Cuidar, proteger e amar. Sentimentos que podem expressar o que é ser mãe, mas não são suficientes para descrever algo tão singular. Um exemplo dessa singularidade é a diarista Rosemary Oliveira, de 44 anos. Ela é bissexual e mãe dos jovens Isaac Victor, transgênero de 15 anos, João Victor, pansexual de 19 anos, e Wesley, que é heterossexual. Rosemary é uma mãe que busca, acima de tudo, respeito para os filhos.
Rosemary diz que a falta de conhecimento é motivo para o preconceito da sociedade. "Infelizmente, o desrespeito ainda é grande. É muito triste dizer que tenho medo. Acredito que esse preconceito é devido à falta de informação das pessoas sobre a causa LGBT", comenta.
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De acordo com dados coletados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), em relação aos assassinatos de homossexuais e transgêneros no país, houve um aumento de 30% nos homicídios de LGBTs em 2017 em relação ao ano anterior, passando de 343 para 445. Segundo o levantamento, a cada 19 horas, um LGBT é assassinado ou comete suicídio. Eles são vítimas da "LGBTfobia", o que faz do Brasil o campeão mundial desse tipo de crime.
Nome social
Diferentemente do registrado em cartório, o nome social é a forma como as pessoas transgêneras, travestis, transexuais ou de qualquer tipo de gênero preferem ser chamadas. No entanto, nem sempre esse desejo prevalece. Por preconceito, muitas pessoas insistem em desrespeitar a vontade de quem não se reconhece em seu corpo físico, causando-lhes constrangimento.
Rosemary conta que o filho Isaac, por diversas vezes, enfrentou esse tipo de problema. "O preconceito existe em vários ambientes. Um dos momentos que vemos isso é quando precisamos apresentar um documento e as pessoas percebem uma diferença no nome registrado e a forma de se apresentar do meu filho. Nossa luta hoje é, também, pelo respeito da sociedade", revela.
Devido ao tempo necessário para a alteração de nome em todos os documentos, a população LGBT em Alagoas já conta, desde o mês de março, com um decreto do governador Renan Filho, possibilitando o uso do nome social em Órgãos e Entidades da Administração Pública Estadual Direta, Autárquica e Fundacional.
Autoaceitação
A autoaceitação é um processo de reconhecimento de si mesmo, é a habilidade de aceitar-se da maneira que é. Na vida de Rosemary, João Victor e Isaac, esse processo foi fundamental.
"Eu tinha medo da reação dos meus familiares e amigos, pois o preconceito já existe no nosso próprio meio de convivência. Mas, compreendi que a aceitação tem que partir de dentro de nós. A minha coragem veio da atitude do Isaac. Foi observando o gesto de grandeza dele em assumir a sua orientação sexual que, também, assumi a minha bissexualidade", declara Rosemary.
Para João Victor, sua descoberta foi uma luta travada com ele mesmo. "Eu sempre tive atração por todos os gêneros, mas lutei comigo mesmo. Eu não tinha muita informação e, assim que me descobri, pensava que era errado ficar com uma pessoa do mesmo sexo ou de outro", comenta João Victor.
"A autoaceitação foi fundamental e, também, a escolha mais radical a se fazer. É mais difícil você se aceitar do que falar para uma pessoa sobre sua orientação ou atração sexual", afirma Isaac.