Quem nunca participou de uma discussão no grupo da família que atire a primeira pedra. E agora, faltando muito pouco para o primeiro turno das eleições 2018, essas conversas mais calorosas nas redes sociais, grupos de famílias e até mesmo numa simples roda de amigos têm acirrado os ânimos dos eleitores. Não somente pela divergência de opinião, mas também pela falta de respeito na escolha do outro. Nos últimos meses que antecederam o pleito eleitoral, diversas pessoas se posicionaram contra e a favor de certos candidatos e o assunto foi o mais debatido no ambiente familiar. Para defender seu ponto de vista, muitas pessoas se cercam de "verdades únicas", num tom exagerado, para se desentender com amigos e parentes. A incerteza do cenário eleitoral tem criado novas invariáveis e impactado na decisão dos eleitores.
Os tons mais exaltados de alguns candidatos podem ter contribuído de maneira negativa a polarização que toma conta da política brasileira, além das Fake News, que dispararam nesta eleição. Não é difícil encontrar alguma notícia falsa sendo amplamente reproduzida por pessoas que, sequer, buscam uma fonte confiável de informação. A partir daí a Fake News se espalha por meio das redes sociais, grupos de Whatsapp e fica quase que impossível controlar a situação.
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"Essa polarização não é algo que passou a existir apenas agora, nesta eleição, é uma construção que vem se arrastando ao longo do tempo. Por um bom tempo, a polarização se caracterizava pela disputa entre projetos ao redor de dois partidos: PT e PSDB. Com as manifestações de 2013, crise econômica, questionamentos do resultado da eleição de 2014, processos da lava jato, Impeachment de Dilma, baixa avaliação do governo Temer, prisão de Lula, dentre outros, essa polarização passou a ser entre aqueles que defendem "a queda do sistema político atual", de forma autoritária e aqueles que defendem um projeto de esquerda e que buscam reviver tempos áureos dos governos Lula. As vias alternativas não conseguiram convencer o eleitor que outro caminho, mais moderado no eixo do centro democrático, pudesse ser a opção", disse a cientista política, doutora em ciência política, Luciana Santana.
Ela diz que esse tipo de polarização não tem sido saudável. "O presidente eleito enfrentará muitas dificuldades para governar e encontrar a melhor medida para atender interesses e demandas tão complexas e diversas".

Há ainda aqueles que defendem seus candidatos a todo custo. Cada um utiliza de seus argumentos para "defender o que é melhor para o Brasil". Esse tipo de discussão tem seu lado positivo e negativo, avalia Luciana.
"Discussões baseadas em informações verificadas e que permitem um debate saudável entre os usuários é muito positivo. Entretanto, o que tem predominado é o uso de whatsapp, principalmente, para disseminar notícias falsas e consolidar opiniões construídas em argumentos falaciosos ou mentirosos. Nesse sentido, torna-se muito prejudicial para todo o processo eleitoral e democrático. Em geral, fotos, áudio e vídeos são os recursos mais utilizados para atingir o objetivo: informar ou disseminar mentiras".
A cientista política acredita que esta é a eleição mais tensa desde 1989. Segundo ela, o componente que mais tenha se destacado nisso tudo é que muitos eleitores estão decidindo seus votos por ódio e não com a razão, em um melhor projeto.
O ataque a faca contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL/RJ) e o atentado a tiros contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em março, são um exemplo do clima violento que alguns "eleitores" têm usado para se manifestar seus ideais.
