A Escola Estadual Lucilo José Ribeiro, na cidade de São José da Tapera, teve um dia diferente nesta segunda-feira (4). Durante toda a manhã, os alunos participaram das atividades de culminância do projeto "Diário de Gente - Sexualidade e Gênero" e discutiram um pouco do assunto que ainda é tabu na sociedade.
A ação fez parte de um projeto integrador realizado na grade curricular flexível da unidade escolar, que funciona em tempo integral. A temática foi escolhida pelos próprios alunos depois de uma pesquisa realizada pelo projeto Daniel Macedo, que também é psicólogo.
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"No início do ano letivo fiz várias dinâmicas de grupo e um questionário de levantamento de interesses. Eles indicaram que a turma queria que fosse desenvolvido um projeto na área de gênero. Foi uma demanda da turma ao identificar que determinados alunos sofriam preconceito", conta.
Segundo ele, a escola possui jovens trans e homossexuais, que vinham sendo discriminados no local. Para desestimular esse comportamento, o projeto contou com a exposição fotográfica "Transgeneralizando-se", com 26 fotografias dos estudantes vestidos com roupas e acessórios do gênero oposto.

Além disso, foram realizadas ainda as palestras "Vivenciando a Transição de Gênero", com Charlie Beilow, e "Adoção por casais homossexuais", por Daniel de Oliveira Lima. Um dos alunos fez uma performance intitulada "Homem com H de Humano", com uma música de Ney Matogrsso, e outros dois participaram da performance Sobre Saltos.
Um poema e um musical foram apresentados e o jovem Arthur Fernandes, da Escola Estadual Ângelo de Abreu, de Olho D'Água das Flores, falou sobre o cotidiano como transsexual na unidade escolar. Uma apresentação teatral reuniu 50 estudantes para abordar o autoconhecimento.
"Isso tudo teve dois objetivos. O primeiro que os alunos conhecessem a diversidade dos conceitos do campo da sexualidade, da identidade de gênero, da orientação sexual e da expressão de gênero. O segundo era sensibilizar para minimizar preconceitos e discriminação", acrescenta Daniel Macedo.
De acordo com ele, a escola foi acessível, mas a iniciativa enfrentou uma certa resistência no início. "O conselho escolar aprovou o projeto, assim como a Secretaria de Educação. Foi um acontecimento hoje na cidade, porque antes tivemos algumas manifestações negativas, mas isso foi dirimido hoje, porque as pessoas puderam perceber a importância da discussão".

O educador opina que a escola não poderia se eximir da discussão. "A novela está apontando essas questões e a escola, como instituição formadora, não poderia ficar aquém nessa responsabilidade. Evidente que vamos respeitar posicionamento religioso ou posições ideológicas, mas a escola não pode se eximir do seu papel".
O próximo projeto vai abordar a temática da tecnologia, também escolhida pela comunidade acadêmica.