Compras de couro brasileiro foram suspensas pela dona de marcas, como Timberland, Kipling e Vans. A medida pegou o setor de surpresa e foi confirmada na última quarta-feira (28).
A VF Corporation alegou não ter como assegurar que o material não prejudique o meio ambiente no país. A associação dos curtumes rebateu, dizendo que as fabricantes de couro têm certificação nacional e internacional.
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Quase todo o couro produzido no Brasil é vendido para o exterior. De 110 curtumes que exportam, segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), 65 fazem parte do Leather Working Group (LWG), um selo voltado a boas práticas ambientais.
Criado em 2005, no Reino Unido, ele reúne 450 empresas de 42 países. Entre elas estão Nike, Adidas, Ikea, Michael Kors e a própria Timberland.
O LWG fiscaliza questões como o controle da emissão de gases das fábricas, se a empresa pode garantir a origem dos animais comprados para a produção de couro (rastreabilidade) e como é feito o descarte de produtos químicos utilizados na fábrica, entre outros critérios.
O Leather Working Group é claro em seu regulamento que, para obter a certificação, as propriedades localizadas no bioma Amazônia não podem estar ligadas ao desmatamento.
O CICB diz que o selo é uma exigência dos compradores internacionais na hora de fechar contrato. E estima que 70% do couro exportado do Brasil tenha a certificação.
A VF, que tem 20 marcas de vestuário e calçados voltados a atividades ao ar livre, é cofundadora do Leather Working Group e cita a certificação entre os requisitos previstos em sua política para materiais derivados de animais, enviada ao G1.
Além disso, no site da empresa, a VF afirma que a Timberland se comprometeu a adquirir até 2021 somente couro de fábricas com classificação LWG ouro e prata (as mais altas) e que pretende expandir essa política para as outras marcas da empresa.
Seguindo apenas este critério, o Brasil teria 63 empresas habilitadas para vender o produto.
O que diz a VF
Em resposta ao G1 na sexta-feira (30), a VF disse que a suspensão foi decidida após uma reavaliação dos fornecedores da marca. A empresa não respondeu se os incêndios na região amazônica teriam motivado a interrupção do fornecimento.
A VF disse que menos de 5% do couro comprado por ela vem do Brasil.
Na quarta-feira (28), a empresa havia dito que não era possível "assegurar satisfatoriamente" que os "volumes mínimos" comprados de couro brasileiro estariam de acordo os requisitos de abastecimento responsável da companhia.
O CICB, associação de produtores do Brasil, chegou a associar a suspensão às notícias sobre as recentes queimadas na Amazônia. Já a VF disse apenas que a decisão foi tomada de forma cuidadosa e é parte de um longo processo. E que a cadeia de fornecedores de couro vem sendo revista desde 2017.
O presidente do CICB, José Fernando Bello, já havia dito que a empresa não adquiria grandes volumes, mas afirmou que "vender para uma marca famosa ajuda a vender para outras".