
Como já cantava Chico Buarque na canção Carioca: “Gostosa/Quentinha/Tapioca...”, quem é que não gosta de uma tapioca quentinha?!
Frequentemente citada como um dos pratos mais representativos da culinária brasileira, a tapioca remonta aos povos indígenas da região amazônica, ela é símbolo da diversidade cultural do nosso país, reunindo influências indígenas, africanas e europeias em uma única iguaria.
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A palavra "tapioca" tem suas raízes no tupi-guarani, uma das principais famílias linguísticas indígenas do Brasil. Acredita-se que "tapioca" venha de “tïpï'og”, que significa "sedimento, coágulo", uma referência ao produto decorrente da fécula ou ao prato propriamente dito.
A macaxeira, como se diz no Nordeste, ou aipim/mandioca para outras regiões do Brasil, era uma cultura vital para os povos indígenas amazônicos devido à sua capacidade de crescer em solos pobres e sua adaptabilidade a diferentes condições climáticas. Eles desenvolveram métodos sofisticados para processá-la e transformá-la em uma variedade de alimentos, incluindo a tapioca.
O processo tradicional de fazer tapioca envolve moer a raiz de macaxeira em uma massa, que é então peneirada para extrair o líquido. Esse líquido é deixado em repouso para que o amido se deposite no fundo, formando uma camada sólida. Essa camada é então peneirada e secada, resultando em grânulos que são posteriormente peneirados para produzir a tapioca que conhecemos hoje.
Lembrando que a tapioca não pode ser confundida com um de seus produtos finais, uma vez que decorrente de todo esse processo de produção pode surgir a goma de tapioca, a tapioca flocada e a tapioca granulada e, como produto da goma, temos a tapioca propriamente dita.
Ao longo do tempo, a goma da tapioca, de maior popularidade, tornou-se um alimento básico em muitas partes do Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Ela era e ainda é consumida de várias formas: como uma panqueca simples, recheada com uma variedade de ingredientes doces ou salgados, ou até mesmo como uma sobremesa.
Com o passar dos séculos, a tapioca também se espalhou para outras regiões do Brasil e ganhou reconhecimento em todo o mundo. Hoje, é comumente encontrada em cafeterias, restaurantes e supermercados, e sua versatilidade na culinária a tornou um ingrediente valioso em uma variedade de pratos.
Além da presença no dia a dia e de forma mais cotidiana, substituindo o pão para muitos brasileiros, a tapioca chegou à alta gastronomia moderna, sendo muito utilizada por Chefs de cozinha em restaurantes.
Portanto, a tapioca – um dos símbolos da rica diversidade culinária do Brasil, representatividade de conexão com as tradições ancestrais dos povos indígenas, perpassou séculos e séculos da cultura brasileira, veio para as praias e sertões do Nordeste, se popularizou por diversas regiões do Brasil e atualmente é utilizada na alta gastronomia brasileira.
Um viva ao Brasil, um viva aos indígenas, um viva à tapioca, aliás, “tïpï'og”!
Referências bibliográficas:
ANDRADE, Soraya Souza de et al. Põe tapioca, põe farinha d’água?: gastronomia do açaí e identidade socioespacial e cultural na Grande Belém. 2014.
DE OLIVEIRA LIMA, Charllys et al. Ginga com tapioca: gastronomia do mercado da Redinha como atrativo turístico. Revista de Turismo Contemporâneo, v. 4, n. 1, 2016.
DE OLIVEIRA TOSCANO, Frederico. Alimentação e cultura: caminhos para o estudo da Gastronomia.
Siqueira, Amanda de Morais Oliveira Siqueira, (DN) -. Tapioca: tradição da raiz ao paladar - Editora Micélio: Recife, 2021. ISBN 978-655-992907-1-8.
Luiza Fernandes
Pós-graduanda em Nutrição e Gastronomia: Integrando Saúde e Cozinha (SENAC/SP)
Chef Executiva do restaurante saudável Aya de Comer
@luizasouzac / @ayadecomer
*Os artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores, não representando, necessariamente, a opinião da Organização Arnon de Mello.