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Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió

Recente polêmica na Praça do Skate levanta discussões sobre o tema em Maceió

Recentemente, a cantora Daniela Mercury chamou de ignorante a insistência de determinados segmentos da sociedade em querer determinar o que é e o que não é arte. A afirmação, em tom de desabafo, provém de uma longa discussão em torno das características que as manifestações devem (ou não) possuir para receber a chancela de obra de arte - um carimbo que, para muitos, precisa passar pelo crivo da moral e dos bons costumes.

Fora dos holofotes e da espetacularização está a arte de rua, porém, dentro do cotidiano quase invisível de grande parte da sociedade. Carregada de signos, a arte urbana se constitui pelo indizível, é desconsiderada e, em muitos casos, associada com o marginal, o violento e a pobreza cultural.

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No entanto, é a rua o espaço mais democrático em uma sociedade e, se bem observada, ela está repleta das mais diversas manifestações culturais. Como é o caso do grafite e, também, da pichação: artes efêmeras, muito presentes nas ruas de Maceió e, em especial, no histórico bairro do Jaraguá, considerado o berço do street art em Alagoas.


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Instagram

Ambas as intervenções são de natureza anarquista e, de acordo com relatos históricos, existem desde a antiguidade (cerca de 4.000 a.C) - no princípio, mais próximas do que hoje é chamado de picho - frases e sentimentos de revolta política faziam parte da sua composição. Porém, o picho é, atualmente, demonizado no cenário urbano. Por impregnar as paredes sem pedir licença, a intervenção é até ilegal, no entanto, ser considerado crime não parece fazer diferença para os pichadores e pichadoras, que desafiam a ordem pública.

Acadêmicos e artistas urbanos levantam o seguinte questionamento: o que leva a sociedade a aceitar o grafite, por exemplo, e criminalizar com mais vigor o picho?

Para os artistas de rua, a resposta está na ponta da língua: o grafite é belo, já a pichação é transgressora e não pretende agradar ninguém. Nas pichações, o cunho político invade as letras - geralmente bem trabalhadas - que terminam fixadas nos mais diversos suportes, no 'olho das ruas' das grandes cidades, sem qualquer cordialidade.


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/instagram

Em Maceió não é diferente. Basta pôr a cabeça na janela ou circular minimamente em qualquer bairro e lá estão: de palavras de ordem a protestos; ou ainda inscrições misteriosas, codificadas. Para alguns, rabiscos sem sentido poluindo a cidade; para outros, vozes silenciadas.

Para a justiça, no entanto, segundo o art. 65 da Lei no 9.605, tanto picho quanto o grafite, sem autorização, são crimes passíveis de detenção de 3 meses a 1 ano, além de multa.

Já para os artistas, os tipos de manifestações são um contato direto com a sociedade, oportunidade para expor algum incômodo ou ainda algo bom. De acordo com a declaração da Ursa, grafiteira maceioense, as pinturas na rua são algo que não seria visto pelas pessoas de nenhuma outra forma, caso não estivessem no local público.

No olho das ruas 


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Instagram

A Gazetaweb conversou com um pichador, que preferiu ser identificado apenas pela sua assinatura: Pac Man. Ele relatou como é ser pichador, transgredir as leis e o senso comum. Para ele, a pichação o move pelo pertencimento social: "quando picho, sinto que ocupo parte do que é meu, no caso as ruas", conta.

Por puro prazer, o carioca Pac Man diz que sai solitário pelas ruas, há cerca de dez anos, para dar vida à sua pichação. É a "adrenalina" que o move. A sua assinatura é famosa em Maceió, cidade onde o estudante de economia rabisca as paredes há cerca de sete anos. Ele diz que perdeu a conta de quantos pichos já fez na cidade, no entanto, afirma que fará muito mais.

Pac Man diz que não se considera artista, "eu acho que artista, por mais que hoje em dia não tenha muito valor na sociedade, vende a sua arte, está ligado ao comercial, e eu não me vejo neste meio, picho por prazer", explicou o carioca.

O pichador disse que tudo começou como uma brincadeira entre amigos, ainda no Rio. "A primeira lata custou R$ 15, aí eu deixava de comprar coxinha na escola pra comprar a tinta. Agora compro tintas em outros estados e no exterior, gasto cerca de R$ 300 anualmente", detalha Pac Man, que se mostra conhecedor do mercado de produtos exclusivos para arte urbana.

E ele explica que os pichadores consideram a escrita do nome com 'x' [pixação], por indicar a transgressão de padrões estabelecidos.


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Instagram

Quando questionado sobre o Jaraguá, local de grande número do tipo de manifestação, Pac Man é cordial: "eu tenho uma admiração imensurável pelo Jaraguá, acho que o poder histórico e cultural dele podia ser mais explorado. O meu sonho é vê-lo repaginado, com uma nova identidade visual, viva, e a arte urbana tem esse poder de transformação. Eu acho que o Jaraguá seria mais realizado se houvesse esse laço entre cultura, história e arte urbana", conclui.

O estudante de Designer Rafael do Nascimento explica a diferença entre o picho e o grafite. "O grafite tem uma vertente mais puxada para as artes plásticas, já o picho está mais ligado à tipografia, que é colocar nomes ou assinaturas nos lugares".

Segundo o universitário, existem pelo menos três tipos de pichos. "O picho tem algumas vertentes diferentes, que são como classificações. Por exemplo: a tag, que é uma letra de traços mais retilíneos; o xarpi, que é uma pichação rápida, não se prende a uma forma; e o bomb, que são letras mais boleadas".


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Instagram

Para a grafiteira Ursa, falta aproximação com o tipo de arte na sociedade. "Eu avalio que a sociedade entende do assunto bem superficialmente, portanto, julga que o picho é feio e o grafite, bonito? e que o picho é vandalismo, mas o grafite não. Tenta colocar os dois em caixinhas, mas estes nunca se encaixaram de fato", avalia.

Cidade & Signos 

Na universidade, o assunto é discutido. Um Projeto de Extensão, o Cidade & Signos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), não só estuda ambos os tipos de pinturas urbanas como, por meio delas, intervém na cidade, suavizando a dureza do concreto e transformando a história da paisagem urbana.

Para a professora Anna Maria, orientadora do 'Cid. Sig'. - como carinhosamente os bolsistas chamam o projeto - o grafite e o picho são manifestações de natureza anarquista. Ela esclarece as diferenças. "O grafite é algo bem preparado pelo artista, passa por um processo de elaboração estético, muitas vezes é desenhado ou usam um estêncil, tem a preocupação com as cores, com a beleza. Já a pichação é algo mais espontâneo, é rápido, direto, se preocupa às vezes com a grafia, mas o propósito dele é político", explica a professora.

E provoca: "A pichação é tida como mais incômoda porque ela tem mensagens que provocam, que transgridem, que invadem. Mais aí fica a questão, será que isso não é a vontade, a oportunidade daquele 'anônimo' de participar da paisagem urbana da cidade que também é dele?", questiona a professora.

"Nascem milhares das nossas, cada vez que uma cai"


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Facebook

Recentemente, há menos de um mês, a famosa Praça do Skate, ainda em reforma pela Prefeitura de Maceió, tornou a receber o tipo de 'intervenção efêmera' - o picho, mas ele durou bem menos que o comum. Em menos de 24 horas, a prefeitura cobriu a pichação, que trazia palavras de protesto, além de lançar nota de repúdio contra a atuação das pichadoras.

À época, o Secretário Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Semds), Gustavo Acioli Torres, afirmou ser receptivo à estética do belo ao convidar "artistas que se expressam por meio do grafite a fazer intervenções no local".

O professor de estética da Comunicação, Dr. Ronaldo Bispo, avalia. "É polêmico, não é simples se posicionar sobre o assunto. Eu diria, de forma pessoal, que algumas pichações acabam por tornar o espaço urbano mais agressivo, incômodo. Porém, há outro lado. Como no caso da Praça do Skate, na Ponta Verde, que foi uma manifestação política evidentemente pertinente. Mas tudo isso, como as próprias pichadoras disseram, faz parte do espírito da pichação, é efêmero. A pichação tem disso, é uma provocação rápida, uma arte efêmera, que tem sua pertinência, mas também tem sua lógica - que é, depois, ser apagada, coberta por tinta. Já o grafite, indiscutivelmente, tem sua relevância e valor artísticos muito bem estabelecidos".


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Reprodução/Instagram

Para o Ateliê Ambrosina, ONG feminista e de igualdade de gênero, o caso da Praça do Skate foi uma criminalização especificamente ao picho por, posteriormente, a prefeitura abrir o espaço a manifestação 'artística?'. Para a ONG, há uma incoerência na atitude da própria prefeitura já que ela diz visar a preservação do patrimônio público e, simultaneamente, fecha os olhos para tantos patrimônios públicos abandonados.

"No nosso ponto de vista o que houve foi a criminalização do picho. Existe sim uma legislação que protege o patrimônio público preservado, mas se a gente for entender que a falta de preservação do patrimônio público é também uma função do estado, então ele também vai ter que responder pelos vários prédios abandonados na nossa cidade. A Praça do Skate, inclusive, estava abandonada há 16 anos", avalia Bruna Teixeira, uma das fundadoras do Ateliê Ambrosina.

A prefeitura diz que o projeto de revitalização da Praça do Skate contempla intervenções artísticas em espaços da praça, e que a pintura nesses locais será realizada na última etapa dos serviços de revitalização. Os artistas interessados em realizar intervenções no local podem procurar a Semds e apresentar a proposta, que será avaliada, levando em consideração a viabilidade para a execução. A Semds reitera que não há critérios que excluem propostas, "desde que sejam de expressão artística".


			
				Arte: A beleza do grafite e a marginalidade atrelada ao picho nas ruas de Maceió
FOTO: Gilberto Farias

Por meio de nota, a prefeitura informa:

Aos artistas profissionais e amadores que desejam realizar intervenções artísticas em áreas públicas, a orientação é procurar a Semds, situada na Rua Marques de Abrantes, em Bebedouro, com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 08h às 14h. A partir da manifestação do interesse, a Semds vai avaliar a proposta, conforme a viabilidade para execução e o espaço desejado. Em muros ou espaços de áreas privadas, vale salientar, a intervenção somente pode ocorrer com a autorização do proprietário.

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