Um dado alarmante relacionado à internação no Hospital Geral do Estado (HGE) sobre acidentes de trabalho mudou o foco por completo de uma tese de mestrado do professor Henrique Dartagnan Cerqueira de Barros. Segundo o especialista em Saúde e Segurança no Trabalho, 250 pessoas deram entrada no hospital, só no mês de outubro, em decorrência de causas acidentais no exercício da função. A média foi de oito atendimentos por dia, somente neste mês, no HGE. Em seu projeto, Henrique afirma que o Estado carece de uma cultura prevencionista.
Conforme explicou o professor, o tema antes delimitado para a futura dissertação de mestrado era voltado para a qualidade do ensino superior. Porém, curioso na área de segurança no trabalho e já com larga experiência, Henrique foi atrás de dados estatísticos junto ao hospital que atende a maior demanda de ocorrências em Alagoas, verificando que, somente no último mês de outubro, a unidade atendeu a 250 vítimas de acidentes, o que equivale a uma média de oito acidentes por mês. Esta causa está entre as cinco maiores relacionadas a acidente, que compõem a lista de atendimentos no Hospital Geral.
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Do total de internações, duas foram provocadas por material biológico, 70 lesões no olho, cinco por danos à região lombar, 52 luxações e entorses, oito mutilações, 14 quedas de altura, cinco queimaduras, seis acidentes de trajeto e 88 casos não foram informados de maneira detalhada, mas que envolveram ocorrências no trabalho.
"É uma urgência que virou emergência. Quando tive acesso a esses dados, mudei toda a temática do projeto e, agora, trabalho nele para submeter à aprovação do orientador. Esses dados, além das subnotificações, foram o carro-chefe da pesquisa. Constatei que noventa e um por cento dos acidentes no geral são passíveis de prevenção, e por que razão não trabalhar nesse sentido, evitando ou minimizando os danos? Aquela máxima de 'prevenir é melhor do que remediar' é a mais pura verdade", argumentou Henrique.

Na visão do especialista, o Estado precisa implantar a cultura prevencionista já na formação do indivíduo, ou seja, incutir na consciência da primeira geração uma educação voltada a medidas preventivas, uma vez que os que já possuem uma opinião formada dificilmente serão induzidos a modificar o posicionamento acerca da prevenção. A fiscalização do Estado para com o trabalhador é o ponto-chave para o enfrentamento de intercorrências, conforme destaca Henrique.
"Se tivéssemos maior consciência, o HGE não enfrentaria a superlotação. E as causas são a falta de prevenção, condições inseguras do trabalhador e o ato inseguro do próprio trabalhador, que, mesmo com o Equipamento de Proteção Individual, não respeita sua integridade física", enfatizou o professor, graduado e pós-graduado em Saúde e Segurança no Trabalho no Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi). O trabalho será submetido à avaliação por comissão da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A reportagem também conversou com o auditor fiscal do Trabalho, Elton Machado, que disse não se surpreender com estes dados em decorrência da grande subnotificação. Segundo ele, até as empresas mais conceituadas deixam de comunicar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o que torna complicado para o Estado agir, em muitas situações, com políticas de medidas prevencionistas.
"Aliado a isso, temos o fator acidentário de prevenção em que o patrão precisa pagar um percentual relativo à cobertura de acidentes, porém, como gera onerosidade, ele não notifica a ocorrência de menor porte. Além disso, a própria economia informal, na qual o trabalhador não têm condições nem de se resguardar", explicou Elton.
1º trimestre
Somente no primeiro trimestre deste ano, foram 805 ocorrências de acidentes de trabalho, sendo três delas fatais. O número, porém, é apenas uma estatística prévia e, segundo o auditor, ainda pode ser bem superior.
A soma deve ser pelo menos 20% maior, já que entram aí unicamente os casos com CATs, as Comunicações de Acidente do Trabalho. Mesmo ainda preliminares, as informações são do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), responsável por essa coleta, que as repassa à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/AL). Apesar dos dados não consolidados, Elton Machado expõe que, em 2015, foram 3.543 acidentes, com 26 mortes.