Não é possível separar o Nordeste da sua música. É como se, da paisagem à sua gente, emanassem naturalmente o gingado da sanfona, o sopro do pífano, o balanço do ganzá, do triângulo, do pandeiro, dos ritmos que fazem da música popular nordestina um universo. E é esse mundo que a Filarmônica de Alagoas resolveu explorar. Em seu mais novo concerto, "Nordeste de todos os tons", o grupo embarca nas sonoridades de nomes como Dominguinhos e Luiz Gonzaga. A iniciativa é inédita para eles, que, sob a batuta de Luiz Martins, sobem ao palco do Teatro Deodoro, hoje (1), às 20h.
As versões sinfônicas para os clássicos nordestinos contarão com arranjos compostos especialmente para a ocasião e pensados para a formação orquestral completa, com todos os instrumentos tradicionais, solistas e coro. Exclusivamente para este concerto, a Filarmônica leva ao palco uma banda base, composta por Van Silva, no baixo elétrico, Maglione Santos, na bateria, Jadson Lima, na guitarra e Milla do Acordeon. Convidados especiais, como Irina Costa, Anderson Fidellis, Coral Cesmac e Chau do Pife, também devem marcar a apresentação.
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"É uma criatividade dessas pessoas da nossa cultura, para valorizar nossa música. Talvez esse incentivo sirva para que nossa população olhe mais para quem toca um pife, um acordeon. É muito importante para valorizar e mostrar que temos uma riqueza muito grande aqui, na nossa música, que não deixa nada a desejar para nenhuma outra, então venham todos assistir o espetáculo mais bonito do mundo todo", convida orgulhoso Chau do Pife, patrimônio vivo de Alagoas.
A ideia de um concerto somente com músicas desse universo popular nordestino partiu dos próprios espectadores e foi prontamente atendida pela Filarmônica que, com um pouco mais de um ano de atividade, acumula concertos lotados. O concerto de hoje integra a Série Mundo, onde a orquestra se permite flertar com a música pop e com sonoridades diversas, em um constante diálogo com um público de todas as idades.
"Um mote que a gente usa é: o que toca as pessoas? A gente não está vendendo um concerto, estamos trabalhando com emoção, porque não é só o músico que se identifica com essa aura que é gerada. A nossa maior missão enquanto artista é resgatar um pouco dessa sensibilidade, que faz com que as pessoas olhem o mundo com um microscópio e um telescópio ao mesmo tempo", diz.
ORGULHO NORDESTINO
Um dos jovens talentos convidados para o concerto de amanhã é Anderson Fidellis. Ele, que dedica sua vida e sua arte ao ofício de forrozeiro, levanta a bandeira das manifestações culturais autênticas e assume a responsabilidade de levar adiante e reapresentar o colorido trançado da música do Nordeste à sua geração. Convidado pelo maestro Luiz Martins, Fidellis apresentará algumas músicas de Luiz Gonzaga, seu grande ídolo.
"Levar a música nordestina nesse contexto sinfônico dá uma certa dignidade a nossa música. Quando se fala de Música Popular Brasileira nunca se cita a música nordestina. Existe aí um certo preconceito. Subdividiram a música e agem como se a nordestina estivesse abaixo das demais, tanto que ela está sempre condenada a um período do ano, o que está matando nossa cultura popular", lamenta.
Anderson Fidellis leva o forró e os símbolos nordestinos muito a sério. No palco, com um gibão e seus apetrechos típicos, ele se transforma em outro. De sanfona a postos, divide sua Cabrobeira com o público, que acaba fascinado pela intensidade do artista.
"Fico muito feliz por participar dessa proposta, que é algo diferente de tudo que eu já fiz. A ideia mostra um pouco desse valor que a música nordestina tem. É algo bastante significante para mim e para o momento que estamos vivendo, reafirma a importância da nossa produção musical", diz Fidellis, que diz acreditar no potencial de iniciativas como a do concerto "Nordeste de todos os tons" para impulsionar, inclusive, a autoestima nordestina.
"O Nordeste tem voz ativa, fala o que pensa, se manifesta dessa forma. Isso que eu falei [da música nordestina estar uma escala abaixo do que vem a ser a Música Popular Brasileira] serve para o povo nordestino. O Brasil deveria olhar mais para nossa região, sem preconceitos, para nossa riqueza e potencial. E não brinque não, pra virar país é um estalo de dedos", reflete o sanfoneiro, cantor e compositor.
Segundo a produtora Irina Costa, o público que for conferir o espetáculo da Filarmônica de Alagoas encontrará uma viagem pelas sonoridades da nossa música. As composições e temas falam sobre a religiosidade, os costumes, a geografia e as festas da nossa gente - de sorriso largo e coração acolhedor-, São elas que dão o tom do concerto. Ainda segundo a produtora, o espetáculo evidencia a qualidade dos espetáculos da Filarmônica de Alagoas, que vem ressignificando os concertos sinfônicos no cenário local e regional; além de questionar os limites e rótulos postos à produção musical.
Serviço
- O quê: Orquestra Filarmônica de Alagoas apresenta Nordeste de Todos os Tons
- Quando: Hoje, 1 de novembro, às 20h (véspera de feriado)
- Onde: Teatro Deodoro (centro)
- Quanto: a partir de R$ 25
- Vendas: online pelo site www.sympla.com/filarmonicadealagoas | Chilli Beans (Maceió Shopping) | Galeria Club Lyon (Jatiúca) | Hering (Parque Shopping e Shopping Pátio Maceió)
- Informações: (82) 9 93816666 | 9 94446228
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