Uma amiga da família do adolescente João Pedro Mattos Pinto postou uma mensagem nas redes sociais do governador Wilson Witzel denunciando que os policiais levaram os celulares do garoto e dos outros meninos que estavam com ele. João foi morto dentro de casa, durante uma operação das polícias Federal e Civil, no Complexo do Salgueiro, RJ, na segunda-feira (18).
"Pra que? Já iniciaram uma investigação entre eles ou estão começando ali mesmo a destruição de provas concretas de um assassino? O sr. é pai de filho negro e favelado?", diz a mensagem.
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A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, que investiga o caso, confirmou a apreensão de dois aparelhos e diz que eles vão passar por perícia.
Nesta quinta-feira (21), devem prestar depoimento outros policiais que estavam no helicóptero que resgatou João em São Gonçalo e o levaram até o heliponto que fica na Lagoa, na Zona Sul do Rio, onde a morte dele foi atestada por um médico do Corpo de Bombeiros.
De onde partiu o tiro?
A polícia também quer descobrir de qual arma partiu o tiro que matou João Pedro, de 14 anos. Um projétil de fuzil foi encontrado. Com isso, será possível fazer o confronto balístico, que compara o projétil achado com as armas usadas durante a operação.
O tiro que matou o adolescente entrou pela altura do estômago, na barriga, e ficou alojado na escápula - osso no alto das costas, perto do ombro. As informações da perícia preliminar foram obtidas com exclusividade pelo RJ2.
Três fuzis e uma pistola dos policiais envolvidos na ação estão apreendidas. Segundo os peritos, o disparo foi "alta energia cinética" - possivelmente um tiro de fuzil.
Os investigados descartaram qualquer relação da família do menino com criminosos que fugiam dos policiais no momento em que João foi baleado.
"Segundo relato dos policiais civis que estavam no confronto, esses criminosos nada tinham a ver com essas pessoas que estavam no interior da residência, esses jovens. Foram criminosos que ingressaram na casa para fugir do cerco policial (...)", detalhou o delegado Allan Duarte.
Corregedoria apura ação
Além do inquérito aberto na Divisão de Homicídios, a Corregedoria da Polícia Civil também instaurou um procedimento para apurar a conduta dos policiais envolvidos na ação.
Um dos pontos que investigação tentará responder é em relação ao socorro de João Pedro. Os investigadores querem entender a escolha feita pela equipe do Saer (Serviço Aeropolicial) de levar o menino para ser socorrido no contêiner do Corpo de Bombeiros, que fica na sede da unidade, na Lagoa.
Perto do local da operação, no Colubandê, em São Gonçalo, fica o Hospital Estadual Alberto Torres, uma das referências para atendimento de baleados no Rio de Janeiro.
Na DH, os policiais foram perguntados sobre essa opção de levar João Pedro para a Lagoa. Eles explicaram que acionaram o corpo médico dos bombeiros, que se prepararam para o pronto-atendimento e que "foi uma decisão de momento".
O RJ2 entrou em contato com a Secretaria de Saúde para saber se houve algum contato com o hospital, na tarde de domingo, para saber da disponibilidade do heliponto para receber o menino baleado. A assessoria informou que a unidade tem heliponto, mas não houve contato algum da polícia pedindo para usá-lo e atender o menino na unidade.
Casa tem 70 buracos de balas
Líderes comunitários e vizinhos que estiveram na casa onde João foi atingido contaram pelo menos 70 buracos de tiros. Encurralados, jovens que estavam no imóvel se jogaram no chão para se proteger, mas o menino acabou atingido na barriga.
Um dos jovens que estava na casa com João Pedro disse na terça-feira (19) que eles estavam brincando quando começou o tiroteio. Segundo ele, o grupo jogava sinuca quando ouviram um helicóptero voando em volta da casa.
"Aí, eles começaram a dar tiro em direção ao morro. A gente entrou correndo pra dentro de casa e ficou lá. Aí, todo mundo deitou no chão. Aí, depois, o primo de Duda viu, Matheus viu os policiais entrando e se agachando ali no deck da piscina. A gente foi, deitou no chão, levantou a mão. Matheus começou a gritar que só tinha criança", detalhou o jovem.
Família acusa policiais de chegarem atirando
Familiares de João Pedro e testemunhas contaram que policiais chegaram atirando na casa onde João e amigos estavam, na Praia da Luz, em Itaoca.
Parentes passaram a noite procurando o adolescente em hospitais e só acharam o corpo 17 horas depois, no Instituto Médico-Legal do Tribobó.
A operação conjunta buscava prender o traficante Ricardo Severo, conhecido como Faustão. No fim, ninguém foi preso. Segundo os agentes, bandidos reagiram com tiros e granadas.