Capaz de transformar uma entrevista coletiva numa plataforma de ideias e retórica, Paulo Autuori, aos 64 anos, não aliviou nem para o Botafogo, muito menos para a CBF em reflexão no "Pequeno grande círculo", do SporTV. Exibido neste sábado - com a participação de Milton Leite, Mauricio Noriega e Paulo Vinicius Coelho (PVC), o programa contou com a sinceridade do treinador do Botafogo.
Como de hábito, ele falou de tudo e de maneira enfática. Crítica. Ao mesmo tempo que criticou a gestão de clubes grandes e de federação, mostrou compreensão com um velho cartola, o ex-presidente do Botafogo Carlos Augusto Montenegro, a quem chamou de bombeiro.
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- Talvez o Botafogo não existisse se estivesse sem o Montenegro, bombeiro em todas as situações, sempre pronto para responder de alguma maneira. Mas isso é positivo? Eu não acho. Não é só o Montenegro, há outras pessoas envolvidas nos momentos de mais dificuldade do Botafogo. É uma questão para se refletir. Não acontece só no Botafogo, muitas equipes estão fragilizadas - disse ele.
Autuori surpreendeu ao defender publicamente a renovação na CBF, classificando como "vergonhoso" ter ex-presidente da CBF preso (referindo-se a José Maria Marin, que ficou detido cinco anos nos EUA pelo escândalo que ficou conhecido como "Fifagate"). Sem se aprofundar, lançou um nome: Mauro Silva. O ex-jogador, de 52 anos, hoje é vice-presidente da Federação Paulista de Futebol.
- Eu já disse. O futebol brasileiro é muito estranho, porque os problemas se mantém e não há preocupação em dar ouvido às pessoas intervenientes do fenômeno futebol. Por isso tiro o chapéu para o que Mauro Silva faz na Federação Paulista. Meu sonho é vê-lo na presidência da CBF. Gostaria que o presidente da CBF pudesse ser reverenciado onde chegasse, vejo profissionais com qualidade e competência para isso.
Reerguimento nordestino
Paulo Autuori foi questionado sobre os constantes problemas de salários atrasados no Botafogo, o que se repete em relação a 1995, no título brasileiro com o Alvinegro, feito que o tornou conhecido no país. Ele refletiu sobre a decadência de clubes grandes e comentou modelos de gestão.
- Evidente que há cansaço de ver as coisas acontecerem da mesma maneira. Lá em 1995 tinha problema com salários atrasados. Hoje, em 2020... em 20 anos vi clubes dilapidarem seu patrimônio e outros saírem de clube de bairro para clube de ponta. É o caso do Athletico (PR). Isso é motivo de reflexão - comentou o treinador do Botafogo.
Com funções também administrativas recentes antes do retorno ao Alvinegro - no Santos e no Fluminense -, Autuori citou bons exemplos de gestão que percebe no futebol brasileiro. Não apenas nos mais conhecidos e vitoriosos, como Flamengo, Grêmio e Athletico, citados por ele, mas na região Nordeste do país.
- Fico feliz em citar três clubes do Nordeste que estão bem: Bahia, Fortaleza e Ceará. É com muita felicidade que, como brasileiro e homem do futebol, vejo clubes se compararem em termos de gestão e se solidificarem. A ponta final é a qualidade de jogo que poderão fazer com estrutura organizacional e ótimos profissionais. Temos que aplaudir esses clubes - disse o treinador.