A Polícia Civil afirmou que o adolescente de 12 anos agiu sozinho para matar a menina Raíssa Eloá Caparelli Dadona, de 9 anos, em 29 de setembro, no Parque Anhanguera, na Zona Norte de São Paulo. A perícia concluiu que a vítima, foi estuprada e morta por asfixia mecânica.
O delegado Luiz Eduardo Maturano, da 5ª delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ainda aguarda o resultado do cruzamento do material biológico encontrado na menina com o do DNA do menino de 12 anos que confessou o crime. Só com o resultado desse exame, a polícia vai ter certeza se o adolescente cometeu o crime sozinho, ou se teve ajuda de outra pessoa.
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Segundo Maturano, o adolescente tinha comportamento agressivo seis meses antes do assassinato. No dia 23 de setembro, seis dias antes de Raissa ser morta, ele ameaçou alunos com uma agulha.
"O DHPP, durante as três últimas semanas investigando a morte brutal da menina de 9 anos, pode apresentar a certeza do envolvimento do adolescente neste crime. Nós descartamos qualquer hipótese desse adolescente ser uma vítima ou uma testemunha", disse o delegado.
Maturano afirmou que foram ouvidos 20 vigilantes. "As pessoas que tiveram contato com ele relataram um comportamento estranho, muito frio, sem mostrar qualquer sentimento para quem viu uma criança brutalmente morta. Esse fato chamou a atenção dos vigilantes, que registraram até uma fotografia desse jovem a pucos metros do corpo da menina chupando um pirulito, com a maior tranquilidade."
O delegado falou sobre o depoimento de um dos vigilantes. "Ele perguntou para o adolescente o que seria aquele sangue na camisa e ele disse que era picada de pernilongo. Perguntado novamente sobre isso, ele alegou que passou a mão no sangue que estava no terreno, cheirou e limpou na camisa. Era o sangue da Raíssa."
Para a polícia, uma terceira pessoa na cena do crime não existe. "Nós também descartamos ele sendo vítima. Quando levado ao DP pelos pais, momentos antes, informalmente, ele alegou ter cometido este ato; na delegacia ele contou outra história, narrando a existência de um individuo baixo, pardo, com calça branca camiseta cinza, boné verde e branco, bota preta e uma bicicleta verde e uma faca. Esse indivíduo não existe", disse o delegado.
Filmes de terror
"Nestas três semanas, temos informações da maneira com que ele se inspirou para cometer essa crueldade com essa menina, temos informes de que ele assistia a inúmeros filmes de violência e de terror, não vou comentar quais os filmes, mas constam no inquérito policial", afirmou o delegado.
Segundo Maturano, "neste período de investigação, tivemos relatórios ofertados pela escola para o Conselho Tutelar sobre comportamento inadequado, obsceno e agressivo, principalmente com meninas, em um caso ele agrediu um menino especial na turma dele."
O delegado disse que o último caso de agressão do adolescente na escola "foi em 23 de setembro, uma segunda-feira, quando ele espetou as crianças, ele foi suspenso por três e nenhum representante legal apareceu na escola para tomar conhecimento, culminando no domingo seguinte com a morte da menina. Poucas vezes os pais foram até a escola. A escola relata que a família não acompanhava o rendimento do aluno, ele não tem nenhuma dificuldade de aprendizado."
Segundo Maturano, o adolescente estava matriculado nesta escola desde agosto do ano passado.
O conselho tutelar recebeu informações, o que foi feito ainda não sabemos.
Peritos
Dois laudos concluíram que a menina foi espancada, estuprada violentamente e morreu sem conseguir reagir. Os documentos foram encaminhadas ao Ministério Público.
O adolescente de 12 anos está apreendido na Fundação Casa e é o único internado no estado pelo crime de homicídio.
Por decisão da Justiça, o menor foi apreendido e vai ficar 45 dias no programa de internação provisória da Fundação Casa, até que a investigação seja concluída.
Adolescentes eram próximos
Raíssa e o menino de 12 anos que confessou tê-la matado sozinho eram muito próximos, de acordo com a mãe da menina, Rosevânia Caparelli Rodrigues, e vizinhos no bairro do Morro Doce, Zona Norte da capital. Os dois moravam na mesma rua, a menos de cem metros de distância.
Segundo a mãe de Raíssa, o adolescente falava pra todo mundo que a menina tinha autismo. "Até nas barraquinhas do CEU."
"Minha filha era muito rígida, ela não ia com ninguém. Nem com minha irmã nem com meu cunhado. Ela confiava nele."
Os vizinhos contam que Raíssa e o adolescente de 12 anos brincavam muito na rua de casa e também no Centro Educacional Unificado (CEU) Anhanguera, de onde Raíssa desapareceu.
Amigos da família contam que os dois estavam tão apegados que a mãe de Raíssa levou o menino a um culto, junto com filha, no mês passado, em uma igreja evangélica no Jardim Britânia.
Cronologia
29 de setembro:
- Raissa Eloá brinca com o irmão e a mãe em uma festa no CEU Anhanguera, por volta das 12h; a mãe deixa ela na fila do pula-pula para comprar pipoca para o irmão e não a encontra mais.
- Raíssa é encontrada morta em árvore no Parque Anhanguera, por volta das 14h.
- O adolescente procura a segurança do parque e disse que encontrou o corpo de Raíssa. Neste primeiro momento, o menino não afirmou que conhecia a vítima.
30 de setembro:
- O corpo de Raíssa é enterrado no Cemitério Municipal de Perus.
- Vizinhos contam que a menina e o adolescente se conheciam e que eram próximos.
- O adolescente confessa para a família que matou Raíssa e é levado pelos pais até a delegacia. Lá, ele afirma que foi coagido a matar Raíssa por um homem que estava em uma bicicleta verde. Quando a polícia consegue as imagens em que a menina e o garoto andam de mãos dadas, ele confessou ter agido sozinho.
1º de outubro:
- Na madrugada, adolescente confessa em depoimento à polícia que matou Raíssa.
- A Justiça determina apreensão de adolescente.
- Raíssa é homenageada por alunos do Núcleo de Apoio à Inclusão Social para Pessoas com Deficiência (NAISPD) onde ela era atendida há cerca de um ano.
- O adolescente é levado para a Fundação Casa.
2 de outubro:
- A mãe de Raíssa fala sobre o dia do crime e diz que a filha confiava no adolescente.