédito Pensamentos Mágicos em 2006, ano em que assumiu a cadeira número 9 da Academia Alagoana de Letras. Editor por 5 anos do jornal O Palácio publicado pela Coordenadoria de Ação Cultural e Social da Associação Comercial de Maceió. 2019 Prêmio Editora Gracialiano Ramos com edição dos livros, Nadi e 2ª Edição do livro Doce de Mamão Macho.
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