Até 2014, Kadeena Cox competia em eventos de atletismo, na Inglaterra. Com boas marcas pessoais nos 100m e 200m, sonhava em um dia disputar os Jogos Olímpicos na modalidade que praticava desde o início da adolescência. Mal sabia o que o destino a reservava. Dois anos depois, a consagração veio em forma de ouro. Duas vezes. Mas na Paralimpíada do Rio de Janeiro. Com direito a vitória sobre Sarah Storey, simplesmente o maior nome do esporte para pessoas com deficiência em seu país, com 24 pódios, ela é campeã no ciclismo e no atletismo. O motivo da mudança de planos? Dois derrames cerebrais que resultaram no diagnóstico de esclerose múltipla, doença que afeta a coordenação motora, no ano passado.
Nesta quarta-feira, Kadeena subiu ao lugar mais alto do pódio no estádio do Estádio Olímpico ao vencer a prova dos 400m - T38, com direito a recorde mundial, 1min00s71, em disputa que a brasileiraVerônica Hipólito ficou com o bronze. Há quatro dias, a britânica de 25 anos também tinha conquistado a medalha de ouro e obtido a melhor marca do mundo, mas em outra modalidade, no ciclismo pista, nos 500m contrarrelógio C4-5, deixando Sarah Storey na quarta colocação.
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- É incrível, eu consegui isso, sou medalhista de ouro e ainda com o recorde mundial, é mais do que um sonho. Eu queria conseguir algo especial aqui, estou muito feliz. Foi muito emocionante quando ganhei no sábado também. Nasci para isso, treinei duro. Conseguir isso é um sentimento fantástico. A Sarah é uma pessoa sensacional para ter na equipe, pedir conselhos, ela sempre me deu apoio. É uma grande pessoa para ter à sua volta. Ela já conquistou grandes coisas, eu sei que é um trabalho duro para conseguir tudo que ela conseguiu, mas é uma coisa que eu realmente também gostaria de conseguir - afirmou a Kadeena, que contou com apoio dos atletas do ciclismo nesta quarta nas arquibancadas do Engenhão.
Kadeena também já levou o bronze no Rio nos 100m T-38. E ela não vai parar por aí. Ainda vai disputar o revezamento 4 x 100m T38 e o ciclismo estrada C4-5. Antes da Paralimpíada, a multiatleta recebeu conselho para se dedicar a apenas uma modalidade para 2016 e deixar a outra para competir em Tóquio 2020, mas conseguiu convencer as duas federações de que poderia conciliar o atletismo e o ciclismo.
- Eu consigo organizar bem isso. Tenho boas pessoas por trás, uma equipe que me ajuda a administrar o meu tempo e me dá apoio. Eu gosto de praticar as duas coisas. O atletismo exige mais, faz o meu corpo um pouco mais fraco do que realmente é. Mentalmente é difícil, porque eu preciso estar preparada para correr em um bom tempo. O ciclismo é prazeroso. Sou feliz pelos dois. Eu não poderia deixar um esporte, porque eu sou boa nos dois. Além disso, eu tenho reincidências da esclerose múltipla e não sei por mais quanto tempo eu poderei ser atleta, então não sei como estarei daqui a quatro anos em Tóquio.
As medalhas, os recordes e a vitória sobre a melhor de todos os tempos comprovam: Kadeena tinha razão.
