Para obter vantagens em esquema montado no sistema prisional alagoano, os detentos disseram que pagaram quantias altas em dinheiro ao grupo de advogados (Hugo Soares Braga, Fidel Dias de Melo Gomes e Ruan Vinicius Gomes de Lima) que foi preso, esta semana, por suspeita de prática de extorsão, tráfico de influência e associação criminosa. Até um apartamento foi dado como garantia de pagamento. Após depoimento, a polícia informou que o Rossemy Alves Doso deve ser excluído do processo em questão, já que a fala dele aos delegados foi esclarecedora.
Em depoimento aos delegados Cayo Rodrigues Silva, José Carlos André dos Santos e Gustavo Henrique, da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic) da Polícia Civil (PC), um dos presidiários, condenado por tráfico de drogas e homicídios (tentados e consumados) nos estados de Alagoas, São Paulo e Minas Gerais, revelou que foi obrigado a repassar um imóvel ao advogado Ruan Vinicius Gomes de Lima, associado a Hugo Soares Braga, apontado como líder do grupo. Hugo é filho do juiz Braga Neto, magistrado titular da Vara de Execuções Penais de Alagoas.
Leia também
José Ricardo Ângelo confirmou ter sido removido várias vezes para o Presídio de Segurança Máxima do Agreste, em Girau do Ponciano, e citou existir o que ele chama de "atalho" para retornar para as unidades prisionais da capital por intermédio do advogado Hugo Soares Braga.
Em uma das vezes que pretendia ser transferido para a capital, ele informou que utilizou um apartamento como pagamento. O imóvel fica por trás do supermercado Makro, estava avaliado em R$ 100 mil, mas que tinha R$ 30 mil de pendências com parcelamentos a serem cumpridas.
Além de casas, os detentos revelaram que o grupo dizia que poderia receber, pelos serviços prestados, na forma de veículos e outros bens. No entanto, a exigência em dinheiro era a mais comum.
Ricardo, por exemplo, disse aos delegados que pagou, pelo menos, quatro vezes ao advogado Hugo Braga para que ele providenciasse seu retorno para o presídio Baldomero Cavalcanti, em Maceió, em acordos que variavam entre R$ 6 mil e R$ 17.500. Outros detentos informaram que pagaram até R$ 25 mil.
Este depoente também revelou que, por acreditar que poderia progredir de regime, pediu ajuda ao referido profissional do Direito, mas, em troca, diz que foi vítima de extorsão. De acordo com a Deic, o preso afirmou que Hugo Braga exigiu dele R$ 200 mil, sendo a metade deste valor destinada aos assessores da Vara e da Promotoria de Execuções Penais, e a outra parte para o advogado.
Quando informou que não tinha como conseguir este montante, Ricardo Ângelo contou que o filho do juiz passou a ameaçá-lo, insinuando que, se o dinheiro não lhe fosse pago, poderia ele [Hugo] prejudicar o processo de progressão de regime. Uma das maneiras que citou seria fazer surgir, no processo, uma determinação para realização de exame criminológico (decisão que caberia ao magistrado da Vara de Execuções Penais, pai de Hugo), o que atrasaria o pedido, em tese.
Apesar das suspeitas, os advogados disseram que vão se pronunciar apenas no curso do processo. Já o Poder Judiciário informou que investiga o envolvimento de supostos servidores no esquema descoberto pela Polícia Civil de Alagoas.