Já Zeca Baleiro precisou de seis anos para selecionar as canções que compõem o álbum "Ode descontínua e remota para flauta e oboé: de Ariana para Dionísio", lançado em 2007, e acertar a participação de intérpretes como Maria Bethânia, Zélia Duncan, Ângela Maria, Ná Ozetti, Ângela Ro Ro, entre outras. "Infelizmente, Hilda morreu (em 2004) antes do projeto ficar pronto", conta o músico que, durante o processo criativo, ouviu apenas duas reprovações da poeta em relação à métrica. "E ela estava certa", diverte-se ele que, logo no primeiro encontro, teve uma ideia da personalidade dela. "Hilda gostava de chocar e, logo que nos conhecemos, ela contou histórias chocantes, recheadas de palavrões. Era um perfil que ela gostava de cultivar e, em pouco tempo, Hilda percebeu que o folclore do artista compete com sua própria obra."
No fim da mesa, chamada "O escritor seus múltiplos", Zeca cantou uma faixa do disco, esquema voz e violão. Foi aplaudido e ouviu gritos de "mais um!". Teve de fazer um bis. Antes, tinha contado que Hilda uma vez telefonou para contar que era fã de um hit dele, "Heavy Metal do Senhor". Na ocasião, aproveitou para perguntar: "Música dá dinheiro, né?". O cantor explicou que não era bem por aí.
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Outro momento aprovado foi um comentário de Iara Jamra sobre o livro "O caderno rosa de Lori Lamby", adaptado aos palcos pela atriz. A obra, uma das mais conhecidas de Hilda Hilst, tem forma de diário e é narrada por uma garota de oito anos que se prostitui obrigada pelos pais. As páginas trazem seu relato da atividade e de encontros com adultos.

Na estreia do que já havia dito nesta Flip 2018 nesta sexta-feira (27) a professora Eliane Robert Moraes, a que citou e elogiou, saiu em defesa da obra. Iara afirmou "é literatura, é arte, e não é pedofilia" o que faz Hilda Hilst em "O caderno rosa de Lori Lamby". Para a atriz, o público de hoje em dia talvez esteja "menos arejado, mais tenso". "Tem que entender o lado da artista, é arte, é brincadeirinha." A plateia riu.
Mais tarde, a pedido de seus colegas de debate, a atriz declamou um trecho do livro. Na passagem escolhida, interpretou, com sua conhecida voz de criança, um encontro da protagonista-narradora com um adulto.
Apesar do tema árduo do texto, houve novas risadas no público, inclusive quando Iara, do nada, interrompeu. "Ai, eu esqueci!". Ganhou aplausos.