Diga não ao racismo.
Na manhã desta quarta-feira (24), o Observatório da Discriminação Racial no Futebol divulgou, na sede da CBF, o Relatório Anual de Combate ao Racismo no Futebol de 2021. A ação faz parte de uma parceria inédita entre a Confederação Brasileira de Futebol e o Observatório. A publicação deste ano é a oitava, mas é a primeira realizada em parceria com o órgão maior do esporte brasileiro.
O levantamento abrange todos os esportes e leva em consideração todos os atletas brasileiros, atuando no Brasil, ou não. O balanço final, divulgado nesta quarta-feira (24), trouxe um estarrecedor número de 158 casos de preconceito e/ou descriminação. Sendo 137 deles registrados em solo nacional e 21 outros ocorreram com atletas brasileiros no exterior.
Leia também

Do montante total de registros, 124 deles dizem respeito ao futebol e 34 a outros esportes. O relatório ainda especifica onde e quantas injúrias foram registradas, não somente preconceitos raciais foram abordados no documento. Foram levantados também casos de LGBTfobia, xenofobia e machismo. Detalhando, o documento traz a seguinte amostragem, levando em consideração atletas brasileiros, dentro ou fora do país:
"Dos 124 casos que envolvem o futebol; 74 dizem respeito à discriminação racial (soma total de casos ocorridos no Brasil, 64, e no exterior, 10); 25 envolvem LGBTfobia (soma total de casos ocorridos no Brasil, 24, e no exterior, 01); 15 machismo; 10 xenofobia (soma total de casos ocorridos no Brasil, 06, e no exterior, 04)."
Durante o ano de 2020, assim como pode ser visto no gráfico acima, os casos tiveram uma queda de 50,65% em sua totalidade, levando em consideração todos os casos analisados. Entretanto, não se pode esquecer que foi um ano pandêmico, sem a frequência de torcedores nos ambientes esportivos. Assim, destaca-se a existência de um alto número de atos discriminatórios, mesmo que a presença de público nas competições não tenha chegado a completar exatos três meses no Brasil. Então, com essa diminuição, os números só ficam mais assustadores em 2021, se igualando a 2019 em casos de discriminação - ano recorde em todas as edições da análise do Observatório.
Na introdução do folhetim, uma pauta foi levantada para a discussão acerca dos crescentes casos de racismo dentro dos espaços futebolísticos. A fotografia da seleção canarinho muitas vezes foi utilizada como material de quebra de tabus, mostrando um país miscigenado e sem discriminações, já que nossos maiores gênios da bola são e foram negros, como o Rei do Futebol, Pelé, e o bruxo, Ronaldinho Gaúcho. Entretanto, uma frase chama atenção. No segundo parágrafo da introdução podemos ler:
"Salientamos que os constantes casos de racismo nos estádios, na Internet e demais espaços “derrubaram” o antigo mito da democracia racial existente no Brasil e que teve no futebol um falso exemplo de como as diversas raças conviveriam em harmonia no nosso país".

Caso em Alagoas
Dentre os 124 casos envolvendo o esporte mais amado do país, um aconteceu em Alagoas. No dia 21 de outubro de 2021, o atleta Giovani, que defendia as cores do Desportivo Aliança, foi chamado de “Macaco”, por alguém nas arquibancadas. A partida foi válida pelo Campeonato Alagoano Sub-20, onde enfrentou o CRB. O lateral esquerdo não quis abrir um Boletim de Ocorrência.
A injúria foi registrada em vídeo e o agressor foi contido pela Polícia Militar no mesmo momento, sendo retirado do Estádio Universitário da UFAL. O caso foi registrado na súmula da partida pelo trio de arbitragem. A Federação Alagoana de Futebol (FAF) identificou o criminoso, que não teve seu nome divulgado, porém, a FAF encaminhou o caso para o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) do Estado.

Quem comete?
O racismo, muitas vezes, não é cometido por aqueles que olhamos e pensamos de primeira que tenha algum preconceito. Na documentação circulada, podemos ver claramente de onde sai a maioria dos casos. Segundo o que foi divulgado, em relação aos 74 casos que dizem respeito à discriminação racial no futebol em 2021, em 44 deles o agressor é, pelo menos, um torcedor. Em outras seis ocasiões a agressão partiu de outro atleta.
Em cinco dos casos, o ataque originou-se de cima, de dirigentes e ou membros da direção dos clubes. Em seis casos a hostilidade partiu de membros da comissão técnica ou funcionário do estádio da partida. Em sete casos, o ato discriminatório partiu de, pelo menos, um membro da imprensa, e, em um outro caso, a discriminação partiu do treinador da equipe. Um cônsul oficial como representante de clube no exterior também já foi responsável por um dos casos. Uma personalidade pública/influencer e em três situações o Poder Público cometeu o ato discriminatório."