
Hoje tenho nos olhos / somente a dança das estrelas cadentes / fazendo-se mar e poesia. — Versos como esse, da poeta alagoana Arriete Vilela, estarão entre os cem poemas pendurados no varal de sisal do projeto Papel no Varal, que retorna ao bairro histórico de Jaraguá nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, a partir das 19h. Como um ritual poético que atravessa os anos, o evento renova sua promessa de levar a poesia ao encontro de vozes diversas.
Desta vez, o mar é referência e metáfora, atravessando as páginas e os versos que flutuarão no espaço da Toca do Calango, ponto de encontro da poesia e seus amantes. No varal, poemas de Adélia Prado, Aldemar Paiva, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e, em um lugar especial, Arriete Vilela, homenageada da noite. Nascida em Marechal Deodoro, a poeta consolidou-se como uma das mais importantes vozes literárias do estado, tendo a palavra como ofício e destino.
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O evento mantém sua essência: qualquer um pode escolher um poema e lê-lo, desde que não seja de sua própria autoria. Essa simplicidade guarda uma força revolucionária — fazer com que a poesia não seja um objeto distante, mas algo compartilhável, dito, ouvido, sentido. A curadoria de Ricardo Cabús garantem que o varal carregue obras que dialogam entre si, construindo um mosaico de lirismo e significados, tendo as paisagens e evocações marítimas como porto.
Há algo de náutico no ato de pendurar poemas em um varal. Como velas soltas ao vento, as palavras esperam por mãos que as toquem, olhos que as decifrem, vozes que as façam ganhar novos sentidos e direções. Nesta edição, o mar não é apenas tema, mas atmosfera. O oceano, que engole, devolve, embala e revolta, estará presente não nos textos e também nas memórias e nas interpretações daqueles que fazem do Papel no Varal um sarau vivo e em constante transformação.
Os versos de Arriete Vilela, cuja lírica ressoa entre o místico e o mundano, serão recitados por convidados em uma homenagem que percorre sua trajetória e sua produção intensa — mais de vinte obras publicadas, entre poesia e prosa, desde os anos 1980. Sua escrita, impregnada de lirismo e força feminina, é um dos faróis da literatura alagoana.
A NOITE E SEUS SONS

Além da poesia, a música costura o evento, conduzida pela voz e violão de João Albrecht. No repertório, canções de compositores alagoanos, de Djavan a Júnior Almeida, conectando as sonoridades da terra ao pulsar dos poemas. No fim da noite, o palco se abre para músicos que queiram apresentar suas canções ao público do Papel no Varal, reforçando a vocação do evento para o improviso e a partilha.
Apesar de a casa abrir as portas às 19h, o sarau começa às 20h, com entrada gratuita garantida via Sympla. As mesas, disputadas por aqueles que já fazem do evento um compromisso de alma, serão ocupadas por ordem de chegada.
O evento do Instituto Lumeeiro tem patrocínio de Ao Pharmacêutico, Ouro Vermelho, Aby’s e Telesil. Além do apoio cultural do Armazém Guimarães e da Fika Frio.
Criado em 2009, o Papel no Varal nasceu da vontade de tornar a poesia acessível e próxima, sem a rigidez das páginas ou o peso das academias. Levar a palavra ao público, fazê-la vibrar na voz de desconhecidos e despretensiosos leitores. Com um simples varal de sisal, o evento construiu uma tradição, onde versos encontram novos donos e, por uma noite, pertencem a quem os declama.
Ricardo Cabús, que bravamente comanda esse movimento, ressalta que, em meio ao calor de fevereiro, as ruas de pedra de Jaraguá e ao burburinho da cidade, os poemas estarão ali, no varal, aguardando a chance de iluminar aqueles que por eles passarem.
Serviço:
O quê: Papel no Varal: Alagoas, Mar e Poesia.
Quando: Amanhã (19), a partir das 19h
Onde: Toca do Calango, Jaraguá
Quanto: Gratuita
Classificação: 12 anos
Informações: (82) 98833-8174