Foram 27 gols em sete jogos. Vice-artilheiro da Paralimpíada, o brasileiro Leomon Moreno viveu talvez as 24 horas mais difíceis da sua vida esportiva. Principal arma ofensiva da seleção no goalball, o brasiliense foi o vilão da eliminação nas semifinais para os Estados Unidos na quinta-feira. Cometeu seis penalidades e não rendeu no ataque na derrota por 10 a 1. Um dia depois, o camisa quatro estava de volta à Arena do Futuro. De cabeça erguida, começou o jogo no banco, mas foi o grande responsável pela espetacular virada diante da Suécia, por 6 a 5, na prorrogação. Além dos três gols no tempo normal, foi dele também o gol de ouro que deu a medalha de bronze para o Brasil. Aliviado, o jogador dividiu os méritos com o grupo e a torcida.
- A torcida foi emocionante. Embalou a gente a buscar o placar. Vocês nos veem com as vendas nos olhos, mas ali dentro rolaram lágrimas depois da virada. Devo tudo aos meus companheiros, que me apoiaram depois do jogo. Saí bem triste por ter comprometido a equipe. Fiz pênaltis e não defendi. Foram gols que tomei sozinho. Encarei com naturalidade começar no banco contra a Suécia. Temos seis atletas muito bem preparados. Cada um que entra dentro de quadra faz o seu papel e o melhor pelo Brasil. Se eu entro no início do jogo ou faltando 30, 15 segundos, vou dar o meu máximo sempre - contou o jogador.
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Atual campeão mundial, o Brasil chegou na Paralimpíada como favorito ao ouro. Por isso, o revés para os EUA doeu muito. Leomon confessa que demorou a dormir na Vila Paralímpica, remoendo os erros cometidos. Depois da derrota, o técnico Alessandro Tosim preferiu não conversar com o grupo. Deixou para fazê-lo nesta sexta-feira, na preleção para o jogo. O brasiliense entendeu o "recado" da comissão técnica, descansou, colocou a cabeça no lugar e voltou mais forte, mas diz que foi difícil.
- A noite foi bem difícil. Martelei muitas coisas na cabeça. Tentei dormir para me acalmar, mas se fosse uma derrota nas quartas de final, seria só sofrimento mesmo. Como ainda tinha a possibilidade de medalha, tentei esvaziar a cabeça e me alimentar bem para disputar o bronze que conseguimos. Espero que essa noite seja bem mais tranquila, com a medalha de bronze no peito. Pela maneira do jogo, tem gosto de ouro. Já temos a prata de Londres e o bronze do Rio, agora vamos em busca do ouro em Tóquio.
Comandante do grupo, Alessandro explicou que a opção de deixar Leomon no banco não foi um castigo pelas falhas contra os EUA. Ele percebeu que o jogador estava abatido e escolheu o momento certo de usá-lo. Funcionou. Com quatro gols, o jogador ajudou o Brasil a virar e manteve uma escrita de cinco anos da seleção, que desde 2011 sempre está no pódio das principais competições internacionais.
- Mostramos para eles que a nossa equipe é muito forte. Estamos entre os melhores do mundo. Se você pega o retrospecto das seleções da final, os EUA não foram para Londres e a Lituânia ficou fora do pódio olímpico e mundial. E nós estamos nos pódios nos últimos cinco anos. Estamos mantendo o nosso nível. Isso é muito interessante. O Leomon ficou abatido depois da situação. Acalmei ele. Deixamos eles ali. Conversei com ele no intervalo, expliquei o quanto ele poderia correr para encaixar as bolas e isso foi acontecendo. E a torcida ajudou muito. Foi nos empurrando e a Suécia foi ficando pequena dentro do ginásio. Foi um jogo para coração forte. Foi um bom teste. Estou com o coração bom mesmo - brincou o treinador.