Em depoimento na CPI das Fake News, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) afirmou, nesta quarta-feira (30), que o ex-aliado, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), saiu em defesa de Fabrício Queiroz, no começo do ano, depois que o parlamentar foi à tribuna da Câmara para pedir a prisão do ex-assessor de um dos filhos do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
O deputado disse ter recebido uma ligação de Bolsonaro, mas a data não foi especificada pelo deputado. Ainda de acordo com Frota, no dia da ligação, o líder do PT, Paulo Pimenta (RS), teria feito uma provocação aos correligionários do presidente.
Leia também
"Ele apontou para o meio do grupo do PSL e perguntou quem, depois de todas as notícias [do caso Queiroz], vai subir [à tribuna] e pedir a prisão do Queiroz", relatou o tucano. "Como faixa branca", isto é, parlamentar novato e em começo de mandato, "eu subi e pedi a prisão do Queiroz". Na sequência, o telefone tocou. "Era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria, no plenário, pedido a prisão do Queiroz".
Frota também afirmou que foi abordado por Flávio Bolsonaro no Congresso e ouviu do senador a seguinte frase: "Papai ficou chateado com você". O deputado foi expulso do PSL após ter entrado em rota de colisão com o presidente.
Depois, filiou-se ao PSDB a convite do governador de SP, João Doria. Na visão de Frota, o caso Queiroz ajudou a "desestruturar a base do governo" por ter ocorrido logo no começo da legislatura, meses após o resultado das urnas. Na ocasião, o PSL de Bolsonaro havia despontado com o discurso anticorrupção e antipetista.
"Nós fizemos uma campanha falando que era [o partido] mais ilibado, mais sério, contra a corrupção. E, na primeira semana de legislatura, acontece o caso Queiroz. Com certeza isso perturbou o andamento das nossas estratégias."
Ainda em depoimento, o parlamentar afirmou que só ele sabe "tudo o que vi, ouvi e vivi". Ele denunciou que "o Palácio do Planalto virou um porto seguro de terroristas digitais", cuja atuação, segundo Frota, é articulada via assessores parlamentares "credenciados e remunerados".
Ele afirmou estar fazendo uma investigação sobre essa rede e levou, inclusive, fotografias de "três assessores que estão no gabinete do presidente Bolsonaro contratados" para disseminar informações falsas. Segundo Frota, eles são gerenciados "obviamente por Carlos Bolsonaro".
"Carlos Bolsonaro coordena direto do Rio de Janeiro as milícias virtuais, realizando reuniões, disparando via WhatsApp seus comandos", disse o deputado.
Durante a sessão, que durou cerca de quatro horas, o deputado afirmou diversas vezes que a divulgação de informações falsas nas redes sociais, bem como os linchamentos públicos promovidos "tanto pela oposição quanto pelo governo", "atrapalha muito a nossa democracia".
A próxima audiência marcada é com Allan dos Santos, jornalista do Terça Livre, no dia 5.