Em uma das tantas residências de Maceió, Valéria Leite chora ao olhar um álbum de fotografias antigas de sua filha e procura respostas para o que teria acontecido com sua "eterna criança". Valéria e sua família, como várias outras em Alagoas, sofrem com o drama de ter um parente desaparecido. A filha dela sumiu há quatro anos e três dias, sem deixar rastros.
Um levantamento feito em 2015 apontou que 40 mil crianças e adolescentes desaparecem todos os anos no Brasil. A filha de Valéria, Bárbara Regina Gomes da Siva, tinha 21 anos quando sumiu, no dia 1° de setembro de 2012. Ela estava acompanhada de amigos em um show que acontecia em uma boate, na parte baixa de Maceió. Essa foi a última vez que Bárbara foi vista em algum lugar. Para a polícia, a jovem teria saído do local com um homem identificado como Otávio Cardoso da Silva Neto, que nunca foi localizado e é considerado um foragido da justiça alagoana.
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Confira a entrevista com Valéria Leite, mãe de Bárbara Regina:
Segundo o delegado Felipe Caldas, da Seção Anti-sequestro da Polícia Civil, denúncias foram feitos informando possíveis paradeiros de Otávio, mas ele nunca foi localizado.
"Já falaram que ele estaria no interior ou em cidades dos outros estados. Quando o relato era investigado, ele nunca era localizado. Acreditamos que ele esteja escondido em outro estado", informou Felipe.
Em outro ponto da capital alagoana, outra família sofre com a saudade e a falta de repostas. Yasmin Rodrigues, de 7 anos, foi vista pela última vez brincando à porta de casa, no conjunto Gama Lins, no bairro da Cidade Universitária.

"O que deixa a família mais aflita é a falta de informação. A mãe dela está desesperada correndo atrás de informações da filha", informou uma prima de Yasmin, que preferiu não ser identificada.
A Gazetawebtentou entrar em contato com a mãe de Yasmin, Luciana Rodrigues, mas não obteve êxito.
De acordo com a delegada Adriana Moraes, da Delegacia de Crimes contra Criança e o Adolescente, casos como o de Yasmin são os mais preocupantes. "A questão é que na maioria dos casos, quando adolescentes, as menores fogem com namorados, devido a não aceitação da família e até por outros motivos. Mas sabemos que essa criança não iria fugir, e isso nos preocupa. Em muitos casos, são os pais que, quando separados das mães, fogem com a criança para criá-la sozinhos", completou.
Supostamente raptado pela lei

Casos de desaparecimentos à porta de casa ou de local de grande fluxo de pessoas não acontecem apenas na capital. Em março deste ano, o adolescente Lucas Emanuel, de 15 anos, sumiu na porta de um mercadinho, no município de Arapiraca, no interior de Alagoas. Ele estava com amigos, quando supostos policiais desceram de um veículo, encapuzados e armados. Após revistar todos os garotos que estavam com Lucas, apenas ele foi levado e nunca mais foi encontrado.
Em casa, diariamente, a família tenta suportar a dor de não obter mais notícias sobre Lucas. Segundo a tia do garoto, Patrícia Carla, que entrou em contato com aGazetaweb, a aflição tomou conta dos parentes, que não tinham informações do que teria acontecido com o menino.
A polícia acredita que ele foi morto e, por isso, o inquérito foi enviado para a Delegacia de Homicídios, em Arapiraca.
Veja o vídeo do momento em que Lucas foi levado pelos supostos policiais:
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Desfecho sem explicação
Maria José dos Santos, de 42 anos, era uma mulher pacata. Evangélica, gostava muito de ir aos cultos religiosos da igreja em que frequentava, no bairro do Bebedouro, onde também residia.
Em abril de 2015, depois de sair da igreja, ela ficou na esquina, conversando com amigas. Ao se despedir, Maria foi pra casa e, no caminho, desapareceu sem deixar pistas.

Depois de 15 dias, um braço foi encontrado na Lagoa Mundaú, em Maceió. Após a realização de exames, foi constatado o inesperado: a parte do corpo era mesmo de Maria.
Uma das irmãs de vítima, que preferiu não ser identificada, diz que não entende o motivo de tamanha crueldade, já que a Maria não tinha desafetos e era conhecida por ser uma mulher tranquila.
"Foram dias de sofrimento e aflição. É muita crueldade fazer isso com a minha irmã. Ela era uma pessoa boa, não tinha problemas com ninguém, vivia para cuidar dos filhos, de quem era pai e mãe. Só peço que Deus tenha misericórdia dessa pessoa que fez isso com ela", desabafa.
Segundo parentes, a dor da família em recordar lembranças boas de Maria é diária. Por essa razão, meses após a constatação de sua morte, a mãe da vítima veio a falecer. "Ela morreu de desgosto. A dor era intensa para ela e os filhos, que, até hoje, são inconformados com o desfecho da história", completou a irmã.
Saiu e não retornou

Um aposentado, que, segundo a família, tinha fama de teimoso e não gostava de tomar os remédios receitados pelo médico, faz falta na hora de a família se reunir.
A lembrança é intensa para os familiares de José Maria Lopes, de 73 anos. Em junho de 2016, ele saiu de casa, situada no bairro de Santa Amélia, pela manhã, em direção a uma agência do Banco do Nordeste, no centro de Maceió.
Parentes do idoso acham que ele não teria tomado as medicações corretas e pode ter tido uma crise e esquecido o caminho de volta para casa.
Ao fazer uma campanha nas redes sociais para tentar localizar o avô, Erick Lopes conseguiu algumas informações sobre o possível paradeiro de José Maria, mas quando chegava ao local, não encontrava o idoso.
"Uma que foi mais correta, dessas informações, foi a de que meu avô estaria perguntando onde era a Praça Centanário, em frente às Lojas Americanas, no bairro do Farol. Uma moça nos informou e fomos em busca dele por regiões próximas, mas não conseguimos localizá-lo", informou Erick.
O que a família não esperava era a notícia que chegou após 25 dias do sumiço do idoso. Em uma manhã de sábado, no dia 30 de julho, o telefone toca e a informação foi que um corpo havia sido encontrado, no bairro do Barro Duro, o qual tinha características de José Maria Lopes.
Em uma área de difícil acesso, em estado de decomposição, foi encontrado o corpo do idoso. Na bermuda em que trajava, documentos com sua identificação foram colhidos.
A dúvida é de como ele teria chegado ao local sem ter sido conduzido por alguma pessoa. A família sofre diariamente sem as informações do que realmente aconteceu.
"Uma das pessoas que mais sofrem é uma das irmãs que morava com ele. É triste lembrar de sua felicidade e independência. É algo que nunca apagará", disse Erick.
O número de pessoas desaparecidas em Alagoas ainda é um mistério. Em contato com a Polícia Civil, aGazetawebfoi informada que o órgão não possui um banco de informações de pessoas desaparecidas. Em muitos casos, parentes registram o boletim de ocorrência, a pessoa ser encontrada e a polícia não é informada. "Não conseguimos ter um controle por esse motivo, porque dificulta um dado preciso do número de pessoas desaparecidas", disse a assessoria.
Por isso, a alternativa é cadastrar o desaparecido em sites de buscas de pessoas desaparecidas, como o: http://www.desaparecidosdobrasil.org/ e http://www.desaparecidos.gov.br/
