Boletim divulgado neste sábado (6), pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde revela que os casos de Covid-19 nas aldeias alagoanas avançaram 116,6% em apenas 48 horas, atingindo 13 índios. Atualmente, segundo o órgão, há outros 11 casos suspeitos e uma morte, ocorrida no início de maio, na aldeia Kariri-Xocó, em Porto Real do Colégio - a 170 km de Maceió.
O avanço dos casos de Covid-19 em aldeias indígenas de Alagoas fez o Ministério Público Federal recomendar à Fundação Nacional do Índio (Funai), Distrito Sanitário Especial Indígena (Disei) de Alagoas e Sergipe e às secretarias municipais e estadual de Saúde a instalação de barreira sanitárias em todas as tribos espalhadas por onze municípios alagoanos.
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Em reunião realizada na quinta-feira (5) com representantes desses órgãos, o MPF voltou a lembrar que a recomendação já havia sido feita no início de maio, quando foi registrada a morte de uma índia da etnia Kariri-Xocó. Na época, os casos de Covid-19 nas etnias alagoanas ainda eram considerados baixos pelo governo federal.
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), Celso "Xucuru Cariri" Celestino, que participou da reunião com o MPF, ressalta que os casos de Covid-19 estão avançando com rapidez porque muitas tribos em Alagoas estão localizadas dentro das cidades, como é o caso da Kariri-Xocó.
Ele conta que apesar de a recomendação do MPF ter sido feita há quase um mês, nenhuma providência foi tomada por parte de nenhum órgão. Segundo Celso Celestino, sem orientação, os próprios índios não sabem como agir em relação à doença.
Uma fonte da Funai ouvida pela reportagem informou que a responsabilidade das barreiras sanitárias é das secretarias de Saúde - tanto estadual como municipal. "A Funai pode participar da ação, mas com o intuito de informar à população indígena sobre a doença", disse.
Segundo o Ministério da Saúde, a população indígena do Dsei Alagoas e Sergipe é formada por 12.479 índios de treze etnias espalhadas por 31 aldeias. Desse total, apenas uma etnia está localizada no estado de Sergipe.
De acordo com os dados da Sesai deste sábado, 79 indígenas brasileiros já morreram em decorrência da Covid-19. Atualmente, 1.965 casos da doença já foram confirmados e outros 476 estão sob suspeita.
O Alto Rio Solimões, no estado do Amazonas, foi a população mais atingida pela doença, com 23 óbitos. Em seguida aparecem o Guamá-Tocantins, com 11 óbitos, e o Leste de Roraima, com seis mortes.
Os números de indígenas infectados pelo novo coronavírus, no entanto, são contestados pela Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib). A coordenadora da Apib, Sonia Guajajara, ressalta que a Sesai faz uma seleção de quem eles acham que é indígena e quem não é. "Então, eles não registram indígenas que estão em contexto urbano", enfatiza ela.
"A própria estrutura da Sesai, sem atendimento próximo a algumas aldeias, faz os indígenas irem para os municípios. Lá, eles entram na contagem normal do Município, sem ser considerados indígenas com Covid-19", disse Guajajara.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que desde janeiro a Sesai elaborou documentos técnicos para orientar povos indígenas, gestores e colaboradores sobre medidas de prevenção e de primeiros atendimentos à infecção pelo coronavírus.
"O Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo novo coronavírus em povos indígenas detalha como as equipes de saúde devem agir conforme cada caso", destacou o ministério. "Todo esse planejamento e estudo antecipado resultam em atendimentos rápidos e eficientes executados diretamente nas aldeias", completa.