Apesar de nunca delimitarem a atuação do projeto, os organizadores da Mostra Sururu não imaginavam, dez anos atrás, que a ideia teria impacto profundo na produção audiovisual de Alagoas. Mas a principal janela do cinema alagoano chega à décima edição num ano de superlativos, quebrando os próprios recordes e sem ignorar o papel político da sétima arte.
De 10 a 15 de dezembro, a Mostra Sururu de Cinema Alagoano dará início a aguardada competição oficial do festival. A décima edição é diferente da estreia, quando o número de produções audiovisuais no Estado era tão baixo, que a primeira edição ocorreu como uma retrospectiva. Para esta 10ª Mostra, no entanto, foram 59 filmes inscritos, de 12 cidades de Alagoas. Desses, 29 filmes selecionados serão exibidos durante a semana, de maneira gratuita, em Maceió.
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Para a produção da Sururu, a mostra chega à primeira década realizando a edição mais robusta de sua história e, além das exibições, uma versão itinerante do evento levou filmes alagoanos para mais de 1.700 pessoas na capital e no interior. Para Maysa Reis, produtora da mostra, os números desafiam a falta de incentivos.
"Todos esses números nos surpreenderam. Se a gente parar para pensar, Alagoas é um Estado deficiente de políticas públicas para a cultura, principalmente para o cinema, que é uma arte cara de se fazer. Mesmo assim, temos quase sessenta curtas alagoanos produzidos, em um ano tão precário para a cultura. É surpreendente", diz.

Ela também defende que a Mostra Sururu tem como maior trunfo assumir a missão de "dar potência" à produção local e de ser um festival exclusivamente alagoano, que movimenta a cena e provoca os realizadores. O resultado, segundo ela, seria o aumento das produções audiovisuais nos interiores.
"A produção do ano do cinema alagoano será vista primeiro na tela da Sururu. Só depois irá escoar para os festivais do Brasil e do mundo. Temos filmes muito bons, o nosso audiovisual vem crescendo e, neste ano dez, é possível ver claramente esse desenvolvimento e o papel da mostra nesse sentido. A expectativa está gigante, é uma edição comemorativa, as sessões foram muito bem montadas pela curadoria. Então, a gente tá esperando momentos de alegria e de emoção e que essas expectativas sejam extrapoladas", complementa.
O evento também funciona como uma confraternização dos realizadores do audiovisual de Alagoas, reunindo esses profissionais, celebrando as vitórias da categoria e discutindo os desafios para o novo ano. E, ao mencionar os desafios, a produção da mostra aponta 2019 como "sofrido", principalmente por conta dos boicotes do governo federal ao setor do audiovisual. Ao mesmo tempo, Maysa Reis pondera os números surpreendentes para enaltecer a força do cinema em um "ano como esse".
"A cultura não vai parar. A gente tá num momento cultural muito forte e produzindo, apesar da repressão governamental contra a cultura, apesar do momento social que a gente tá vivendo, de tantas opressões, de tanto medo, o cinema extravasa isso e é uma arte política, marcada por esses momentos", diz.
"Quando a Alemanha passou pela crise do Nazismo, o cinema ficou muito forte. Houve outros momentos históricos em que o cinema se destacou, inclusive no Brasil, com o Cinema Novo. E a gente tá vivendo um desses momentos. É um cinema político e com uma força grande para o Nordeste. Se a gente parar para observar, os quatro filmes de destaque deste ano são filmes de nordestinos. Um dia serão filmes de Alagoas", completa a produtora.
ATIVIDADES PARALELAS

Além da exibição oficial e competitiva, a Mostra Sururu traz ainda uma série de atividades paralelas, a exemplo da oficina "Salto no Vazio - Des/Programação de Atores para Cinema", com Flávio Rabelo, e debates que fazem parte do Ambiente de Mercado.
Outra atividade festiva é a "SururuBar 2019", festa que ocorre no sábado, 14, e reúne Wado e o Bloco dos Bairros Distantes, Mopho e Orquestra do Pinto da Madrugada no Rex Jazz Bar.
Após a maratona de atividades, a mostra será encerrada no domingo (15), com a tradicional cerimônia de premiação, com troféus para 12 categorias. Antes do anúncio dos premiados acontecerá a sessão especial de estreia do documentário "O Cortejo" (foto), de Flávia Correia, Marianna Bernardes e Rafhael Barbosa.
Também serão realizadas homenagens a dois personagens que ajudaram a construir a história do audiovisual contemporâneo em Alagoas: o programador do Arte Pajuçara, Marcos Sampaio, e o crítico de cinema Elinaldo Barros.
A Mostra Sururu de Cinema Alagoano é uma realização do Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano e tem produção do Saudáveis Subversivos, com patrocínio da Prefeitura de Maceió, da Algás (por meio do Prêmio Algás Social), e do Sebrae Alagoas. O evento conta com as parcerias do Centro Cultural Arte Pajuçara, do site Alagoar, do Mirante Cineclube, da Casa Sede e da Escola Técnica de Artes da Ufal. Além doapoio cultural da Universidade Estadual de Alagoas.
Mostra Sururu de Cinema Alagoano - Edição comemorativa de 10 anos
Onde e quando: De 10 a 15 de dezembro, no Centro Cultural Arte Pajuçara, às 19h
Entrada franca