Imagem
Menu lateral
Imagem
Gazeta >
Imagem
GZT 94.1 | Maceió
Assistir
Ouvir
GZT 101.1 | Arapiraca
Ouvir
GZT 101.3 | Pão de Açúcar
Ouvir
MIX 98.3 | Maceió
Ouvir
GZT CLASSIC | Rádio Web
Assistir
Ouvir
Imagem
Menu lateral Busca interna do GazetaWeb
Imagem
GZT 94.1
Assistir
Ouvir
GZT 101.1
Ouvir
GZT 101.3
Ouvir
MIX 98.3
Ouvir
GZT CLASSIC
Assistir
Ouvir
X
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no facebook compartilhar no linkedin
copiar Copiado!
ver no google news

Ouça o artigo

Compartilhe

'Se beber, não nade': a perigosa ligação entre álcool e mortes por afogamento

No Brasil e no mundo, bebidas alcóolicas são um fator de risco importante para afogamentos, que matam mais de 300 mil pessoas no planeta anualmente

Duas organizações da área da saúde, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) e a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), que estão lançando uma campanha para alertar sobre o papel do álcool nos afogamentos, alertaram que há um erro na ação de beber copo de cerveja refrescante para acompanhar um mergulho na água do mar. A

Na verdade, os afogamentos - que matam mais de uma dezena de pessoas por dia no Brasil -, para os quais o álcool é considerado um importante fator de risco, são um tema que preocupa em todo o mundo. De acordo com a estimativa mais recente e consolidada da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2014, cerca de 370 mil pessoas morrem afogadas no planeta anualmente.

Leia também

Em números absolutos, o Brasil aparece neste relatório da OMS como o terceiro país com mais mortes por afogamentos (6.487, com ano base em 2011), atrás de Rússia (11.981, em 2010) e Japão (8.999, em 2011).

Quando considerado o valor proporcional ao tamanho da população, que no Brasil foi de 3,3 mortes por 100 mil habitantes, o país se afasta das primeiras colocações e da média mundial (5,2). Mas, ainda assim, fica acima do panorama de países ricos (2,3 por 100 mil habitantes) e da região das Américas (3 por 100 mil habitantes).

Quem trabalha com o tema diz que estes números provavelmente são subestimados, pois há muitas mortes por afogamentos que não são registradas como tal - tanto no Brasil quanto no mundo. E há outro desafio para os pesquisadores: quantificar o papel do álcool nestes incidentes.

Enquanto as pesquisas sobre o papel do álcool nos afogamentos se aprimoram, quem trabalha na linha de frente - com os pés na areia, por exemplo - vê nesta associação uma velha conhecida.

"A gente sabe que o álcool tem relação direta com afogamento. Estudos têm mostrado que ele pode variar como fator determinante em 15 a 60% dos óbitos", diz David Szpilman, diretor médico da Sobrasa e que trabalhou por décadas como tenente-coronel do Corpo de Bombeiros no Rio de Janeiro, período no qual prestou diversos atendimentos a pessoas afogadas em praias.

"O consumo de álcool na areia é um sinal que já deixa os guarda-vidas em alerta. Tem um comportamento clássico, da pessoa que vai à praia não para entrar na água, e sim para beber. Em algum momento ela vai querer entrar na água e não consegue ver que está sob risco, mesmo aquelas que sabem nadar", diz Szpilman.

A campanha, inclusive, recomenda que quem for nadar não beba nada: "Se beber, não nade".

"Já temos hoje uma cultura de não misturar álcool e direção, mas a associação álcool e lazer ainda existe. É algo que ainda se vê muito nos barcos, por exemplo. E vemos também diferenças de lugar para lugar. Onde tem mais turismo pode haver maior consumo de álcool, que faz parte da proposta de se divertir. Tende a ser diferente de cidades em que ir à praia já faz mais parte da rotina", exemplifica Szpilman.

Mais de 15 afogamentos fatais por dia no Brasil

A partir de dados do Ministério da Saúde, a Sobrasa estima que, em 2017, 5.692 pessoas morreram afogadas no Brasil, uma taxa de 2,7 por 100 mil habitantes (ao longo das décadas, os números absolutos e relativos de afogamentos fatais no Brasil têm diminuído). São cerca de 15 mortes por dia no país.

Os meses de novembro a fevereiro, portanto incluindo o verão, concentram 44% dos casos. Mais de 65% dos óbitos acontecem nos finais de semana e feriados, o que vai ao encontro da associação entre lazer, álcool e afogamentos.

As praias, no entanto, concentraram apenas 15% óbitos em 2017. A maior parte, 75% dos incidentes fatais, aconteceu em lugares de água doce. E é o Norte a região brasileira com o maior número relativo de casos (5,1 por 100 mil habitantes), seguido pelo Nordeste (3,1); Centro-Oeste (2,8); Sul (2,7); Sudeste (1,98).

Essa distribuição geográfica indica também que as mortes podem ocorrer não só em momentos de lazer, mas também em atividades rotineiras, como de trabalho e transporte.

"Possivelmente, o litoral tem uma segurança maior, por ter mais agentes capacitados supervisionando as pessoas", explica Szpilman.

"Cada ambiente aquático exige uma competência aquática diferente: não é só saber nadar, mas conhecer o ambiente que se está entrando. E o álcool afeta essa capacidade de avaliação, inclusive para quem sabe nadar", diz o diretor da Sobrasa. "Os rios, por exemplo, podem aparentar serem lugares tranquilos para mergulhar, mas além da correnteza, têm obstáculos como lodo, galhos, pedras e desníveis rápidos."

O psiquiatra Arthur Guerra, presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), aponta que uma dose já é capaz de levar a alterações psicológicas e fisiológicas na pessoa alcoolizada, por isso reforça a recomendação "se beber, não nade".

O site do CISA traz uma tabela relcionando níveis de concentração de álcool a certas alterações - com 0,01 a 0,05g de álcool por 100 ml de sangue, por exemplo, várias funções do sistema nervoso já passam por alterações, além de aumento do ritmo cardíaco e respiratório.

"Claro que há fatores que influenciam neste impacto do álcool, como se a pessoa se alimentou antes, seu peso, altura e etc", explicou à BBC News Brasil por telefone.

"O álcool inibe a censura, fazendo a pesoa se sentir mais confiante e eufórica; mas também deixa a pessoa mais lentificada, com menos relfexos. Imagine a cena onde uma pessoa está alcoolizada e enfrenta uma correnteza, ondas fortes. É como uma 'tempestade perfeita'."

Há ainda a preocupação com o efeito negativo do álcool na supervisão de crianças, um grupo de risco importantíssimo nos afogamentos.

No Brasil, a Sobrasa destaca que afogamentos são a principal causa de morte acidental de crianças com idades entre um e quatro anos, conforme mostrou a BBC News Brasil no ano passado.

"Fisiologicamente, o problema do afogamento é a aspiração de líquido que vai para o pulmão e atrapalha as trocas gasosas. Há uma baixa do oxigênio que pode levar a uma parada respiratória e depois cardíaca. Isso pode acontecer em um minuto e meio de afogamento, é um processo muito rápido", explica David Szpilman.

A OMS também destaca, no relatório Evitando Uma Das Maiores Causas de Morte, que quando uma pessoa começa a se afogar o "desfecho é quase sempre fatal". "Diferente de outros ferimentos, a sobrevivência (a um afogamento) é quase exclusivamente determinada na cena do incidente, e depende de dois fatores cruciais: quão rápido a pessoa é tirada da água e quão rapidamente o procedimento de ressuscitação adequado é feito."

Álcool como indicador fundamental

Normalmente, pesquisas que buscaram detalhar o papel do álcool nos afogamentos recorreram a atestados de óbitos, autópsias e, por vezes, inquéritos policiais. Costumam ficar de fora dados sobre afogamentos que não levaram à morte; aqueles intencionais, como suicídios e homicídios; e os que são resultado de enchentes ou transportes aquáticos.

Austrália, Canadá e Nova Zelândia têm as melhores bases de dados no mundo sobre afogamentos, e foi a partir destes países que foram publicados, em junho, resultados de uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto.

A partir de dados de janeiro de 2005 a dezembro de 2014, os autores do artigo publicado no periódico BMC Public Health relacionaram o álcool a 36% dos afogamentos fatais no Canadá; 25,8% na Austrália; e 16,4% na Nova Zelândia. Drogas em geral também foram dectectadas em 24% das mortes no Canadá; 27% na Austrália; e 2,2% na Nova Zelândia.

Afirmando que os afogamentos são "causas de mortes evitáveis e de grandes dimensões" no mundo, mas um tema ao qual se dedica pouca atenção, os autores desse estudo sugerem que os países recolham um conjunto de dados básicos sobre: idade, sexo, localização, atividade, data, causa primária da morte e envolvimento de álcool e drogas.

Também na Austrália, a redução de afogamentos fatais relacionados ao álcool e outras drogas foi considerada um dos pontos prioritários na Australian Water Safety Strategy, um plano nacional para aprimorar a segurança aquática no país.

O governo australiano também lançou a campanha Don't Let Your Mates Drink and Drown, algo que poderia ser traduzido como "Não deixe seus amigos beberem e se afogarem", direcionada a homens para que estes exerçam uma vigilância mútua.

Tanto na Austrália quanto no Brasil e no mundo, os homens têm mais propensão a se afogar do que as mulheres.

No Brasil, um estudo antigo, de 2000, chegou a verificar o presença de álcool em corpos de vítimas fatais por diversas causas na região metropolitana de São Paulo. Foi detectado álcool em 64% das vítimas de afogamento; 52% de homicídios; 32% de suicídios; e 50% de acidentes de trânsito.

Quais são as responsabilidades?

Para prevenir afogamentos, a OMS recomenda que os países aprimorem a regulamentação sobre a navegação e a segurança aquática.

Pelo mundo, autoridades adotam desde placas em balneários avisando para os riscos trazidos pelas bebidas alcóolicas (como as placas "Alcohol impairs judgement", algo como "O álcool prejudica a capacidade de julgamento") a seu banimento de praias - como é feito por autoridades locais na África do Sul e Nova Zelândia, por exemplo, onde a proibição não é necessariamente justificada apenas pela relação entre álcool e afogamentos, mas pelos riscos representados pelo álcool às pessoas e ao bem estar público em geral.

A BBC News Brasil pediu ao Ministério da Saúde dados sobre afogamentos e medidas da pasta relativas ao assunto, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

O Brasil já teve alguns projetos tramitando no Congresso sobre o tema, como um apresentado em 2017 que tentou firmar novembro como o Mês Nacional da Segurança Aquática e de Prevenção ao Afogamento - ele foi arquivado - e outro que tenta incluir no ensino básico treinamento para lidar com afogamentos.

De acordo com o advogado Bernardo Camara, mestre em processo civil e professor universitário em Minas Gerais, não há uma lei nacional que defina estritamente as obrigações de entes públicos pela prevenção a afogamentos em praias ou rios, por exemplo.

Muitas praias públicas movimentadas têm guarda-vidas trabalhando como uma prestação de serviço de segurança à população, como ocorre também com policiais, ele explica. A responsabilidade das autoridades em um eventual afogamento deve ser avaliada na Justiça.

"Já para um ente particular, como um condomínio, o dever de fiscalizar é mais evidente. A premissa maior da responsabilidade civil, determinada pelo Código Civil, exige uma comprovação de causalidade entre um dano e um ato ilícito, que pode vir da negligência, imperícia ou imprudência."

"Mas a Constituição também prevê que o município ordene questões de interesse local, então pode haver leis municipais que exijam condutas específicas como ter guarda-vidas em determinados lugares."

App Gazeta

Confira notícias no app, ouça a rádio, leia a edição digital e acesse outros recursos

Aplicativo na Google Play Aplicativo na App Store
Aplicativo na App Store

Tags

Relacionadas

X