Um dos episódios mais marcantes do calendário cultural da capital alagoana, o Jaraguá Folia deve reunir milhares de foliões na noite desta sexta-feira (14). O bairro histórico receberá mais de 100 blocos carnavalescos, agremiações formadas por nerds, artistas, professores e até por amantes da sétima arte, como é o caso do "No Escurinho É Mais Gostoso", um dos bloquinhos mais concorridos da folia.
Nesta edição, o trajeto voltará a seguir o curso considerado tradicional pela prefeitura de Maceió. A concentração será na Praça Sinimbu e a saída em direção à Avenida da Paz, à beira-mar, seguindo para a Rua Sá e Albuquerque, uma das mais famosas do centro histórico, e finalizando na Praça Dois Leões. O público estimado pela Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac) é de 50 mil pessoas e o horário marcado para o início da folia é às 20h.
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Quando se fala em fantasia, os maceioenses não economizam na imaginação. Para Thiago dos Santos, que improvisou com amigos fantasias dos Power Rangers no ano passado, o Jaraguá Folia representa o momento de dar asas à imaginação, aos desejos e à autoexpressão.
"O No Escurinho É Mais Gostoso é justamente essa mistura de gente que realiza, que imagina e que gosta de viver sem medo. Eu curto demais o bloco e vou todos os anos, sempre com uma fantasia inusitada. E ainda tem uma infinidade de possibilidades para se fantasiar, já que o bloco é relacionado ao cinema. Cada um vai com a narrativa que mais se identifica ou até com a que menos se identifica, já que muita gente vai para fazer críticas sociais. É um grande encontro de pensamentos também", reflete o universitário.

"O Escurinho tem, explicitamente, a influência do audiovisual. Cinema, séries, cultura pop em geral, são paixões do nosso público. O público é bastante peculiar. Há gente que sequer brinca carnaval, mas faz questão de se fantasiar e desfilar todos os anos", conta Cleber Pereira, da organização do bloco.
Ele também atribui o sucesso do bloco ao engajamento, já que a agremiação é comprometida com pautas sociais, como as lutas contra o racismo, machismo, lgbtfobia, transfobia, entre outras bandeiras.
"Músicas com cunho machista, racista, homofóbico ou transfóbico são vetadas no nosso cortejo", adianta. Para este ano, o mote do bloco é a luta da classe artística contra a censura às artes. "Dessa postura de diversidade e defesa das pautas sociais não abrimos mão", diz o organizador.
A concentração para o chamado de "bloco mais estiloso do Jaraguá Folia" será na porta do Lorde Nelson (Pub local), também às 20h. O pré-bloco será marcado pelo show de Wado e o Bloco dos Bairros Distantes, projeto carnavalesco do músico. Depois das 2h, horário limite para as festividades de rua no Jaraguá, o bloco retorna ao Lorde Nelson para shows com a cantora Naná Martins, Orquestra Cabelo de Fogo e DJ Magnum. Informações estão disponíveis no site www.lordenelson.com.br.
FAROFA NA RUA
Outro destaque das prévias ocorre pelo segundo ano, a festa "Farofa", idealizada pela produtora Pixel. Trata-se de um evento aberto, gratuito e colaborativo, que visa ocupar espaços públicos de Maceió e ressignificar a relação com a cidade, criando um ambiente seguro de socialização para o público LGBTQ+ maceioense através da música e arte. Neste ano, nomes locais como David Andrade, Eleva, Perigou, Phellipe e Karoliny N animam o local com DJ sets que vai do pop/funk ao bregafunk e eletrônica.
Sem apoio e patrocinadores, o evento independente conta exclusivamente com a colaboração da população por meio de um financiamento coletivo a partir de $5 reais para custear as despesas como som e segurança. Todos os custos serão abertos aos apoiadores através de um orçamento transparente. Em agradecimento, para contribuições maiores que $25 reais, a produção recompensará com brindes que vai de ingressos para outra festa que acontecerá no mesmo dia, além de posters e ecobags, disponíveis através do link bit.ly/FarofaPraTodas.
"Nossa Farofa, em 2019, foi um acontecimento inédito na cidade que levou diversão e cultura para uma área pouco explorada pela população. Permitimos que centenas de pessoas ocupassem um lugar histórico e culturalmente importante para Maceió e criássemos, através da música, novos laços e memórias com aquele lugar. Somos resistência em tempos tão difíceis e, neste ano, queremos ocupar mais espaços e levar muito mais rostos felizes para rua", comenta David Andrade, um dos produtores do evento.
FILHOS DA PAUTA

Já o tradicionalíssimo "Filhinhos da Mamãe", com mais de trinta anos de carnaval, desde o ano passado faz seu cortejo uma semana antes do Jaraguá Folia e ocupará nesta sexta o Museu Théo Brandão, sua casa ao longo de todas as suas décadas de existência, com um baile regado a muito frevo e alegria, também às 20h.
BLOCO SEM NOME
Entre os blocos que chamaram a atenção no ano passado e que prometem aquecer a folia desta sexta está um bloco sem nome, ou melhor, um bloco que muda de nome anualmente. Em 2019 eles eram "As Trepadeiras" e cada folião foi vestido com um espécie de planta. Sobraram "comigo ninguém pode" e carnívoras. Este ano, eles invadem as ruas e becos do Jaraguá como o bloco "No Escuro da Tua Inveja A Minha Luz é Neon", completando o time de blocos engajados e que pregam o respeito à diversidade.
"A organização acontece no WhatsApp, com poucos dias de antecedência, daí a 'comissão' convida os amigos e propõe que os amigos convidem seus respectivos amigos e assim vai. Ano passado conheci amigos dos meus amigos que acabaram se tornando amigos também (risos). Hoje saímos juntos e tudo começou no pré-carnaval do Jaraguá", conta Patrícia Mendonça, uma das foliãs.
Para a universitária, o Jaraguá Folia é sua motivação para curtir o carnaval em Maceió.
"Eu não gostava de carnaval, acho que ainda não gosto, mas posso afirmar que amo as prévias do Jaraguá. O clima é diferente, sinto que pertenço àquela festa e aquele lugar".