Parentes e amigos de Vanessa Batista Fortunato enterraram o corpo da jovem de 29 anos que morreu dois dias depois de dar à luz um casal de gêmeos. A jovem precisou ser transferida de hospital, de São Bernardo do Campo para Santo André, e foi atendida na ambulância por um homem que não tinha registro de médico.
Graziane Soares Pereira vai responder por falsa identidade e exercício ilegal da profissão. Também vai responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar. A polícia abriu um segundo inquérito para investigar as responsabilidades dos médicos que atenderam Vanessa no Hospital Santa Helena.
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"Ela estava linda, feliz. Só que não era o tempo. Não era para ela morrer agora. Inclusive ela tava assim feliz, tava bonita, ela tava linda", diz Maria Aparecida Batista, mãe de Vanessa.
Vanessa foi transferida na terça-feira (15), com hipertensão gestacional, na Maternidade Santa Helena, em São Bernardo do Campo. Dois dias depois, fez cesárea e deu à luz gêmeos. No sábado (19), teve que voltar ao centro cirúrgico.
"Ela acumulava líquidos. Teve complicação e foi transferida. A cesárea foi um pouco complicada, sangrou muito, e ela reclamava de muita dor, fora do normal. No ultrassom constatou lesão no útero", explica César Fortunado, marido de Vanessa.
A Maternidade Santa Helena só tem UTI neonatal, e não para adultos. Por isso, a paciente precisou ser transferida para a unidade de Santo André. No caminho, algo deu errado. O hospital chamou a polícia, que descobriu que o médico que a acompanhava na ambulância não tinha registro do Conselho Regional de Medicina.
O responsável pela transferência era Graziane Soares Pereira. Na delegacia, ele disse que fez medicina na Bolívia. Amigos dele contaram que Pereira está fazendo as provas para retirar o CRM, obrigatório para exercer a atividade de médico no Brasil. Ele chegou a apresentar aos policiais um cartão com CRM em nome de outra pessoa.
"Acabei de falar com o médico legista, a causa da morte seria hemorragia interna, devido à alta complexidade da cirurgia que foi feita. E, pelo que ele me informou, não seria devido ao transporte por uma pessoa não habilitada. Poderia ocorrer tanto com o médico habilitado ou não, iria ocorrer, infelizmente essa morte, pela hemorragia interna", disse o delegado José Rosa Incerpi.
Em nota, o hospital explicou que Vanessa apresentou complicações por causa de uma hemorragia e foi submetida a histerectomia, que é a retirada do útero. Após nova avaliação clínica ela teve que ser transferida para a unidade de Santo André por causa da UTI. A paciente morreu cerca de uma hora depois por parada cardiorrespiratória.
Disse ainda que Vanessa tinha condições para transferência, que foi feita em uma ambulância com UTI.
A distância entre a Maternidade Santa Helena, em São Bernardo, e o Hospital Santa Helena, em Santo André, é de 6 km. A família agora quer saber também porque o hospital não transferiu Vanessa antes de operá-la.
A empresa responsável pela ambulância que transportou a paciente é Sérgio Remoções. O SPTV ligou nesta segunda-feira para os telefones que aparecem no site mas ninguém atendeu. O advogado de Graziane Soares Pereira também não retornou as ligações.
O Conselho Regional de Medicina disse que vai apurar o caso. Explicou também que os diretores médicos podem responder a processo ético caso sejam negligentes na contratação de funcionários.