Em fevereiro último, Igor Thiago, centroavante de 22 anos, criado nas divisões de base do Cruzeiro, foi anunciado pelo Brentford, da Premier League, como a mais cara contratação do clube inglês. Vendido pelo Brugge, da Bélgica, por 37 milhões de euros (R$ 205 milhões), o atacante nascido na cidade-satélite de Gama, no Distrito Federal, será o primeiro brasileiro do Brentford em 134 anos de história. Jogador de área, de 1,91m de altura, o destro Igor Thiago chamou atenção dos ingleses pelo porte físico e ótima rendimento ofensivo. Não à toa, já fez 27 gols em 50 jogos pelo Brugge (com cinco assistências) nesta primeira e única temporada pelo clube belga. Em 2022/23, ele havia marcado outros 20, com sete assistências, jogando pelo Ludogorets, da Bulgária. Está em franca ascensão e a expectativa é de consolidação e valorização na liga inglesa.
Agora, vejam quanto recebe o Cruzeiro nessa negociação: 1,46% pelo mecanismo de formação, o equivalente a quase R$ 3 milhões. O Verê, do Paraná, seu primeiro registro como amador, tem direito a 0,47% (cerca de R$ 1 milhão), e o Ludogorets, que o vendeu no ano passado para o Brugge por 7 milhões de euros (R$ 39 milhões), fica com 0,76% (algo em torno de 270 mil euros, ou R$ 1,5 milhão). No total, o Cruzeiro terá feito só R$ 10 milhões (1,8 milhão de euros) com o jovem promissor. E sabem por quê? Porque Thiago foi das primeiras negociações da SAF Cruzeiro, em 2022, com o clube ainda economicamente fragilizado e sem a perspectiva de um futuro melhor para o jogador a curto prazo. O empresário vem com a proposta, fala da vontade da família e convence os diretores sem muita dificuldade. Duvido que isso se repetiria hoje, com os processos estruturados e as finanças equilibradas pelo grupo presidido por Ronaldo Fenômeno.
Ou seja: clubes economicamente desestruturados terão a cada dia mais dificuldade para sobreviver sem a criação de sua SAF. Não há dinheiro circulante no mercado que não venha das casas de apostas. E ainda há o temor de que a torneira seja fechada a partir da regulamentação das Bets, a ser aprovada com taxação dos lucros da banca e do apostador. Quando o governo oficializar as novas regras, a realidade será cruel. Por isso, sem o caixa reforçado, como têm Flamengo e Palmeiras, ou bem resolvido, como é o do Athletico, a criação do modelo de Sociedade Anônima será a única saída para que os clubes possam valorizar suas crias e se manter competitivos. Quem viver, verá…
(Arivaldo Maia com o Blog de Gilmar Ferreira- Jornal EXTRA - Rio de Janeiro)