Por causa do desastre ambiental com o óleo, que atingiu praias e estuários de rios de vários estados, em outubro, o governo de Pernambuco recomendou, nesta terça-feira (3), que a população evite o consumo, de forma temporária, de dois tipos de peixes: xaréu e sapuruna. O estado informou, ainda, que estão liberados camarão, marisco, sururu e ostra, além de outras 11 espécies de peixes.
Durante uma entrevista concedida na sede do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), no Recife, o governo pernambucano apresentou os primeiros resultados de análises feitas em 18 espécies de frutos do mar. Entre eles, estão 13 de peixes, dois de camarão, além dos três moluscos.
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O material faz parte de um lote enviado para avaliação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em novembro. Ao todo, 94 amostras de pescados seguiram para a instituição na capital fluminense (veja vídeo acima).
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, a primeira análise diz respeito a 55 amostras. Foram notificados níveis de toxicidade acima dos permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos dois tipos de peixes.
Os outros 11 tipos de peixes, bem como dois de camarão estão liberados para o consumo, sem ressalvas. É o mesmo caso da ostra, sururu e marisco, que podem ser comidos, de acordo com o governo.
Veja o que foi analisado:
Peixes
- Ariocó
- Boca torta
- Budião
- Carapeba
- Cavala
- Cioba
- Coró
- Manjuba
- Sapuruna
- Saramunete
- Serra
- Tainha
- Xaréu
- Camarão
- Camarão rosinha
- Camarão sete barbas
Outros
- Marisco
- Ostra
- Sururu
Segundo a professora do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Karine Magalhães, mesmo as espécies em que houve maiores níveis de substâncias tóxicas, o consumo não está proibido.
"Para cada colônia [de pescadores], pegamos três amostras, congelamos e enviamos partes ao laboratório, porque não precisa ir o peixe inteiro. Nos dois casos em que houve contaminação, os peixes estavam presos num curral onde havia muito óleo. Por isso, recomendamos não comer essas espécies até a próxima análise, que deve sair no meio de dezembro", afirmou a professora.
As análises foram feitas pelo laboratório da PUC-RJ, a partir de material coletado pela UFRPE, em parceria com as colônias de pescadores e com o IPA.
Karine Magalhães disse, ainda, que deverão ser feitas análises em todas as colônias de pescadores no estado. Ao todo, são 17 no litoral pernambucano.
"Essas espécies são as mais significativas para o estado. Fizemos uma triagem dos pescados mais consumidos e vendidos e, em contato com as comunidades, fomos validando essa listagem", declarou.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, Dilson Peixoto, o receio quanto à qualidade do pescado pernambucano tem afetado a economia e a vida dos pescadores artesanais. As análises, segundo ele, deverão ser divulgadas semanalmente para tranquilizar a população.
"A gente vive uma situação de instabilidade, mas a população tem deixado de comprar o nosso pescado. Temos condições de afirmar que estamos atestando a segurança do consumo de peixes, moluscos, salvo essas duas exceções", declarou.
Mais testes
Em 19 de novembro, o governo federal informou que análises encomendadas pelo Ministério da Agricultura mostraram que peixes, lagostas e camarões pescados no Nordeste eram seguros para o consumo, já que apresentam níveis baixos da substância que poderia ser considerada um indicativo de contaminação por petróleo.
Os testes foram feitos a pedido do ministério pelo Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM) da PUC-RJ.
Protesto
Horas antes de o governo anunciar os resultados das primeiras análises de amostras de frutos do mar, pescadores de diversas colônias no estado participaram de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Centro do Recife.
No encontro, eles cobraram respostas do governo estadual sobre o auxílio para os profissionais que foram afetados pelo derramamento de óleo no litoral e sobre a liberação da pesca e venda de frutos do mar.
Praias
Em novembro, o governo pernambucano anunciou que 16 praias atingidas pelas manchas de óleo estavam liberadas para o banho. As amostras foram analisadas pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), em parceria com outras instituições.
De acordo com o documento, foram feitos testes para detectar a presença de hidrocarbonetos, componentes do petróleo, e de substâncias como benzeno, tolueno, etilobenzeno e xileno.
O relatório informou que não foram constatados compostos orgânicos encontrados no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde.
Óleo em Pernambuco
Durante as ações de limpeza de óleo nas praias de Pernambuco, o governo informou que, entre os dias 17 e 31 de outubro, foram recolhidas 1.561 toneladas de substância no litoral. Ao todo, segundo o governo, foram atingidas 47 praias e oito rios de todo o estado.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 66 pessoas que tiveram contato com o óleo apresentaram problemas de intoxicação.