Com apenas 20 anos, Lil Nas X conseguiu o inimaginável: se tornou mais popular que "Despacito".
Seu rap rural "Old town road" completou nesta segunda-feira (29) 17 semanas no topo da parada da "Billboard" americana, deixando para trás o megahit de Luis Fonsi e "One sweet day", de Mariah Carey.
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Mas ele não teria chegado lá sem os US$ 30 que gastou no mercado de venda online de beats, os sons que dão ritmo às músicas. O segmento cresce a muitas batidas por minuto, mas não é unanimidade entre produtores - especialmente no Brasil, onde funciona de modo bem mais informal.
O site americano BeatStars, onde Lil Nas comprou o beat de "Old town road" de um holandês de 19 anos, divulgou em junho que já pagou mais de US$ 50 milhões a músicos desde a fundação, em 2008. Foram US$ 20 milhões só no ano passado.
A plataforma, a maior do mercado, tem cerca de 340 mil vendedores ativos e hospeda mais de 1,5 milhão de faixas. Além de "Old town road", músicas como "Selfish" (Future e Rihanna) e "Kooda" (6ix9ine) tiveram algumas de suas batidas encontradas por lá.
Mas LR Beats, produtor brasileiro que vende suas criações pela internet, diz que o principal nicho do mercado é o de artistas iniciantes. "Quem é consolidado já tem seu próprio produtor. O que esses sites fazem é facilitar o contato dos novos artistas com os beatmakers".
Ele explica que, para os produtores, o serviço é tentador porque oferece retorno financeiro rápido.
"[Na parceria comum com artistas] muitas vezes, você tem que esperar a música sair para receber. Com a venda direta, dá para ter dinheiro na mão no mesmo dia."
Por causa disso, é possível encontrar à venda sons criados por produtores de primeiro escalão - como Johnny Juliano, que já trabalhou com Drake, e Nick Mira, ex-colaborador de XXXTentacion.
E os direitos autorais?
Sites como o BeatStars permitem que um artista e um produtor lancem músicas em parceria sem nunca terem entrado juntos em um estúdio.
Foi assim com Lil Nas e YoungKio, que criou a batida de "Old town road" sampleando o instrumental de "34 Ghosts IV", do Nine Inch Nails (ouça a referência abaixo)
Mas a relação não se encerra após a venda do beat - ou, pelo menos, não deveria.
Ao comprar um som na plataforma americana, é possível escolher entre vários tipos de licença, desde a que só dá direito a "brincar" com o beat, sem ganhar dinheiro com ele, até a que permite performances ao vivo, produção de clipes e reprodução ilimitada em rádios e internet.
O preço varia a depender da quantidade de benefícios. A maior parte das licenças mais simples custam entre US$ 15 e US$ 30.
Para todos os tipos, a negociação só é concluída após a assinatura digital de um contrato que define os termos para pagamento de direitos autorais.
Pelo documento, o comprador é obrigado a prestar contas e repassar ao produtor uma parcela do lucro da música (ou de qualquer outra obra) criada com a batida.
Funciona no Brasil?
No Brasil, o mercado tem mais "perrengues", diz WCnoBeat, que vendeu sons pela internet antes de virar parceiro de Karol Conka, Djonga, MC Cabelinho e outros.
A vitrine para produtores do país costuma ser o SoundCloud, uma espécie de Instagram da música, onde eles publicam suas criações com os respectivos preços e deixam os contatos para venda.
Como muitas das negociações são feitas sem contrato definido, beatmakers reclamam de calote dos direitos autorais. "Nunca vi a maior parte dos meus direitos. É quase impossível achar formas de receber depois da música pronta", diz WC. Ele acrescenta:
"Quando decidi parar de vender e me valorizar, aconteceu tudo da forma certa. Todo mundo começou a me ver."
O produtor lembra já ter vendido beats online a R$ 50. Hoje, uma produção sua custa mais de R$ 10 mil. Para ele, falta no país uma plataforma que estabeleça regras mais claras para os acordos.
Já LR defende que, apesar dos problemas, o método de lojas digitais como o BeatStars ajudou beatmakers a "entenderem seu lugar na indústria". "Hoje o beatmaker tem protagonismo. Ele sabe que pode ter a mesma importância do artista."