
Na infância, Giovanna Bichels nunca pensava em ser modelo. Tudo mudou aos 13 anos, quando ela ainda era atleta de nado artístico. Na época, ouvia comentários e sugestões de pessoas que a abordavam na rua sugerindo a profissão. Sem muitos conhecimentos sobre a indústria da moda, a mãe dela decidiu buscar informações na internet e foi atrás da mesma agência que cuidava da carreira de Gisele Bündchen. Mal sabia ela que, além das iniciais dos nomes e a origem germânica de seus sobrenomes, as duas também compartilhariam muitas semelhanças e uma parceria profissional que poucos sabem.
Com 15 anos de idade, Bichels entrou para uma agência e foi 3º lugar em um concurso de modelos com concorrentes de todo o Brasil. O sucesso a levou para São Paulo, um dos polos da área. Só que na época o São Paulo Fashion Week, principal semana de moda do Brasil, impunha uma idade mínima de 16 anos para que jovens talentos pudessem participar.
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Foi quando seus agentes bolaram uma estratégia: lançá-la como modelo de prova, a fim de que estabelecesse conexões no mercado para, no futuro, marcar presença em desfiles.
"Nossa ideia era fazer com que as marcas, stylists e produtores ficassem familiarizados comigo", explica, em entrevista a Marie Claire. Em pouco tempo, ela chamou a atenção de Daniel Ueda, stylist conhecido por sua parceria de longa data com Gisele Bündchen. "Fiz prova para muitas marcas, coleções e desfiles, mas ela foi a única pessoa para quem eu fiz esse trabalho", conta.
O que é uma modelo de prova?
Uma modelo de prova experimenta as peças e as combinações de uma campanha publicitária para que a modelo principal não gaste tanto tempo nesse processo. Em uma indústria em que tempo é dinheiro, as marcas precisam de agilidade para que o tempo de uma grande modelo no set seja o menor possível.
"É imprescindível para o trabalho acontecer. Todo mundo está no estúdio para isso. Se tivesse essa perda de tempo para aprovar o look, cabelo, maquiagem e luz, não daria para fazer o trabalho em uma diária. Essa preparação era muito grande."
Giovanna Bichels não era a única modelo usada em uma campanha estrelada por Gisele Bündchen. Também eram contratadas uma profissional para testar a maquiagem, outra para posar enquanto é feito o teste das luzes, uma dublê para gravar detalhes, como mãos e pés. "Tem toda uma preparação para ficar tudo redondinho e fluir de forma mais tranquila", defende.
Sabendo como é a correria em um set para campanhas, os profissionais costumam realizar esses testes dias antes da diária de gravação oficial. Em um dia, ela já provou 100 looks, mas nunca chegou a conhecer Bündchen.
"Já provei 100 looks para ela aprovar um. Tenho certeza que ela já viu o meu rostinho, por conta das fotos que tiravam para ela ver. Capaz de me reconhecer se me vir na rua um dia (risos)".
Quanto ganha uma modelo de prova?
De início, ela diz que ganhava R$ 800 por diária. Com o passar dos anos, a remuneração chegou a R$ 1.500, já que se tornou conhecida na área. Bichels diz ter dado uma pausa por ter escolhido sair de sua antiga agência para focar na internet após a pandemia, e entende que seu corpo mudou bastante depois de ter tido duas filhas. "É importante ter medidas muito iguais e as minhas já não estavam funcionando."
A modelo também diz que esse "lado b" da profissão costuma ser alvo de preconceito, visto que as profissionais precisam fazer o trabalho duro para outra pessoa estrelar. "É estranho, você fica o dia inteiro provando 100 looks e ninguém sabe que você existe. Sempre achei legal, porque você está ali inserida no meio, e conheci muitas pessoas incríveis por conta disso, incluindo os melhores stylists e maquiadores do Brasil. Gostava muito de fazer e ouvia diversas histórias [de bastidores] também."
Ao pensar nas campanhas mais memoráveis que fez como modelo de prova para Gisele, ela cita projetos para a Sky, o banco C6 e a marca de beleza O Boticário. Na primeira, ficou encantada com as 20 araras só com looks vermelhos para experimentar. A segunda foi para onde vez mais trabalhos, e a terceira ficou marcada pela propaganda de um novo batom, que gerou uma grande discussão na época, visto que a übermodel viria a usar uma cor bem diferente do que estava acostumada e as modelos precisaram experimentar bastante para ter certeza de que valia a pena fugir do clássico.
Giovanna Bichels, Gisele Bündchen e o sonho do possível encontro entre modelos
Giovanna Bichels, por fim, reforça seu sonho de conhecê-la pessoalmente um dia. "Ela é um ícone, é o que todas as modelos gostariam de ser. Não tem ninguém acima que tenha feito coisas tão grandes. Tem outras maravilhosas, mas a Gisele é a Gisele, todo mundo sabe", enaltece.
E enfatiza: "É uma inspiração para mim e para todo mundo na moda, eu acredito. Abriu portas para a gente no mundo inteiro. Por mais que eu não seja tão grande quanto ela, tem esse prestígio de falar que somos do mesmo lugar. Acho até glamoroso poder falar que minhas medidas são iguais a dela". E brinca: "Sou uma versão um pouquinho mais barata de ser contratada".
Ela já até sabe sobre o que conversaria com Bündchen. "Hoje que sou mãe, falaria sobre filhos, porque quando a gente vira mãe, só fala sobre isso (risos). Mas perguntaria também como que era para ela receber essas fotos, com tantos looks. Como tomava essa decisão?", reflete.