Com o endividamento atingindo 194.381 maceioenses, segundo a Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio-AL), as contas de começo de ano já começam a encher as caixas de correspondências e podem fazer esse número aumentar. O editor de imagens Paulo Dionísio é um desses endividados. Ele recebeu um banho de água fria com a chegada dos boletos de janeiro. A primeira providência: cortar o chuveiro elétrico para economizar.
Dionísio brinca que nem a placa do carro o ajudou. Isso porque o último dígito da placa é o numeral 2, o que significa que em fevereiro ele terá que pagar o emplacamento do veículo. No entanto, segundo ele, é a matrícula da escola que mais pesa no orçamento.
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Na verdade, as contas que giram em torno do filho são as que mais tiram o sono do pai. É matrícula, mensalidade e material escolar. Nesse momento ele brinca e afirma que não sabe se o menino gasta mais em casa ou na escola. "Agora nas férias ele fica reclamando que não viajou, aí tem que levar pra sair, depois tem lanche. Pronto, já viu!", conta.
Questionado sobre qual o planejamento para quitar as dívidas, Paulo diz acreditar que "raramente alguém faz algum planejamento", pois segundo ele "nunca sobra nada". Sem alternativa, o jeito encontrado por ele é cortar mais gastos, o que sobrou para a faxineira, que teve o serviço cancelado.
Na casa do bancário Carlos Alberto Sousa, de 55 anos, os gastos com a educação dos filhos são as maiores despesas. O filho 22 anos cursa ensino superior privado, a filha de 18 anos está indo para o ensino superior também, e o de 10 anos está na escola. Para amenizar os gastos, a solução foi cortar em 40% as despesas com restaurante e cartão de crédito. O bancário conta que aprendeu muita coisa com a profissão e com os erros. Esse ano, as contas devem pesar menos que no ano passado pois ele passou 2019 poupando. Ele é o único provedor da casa, mas diz que a família entende quando precisa "apertar o cinto".
Tarefa difícil tem também o supervisor de loja Eduardo Ivan, de 36 anos, que tem duas filhas, uma de 7 e outra de 9 anos. Para satisfazer os desejos das crianças, alguns prazeres dos adultos foram cortados, como a academia. Segundo ele, estas despesas nos primeiros dois meses do ano comprometem todo o orçamento. "É como se as despesas dobrassem", diz.
Ivan relata que no último mês do ano passado ele a esposa sentaram para cortar algumas despesas e impor um limite nos gastos com as festas de fim de ano. "Isso foi necessário porque em 2019 tivemos que recorrer ao cheque especial para lidar com essas despesas extras. Então, apertamos os cintos e até separamos boa parte do décimo para auxiliar nesses custos", diz.
O "aperto" que passou em 2019 fez com que ele conseguisse se estruturar. "De maneira geral, foram adaptações rigorosas no orçamento o ano inteiro e que com certeza foram sentidas pelas minhas filhas e pela família de maneira gera", relata.
Ele conta que a ideia do planejamento foi começar o ano equilibrado para conseguir juntar algum dinheiro no decorrer de 2020. "O plano é ter uma reserva de emergência e uma reserva para essas contas de começo de ano em 2021", diz.
Mas para promover tanta educação financeira os cortes foram inevitáveis. "Cortamos muita coisa nos últimos meses. A energia, por exemplo, estava muito cara. Então temos um planejamento para usar os ar-condicionados dos quartos, optando por usar ventilador se não estiver muito quente. Outra mudança foi a renegociação de todos os planos de telefone, internet e TV, além de rever custos com a academia". Ele avalia que são cortes pequenos, mas que afetam muito o orçamento.
*Sob supervisão da editoria de Economia.