A incidência de luz artificial nas praias, resultado da expansão urbana sobre o litoral, acaba prejudicando fêmeas e filhotes da tartarugas. As fêmeas podem deixar de pôr os ovos, evitando o litoral, se a praia está iluminada inadequadamente. Os filhotes, por sua vez, ficam desorientados: ao invés de seguir para o mar, guiados pela luz da lua e das estrelas, eles caminham no sentido contrário, atraídos pela iluminação artificial, e fatalmente são atropelados, devorados por predadores ou morrem de desidratação.
A fotopoluição, como é conhecida a poluição causada por luzes artificiais, já afeta a vida marinha em vários locais do Brasil e do mundo. E, como esse tipo de poluição está ligado, exclusivamente, à presença humana, com o crescimento da população no litoral, o problema só tende a crescer.
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Em Maceió, as áreas preocupantes estão localizadas no Litoral Norte, principal região de desovas de tartarugas de Pente até o momento. Segundo o biólogo Bruno Stefanis, do Instituto Biota, a problemática da fotopoluição no Litoral Norte já havia sido levantada pela entidade, mas somente houve confirmação após o grupo receber relatos e fotos de moradores do bairro de Jacarecica mostrando que os filhotes invadiam a pista e eram atropelados.
'Ao tomarmos conhecimento deste caso, acionamos os órgão competentes, principalmente o Ministério Público e a Sima [Superintendência Municipal de Iluminação Pública de Maceió], que se prontificaram a fazer ações na região para evitar que a desorientação aconteça novamente', explicou.

De acordo com Stefanis, a Sima desligou temporariamente os refletores que ficam no calçadão de Jacarecica, até que sejam definidos mecanismos capazes de evitar essa agressão ao meio ambiente.
No Brasil, o projeto Tamar tem trabalhado pela aprovação de leis que regulamentem a iluminação artificial nas áreas de desova. A instituição também oferece orientações de como iluminar corretamente, que são encontradas no site oficial do Tamar (http://tamar.org.br), e podem ser aplicadas em qualquer parte do litoral brasileiro.

Pesquisa
Uma equipe de cientistas da Universidade da Austrália Ocidental publicou um artigo científico na revista Royal Society Open Science comprovando que a fotopoluição acaba influenciando na desova das tartarugas, provocando o desnorteamento dos animais. Durante a pesquisa, foram espalhados por toda a praia - onde aconteciam as desovas - pontos de luz por dois dias.
Os cientistas chegaram à conclusão de que a luz artificial perturba sua trajetória. Com os pontos de luz, percebeu-se, no primeiro dia, que 80% dos filhotes seguiram em direção ao ponto e que, no segundo, 100% das tartarugas mudaram suas trajetórias, sendo influenciadas pela área luminosa.
O estudo também ressalta que a contaminação luminosa é cada vez mais relevante, não só nas orlas como também no mar, com a presença de instalações como plataformas de petróleo, embarcações, boias marítimas, entre outros.
