O repórteres Bernardo Menezes e Marcelo Gomes, da GloboNews, ouviram nesta sexta-feira (7), com exclusividade, dois estudantes que testemunharam o tiroteio que matou a adolescente Maria Eduarda, de 13 anos, em uma escola pública de Acari, na Zona Norte do Rio. Um deles diz que ouviu tiros indo apenas em direção à escola, de policiais que estavam do outro de um valão.
O adolescente, que é amigo de infância de Maria Eduarda, contou que, por vivenciar muitos tiroteios desde criança, sabe diferenciar pelo som de onde partem os tiros.
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Outro jovem diz que havia cinco PMs fardados e dois outros homens sem farda do outro lado do valão. De acordo com o relato, eles estavam em três carros: uma viatura da PM e outros dois veículos descaracterizados: um Siena, parado, e um Fox, circulando. A testemunha diz ainda que viu um deles, alto e careca, atirando, de trás de um poste.
Ainda de acordo com o jovem, Maria Eduarda corria para perto do portão da escola quando começaram os tiros. "Ela foi abraçar um colega que estava no portão, mas quando ela chegou no meio, começou o tiroteio (...) Ela foi correr e quando ela passou do portão interno, ela foi atingida."
Questionada pela equipe de reportagem, a assessoria de imprensa da PM esclareceu que a investigação do caso está com a Divisão de Homicídio.
Laudo: um tiro saiu de cabo da PM
O laudo final do confronto balístico entre as armas dos policiais militares e suspeitos envolvidos no confronto em Acari já está na Divisão de Homicídios. A GloboNews apurou que o projétil retirado da coxa de Maria Eduarda foi disparado pela arma que estava com o cabo Fábio de Barros Dias.
Os quatro fragmentos retirados da cabeça da menina, que causaram sua morte, não puderam ser identificados porque eram muito pequenos.
A arma é um fuzil belga modelo fal, calibre 7.62, numeração 123764. O laudo foi finalizado nesta sexta-feira. Foram examinados dois fuzis dos PMs e um AK-47 que estava com um suspeito morto.
PMs indiciados por homicídio doloso
O cabo Fábio de Barros Dias, de 37 anos, e o sargento David Gomes Centeno, de 38 anos, foram presos indiciados por homicídio doloso, com intenção de matar, pela execução de dois criminosos em Acari, na Zona Norte do Rio. Moradores filmaram o momento em que eles aparecem atirando em dois homens caídos e desarmados. Eles alegaram que se sentiam ameaçados. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público estadual.
Laudo elaborado pela perícia da Polícia Civil mostra que o local onde estavam os corpos de dois criminosos e da menina Maria Eduarda da Conceição não foi preservado. A Delegacia de Homicídios dividiu a investigação: há um inquérito que trata da morte dos criminosos Alexandre dos Santos Albuquerque, de 38 anos, e de Julio Cesar Ferreira de Jesus, de 33 anos, foi filmada em vídeo divulgado nas redes sociais; e uma outra investigação que trata apenas da morte da estudante.
O caso da dupla de traficantes do Morro da Pedreira foi encaminhado pelo delegado Bruno Carnevalle ao Ministério Público. Já a investigação sobre a morte de Maria Eduarda ainda está em apuração. A investigação da execução começou após a divulgação de um vídeo que mostra os dois policiais retirando as armas dos bandidos feridos, no chão. Em seguida, sem risco aparente, eles atiram nos homens caídos e matam.
Os PMs foram presos em flagrante no dia 31 após prestarem depoimento na Divisão de Homicídios e continuam presos. Nesta sexta, eles foram ouvidos novamente. Na semana passada, o Ministério Público do Rio anunciou que acompanhava 16 inquéritos em que esses policiais são investigados por autos de resistência.
São 11 inquéritos em nome do cabo Fábio e cinco em nome de Centeno. A polícia agora segue nas investigações sobre a morte Maria Eduarda. A reconstituição do caso e novos depoimentos dos PMs estão previsto para a semana que vem.
Na quinta-feira (30), ao chegarem ao local, de acordo com o laudo da perícia, os corpos dos traficantes Alexandre e Julio Cesar estava cercado por moradores que receberam os policiais da DH com fogos de artifício e atirando garrafas. Próximo ao local onde a dupla estava caída há uma boca-de-fumo.
Ao entrar na Escola Municipal Escritor Daniel Piza, os policiais encontraram o corpo de Maria Eduarda. O documento que consta do inquérito explica que o cadáver da adolescente teve a posição modificada. Não explicando como isso teria se dado.
No laudo, é possível ver uma linha laranja que demarca a provável posição dos atiradores, num trecho da avenida Prefeito Sá lessa, a cerca de 80 metros da escola.