Mesmo após as reações negativas de políticos, partidos e entidades, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, voltou a falar sobre o Ato Institucional 5 (AI-5) em um vídeo divulgado na tarde desta quinta-feira (31) em uma rede social.
Mais cedo, nesta quinta, foi publicado no canal do YouTube da jornalista Leda Nagle um vídeo de uma entrevista de Eduardo na qual ele diz que, se a esquerda "radicalizar" no Brasil, a resposta pode ser "via um novo AI-5".
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O Ato Institucional 5 foi assinado em 1968, no regime militar, e é considerado uma das principais medidas de repressão da ditadura. Entre as consequências do AI-5 estão o fechamento do Congresso Nacional, a retirada de direitos e garantias constitucionais, com a perseguição a jornalistas e a militantes contrários ao regime.
Pouco antes de Eduardo divulgar o vídeo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "quem quer que fale de AI-5 está sonhando", acrescentando: "Se ele falou isso, lamento".
O vídeo mostra imagens das manifestações das últimas semanas contra o governo no Chile. "O que a esquerda está chamando de protestos [no Chile] e querendo trazer para o Brasil, que na verdade a gente sabe que são vandalismos, depredações, e chega sim a ser terrorismo, porque eles querem fazer uma instabilidade política para tirar do poder um presidente que não é de esquerda. Isso tudo está perigando vir para o Brasil", afirmou Eduardo no vídeo.
Segundo ele, por esse motivo, "vale lembrar o que ocorreu no Brasil no final dos anos 60, início dos anos 70". E em seguida, passa a falar ações de grupos de luta armadas, como sequestros e execuções.
Ainda no vídeo, Eduardo Bolsonaro citou um livro escrito pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pela Justiça de São Paulo como torturador. "Quem leu o livro vai ver nome e sobrenome e datas de todos esses atentados terroristas", afirmou.
Ao final, o vídeo de Eduardo Bolsonaro volta a exibir imagens das manifestações no Chile e das consequências dos protestos, como a paralisação do sistema de transporte e suspensão de aulas nas escolas. "Essa é a cara da esquerda, e nós não permitiremos isso."
Repercussão
A fala de Eduardo sobre a possível adoção de um ato como o AI-5 gerou forte repercussão no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal.
O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), chegou a dizer que a fala de Eduardo é "absurda" e "inaceitável". Além disso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que declarações como as de Eduardo são "repugnantes" e passíveis de punição.
À colunista do G1 Andréia Sadi, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse que há uma "tentativa de esgarçamento da democracia".
Eduardo Bolsonaro é presidente do diretório de São Pulo, e a cúpula nacional do partido divulgou uma nota na qual afirmou repudiar "integralmente qualquer manifestação antidemocrática que, de alguma forma, considere a reedição de atos autoritários".
Integrantes de partidos de oposição na Câmara já anunciaram que pedirão a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro.