Enquanto não podemos dizimar essa saudade de aglomerar, artistas de todo o planeta se desdobram para reinventar o lugar em que compartilham seus trabalhos e, ainda, reinventar o modus operandi de produzir shows de maneira financeiramente sustentável. Nesse contexto, alguns festivais brasileiros parecem ter encontrado um ponto de equilíbrio para aguardar a pandemia do novo coronavírus passar: a solução foi juntar as festas.
E assim surge o ?Devassa Tropical Ao Vivo - O Festival dos Festivais?, que une 8 dos principais festivais tropicais do Brasil, com uma programação de 4 dias e 34 atrações. De Alagoas, o Festival Carambola, que ocorreria no final de março passado, leva nomes de peso ao palco virtual: Zeca Baleiro, Wado, Mopho, Ana Cañas e Chico César. Esse timaço se apresenta neste sábado (2), a partir das 17h, no canal oficial da cerveja Devassa no YouTube.
Leia também
A iniciativa visa auxiliar a cadeia de profissionais da cena musical independente, diretamente impactada pela pandemia, com inúmeros cancelamentos e adiamentos de shows pelo Brasil. O projeto reúne, além do Carambola, os seguintes festivais: Bananada (GO), DoSol (RN), GTR (PE), Radioca (BA), Sarará (MG), Se Rasgum (PA) e Wehoo (PE).
A programação de quatro dias começou no dia 30 de abril e vai até o dia 3 de maio, com nomes como Tulipa Ruiz, Heavy Baile, Mallu Magalhães, Lia de Itamaracá + Dj Dolores, Rael e Jards Macalé. Todos os shows serão apresentados pelo DJ, radiomaker e diretor artístico Patrick Tor4, que conversa ao vivo com os artistas do line up e com o público.
Para a organizadora do Festival Carambola, Lili Buarque, o Devassa Tropical Ao Vivo é um momento único para a classe artística a nível nacional. ?Devassa é parceira de todos os festivais envolvidos nessa ação e viabilizar uma forma de seguir apoiando músicos, técnicos e produtores que estão sem trabalhar nesse momento foi algo muito nobre.?
O AMOR É UM ATO REVOLUCIONÁRIO
Uma das grandes atrações do festival dos festivais é a participação do paraibano Chico César, que representa Alagoas e o Festival Carambola. Com verdadeiros hinos ao amor no repertório, como ?Pensar em você? e ?À primeira vista?, o cantor e compositor também deve explorar seu álbum mais recente, o contundente ?O amor é um ato revolucionário?, lançado no fim do ano passado.
Chico, que é formado em jornalismo e começou a compor enquanto trabalhava como repórter em São Paulo, decidiu transformar em poesia, música e provocações as suas vivências político-sociais. Nas 13 faixas do seu último disco, foi o Brasil levado a flertar com o ódio que recebeu a atenção do artista. A resposta veio em versos como ?O amor é um ato revolucionário / Por estados e religiões temido / Quem pelo amor é pertencido / A si governa e só a ele é confessado?.
Aos 56 anos e mais engajado do que nunca, inclusive nas redes sociais, o cantor e compositor participou de uma conversa descontraída sobre sua participação no festival e prometeu que, passada a quarentena, fará mais um show em Alagoas.
Gazeta de Alagoas - Poético e político. Podemos definir seu trabalho dessa forma? Como você enxerga sua arte após tantos anos de carreira?
Chico César - Todo trabalho é poético e político, mesmo trabalhos não artísticos. Não esqueçamos os coveiros de Shakespeare: ser ou não ser... Tupi or not tupi... Enxergo em movimento meu trabalho, como a vida. No gerúndio, sendo.
Chico, sua parceria com Agnes Nunes é uma das coisas mais bonitas que ouvi em 2019. Como vocês se conheceram? Qual a história por trás da música que vocês cantam?
Eu a conheci ainda quando ela tinha 16 anos, no Instagram de Exu do Blues. Aí a procurei. Depois só fomos nos conhecer pessoalmente no dia da gravação da música, que fiz quando li o relato de uma amiga artista que sofreu assédio de colegas por estar sem sutiã.
Como você enxerga a nova leva de artistas no país? O que você mais gosta neles? Quem tem acompanhado?
É bem sortido, né. Gosto dos menos fofos, dos que trazem estranheza e não buscam agradar edulcoradamente nem apenas pelo lugar de fala. Avoada, de Pernambuco, e Quadrilha, da Paraíba, são dois coletivos de artistas que me chamaram a atenção recentemente.
Para você, o que é uma música tropical? O que podemos esperar de um festival dos festivais tropicais?
Música feita nos trópicos, né. Podemos esperar de tudo. Os trópicos são ricos e inspiradores.
Na live do dia 2 de maio, o que o público pode esperar de você? Qual o top 5 canções que não podem faltar no repertório?
Por mim não faria repertório. Gosto de sentir o momento. Mas mandei uma lista de quarenta músicas pro Ecad a pedido da organização do festival, pra não trazer problemas pro YouTube, mesmo sabendo que só vou ter tempo para tocar em torno de dez canções. Entre as mais prováveis estão: Béradêro, Pedrada, À Primeira Vista, Deus Me Proteja, Pensar em Você. Mas não garanto.
Você está ativo durante o período de quarentena, certo? Como você acha que o cenário musical nacional vai retornar após a Covid-19? Que impactos sentiremos?
Como todo os outros setores voltaremos devagar. O que é bom. Pois temos o dom de aglomerar. Vai ser diferente e tem de ser. Temos de aproveitar a oportunidade para aceitar e trilhar novos caminhos. Mesmo sem saber quais nem onde vão dar.
Sua participação representando Alagoas é uma honra. Já esteve por aqui? O que mais gosta da nossa terra? E quando voltas?
A honra é minha e sou muito grato pelo convite para participar do Festival Carambola. Claro que já estive em Alagoas, muitas vezes. Adoro. Gosto da alegria e da calma das pessoas daí, do povo alagoano. Tenho show com Geraldo Azevedo previsto pra Maceió. Passada a quarentena, vamos sim.