Nesta segunda parte da reportagem sobre o Riacho Salgadinho, a Gazetaweb vai apresentar um projeto que pode devolver a balneabilidade da Praia da Avenida, como também pode ser utilizado paralelamente aos "Jardins Filtrantes", destacado na reportagem anterior. Assim como, o trabalho feito pelo Ministério Público Estadual (MPE), por meio da Promotoria do Meio Ambiente para a "melhoria contínua para a qualidade urbano-ambiental na Bacia do Reginaldo".
É unânime entre todos os envolvidos nesse trabalho de recuperação e despoluição do Riacho Salgadinho que o problema principal é a falta de saneamento básico nos bairros que compõem a Bacia do Reginaldo. A Prefeitura de Maceió e o Governo de Alagoas, conforme foi apresentado na matéria anterior, têm elaborado e executado projetos que são o início da realização do sonho do maceioense, que é ver as águas do Salgadinho limpas e próprias para o banho.
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Mas, o que pouca gente sabe é que o Riacho Salgadinho faz parte de uma grande bacia hidrográfica de Maceió: a Bacia do Reginaldo, e o que também pouca gente sabe é que essa bacia tem início no bairro do Antares, parte alta da capital, conforme podemos observar na imagem abaixo:

O procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, ao assumir o comando do MPE determinou que uma de suas prioridades é recuperar o Riacho do Salgadinho. Desta forma, foi criada uma Força- Tarefa composta por três promotores: Alberto Fonseca, Antônio Sodré e Lavínia Silveira.
"Competirá à Força-Tarefa analisar as ações/omissões dos responsáveis pela fiscalização dos danos ambientais causados na área de influência do Riacho Salgadinho, bem como pela sua recuperação, adotando as medidas legais e judiciais cabíveis, através de metodologia de trabalho e procedimentos operacionais a serem estabelecidos pelos seus membros", diz trecho da publicação no Diário Oficial do Estado (DOE), no dia 1º de Fevereiro de 2017.

Desde então, dezenas de reuniões e ações com os órgão competentes foram realizadas para ter conhecimento sobre a real situação do Riacho Salgadinho e seus afluentes. De acordo com o promotor Alberto Fonseca, que preside a Força-Tarefa, a partir do momento em foram iniciadas as ações, diversos problemas foram surgindo, mas que ao invés de determinar que os governos municipal e estadual executassem ações, eles trabalharam para, em conjunto, procurassem soluções a curto, médio e a longo prazo.
"Para isso, houve uma necessidade de realizar um diagnóstico na região de influência do riacho, onde buscamos ações de curto, médio e longo prazo, no sentido de trabalhar na melhoria contínua da qualidade ambiental do entorno do Salgadinho. Sabemos que é necessário a elaboração de projetos, de possuir recursos e a execução. Tudo isso demanda tempo e nós vamos trabalhar em conjunto para que os resultados apareçam", disse.
Ainda de acordo com o promotor, o Procedimento Administrativo criado para a Força-Tarefa foi o responsável por gerar mais de 12 inquéritos, entre eles o que resultou na prisão de um engenheiro ambiental de uma grande construtora de Alagoas. Segundo ele, durante uma fiscalização realizado no Conjunto Cambuci, no bairro do Antares, foi detectado um grande despejo de esgoto "in natura" na Bacia do Reginaldo. O engenheiro foi preso em flagrante durante uma audiência com o próprio Alberto Fonseca.

"Ao mesmo tempo em que realizávamos uma das audiências, as equipes estavam lá no conjunto realizando uma fiscalização quando constataram o crime ambiental e o responsável pela obra estava aqui na minha sala. Ou seja, não tive outra escolha ao não ser dar a voz de prisão", contou.
Por fim, Alberto Fonseca destacou que as ações tem dado resultados e um deles foi a aquisição de equipamentos para Sala de Alerta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), uma nova sede para o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA).
Projeto paralelo
O renomado engenheiro alagoano, Wellington Coimbra, Phd em soluções hídricas, idealizou um projeto para balneabilizar a Praia da Avenida que, muitos anos vem sendo castigadas com o lixo e as águas poluídas do Riacho do Salgadinho. Ele foi o responsável pelo projeto de recuperação das orlas de Ipanema e Copacabana, no Rio de Janeiro, como também projetou o Canal do Sertão, em Alagoas.
De acordo com Wellington Coimbra, o projeto que ele elaborou representa menos de 10% da solução definitiva para o problema do Salgadinho, mas seria um paliativo para "devolver" a Praia da Avenida aos maceioenses e torná-la novamente um ponto turístico.
"Nasci e me criei tomando banho de mar na Praia da Avenida. Hoje me entristece vê-la nessas condições. Foi então que tomei a iniciativa de elaborar esse projeto que, a partir do momento em que as obras forem iniciadas, em menos de 1 ano as pessoas voltarão a tomar banho de mar no Jaraguá" contou.
O projeto foi apresentado pela primeira vez em um evento realizado na sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (Crea-AL).

O Projeto
Além do esgoto que é despejado sem nenhum tratamento em toda a Bacia do Reginaldo, há também o descarte irregular de lixo. O projeto consistiria em impedir que os resíduos sólidos e dejetos cheguem à Praia da Avenida com a construção de barreiras e o redirecionamento do esgoto para o Emissário Submarino para o devido tratamento.
Segundo Wellington Coimbra, o projeto consiste em instalar ao londo do Riacho do Salgadinho telas metálicas resistentes para "segurar" os resíduos sólidos evitando que cheguem à praia, e assim a Prefeitura fazer o recolhimento e descarte necessário.
"Essas telas são utilizadas em várias partes do mundo, inclusive em represas para segurar o deslizamento de pedras. São telas próprias para suportar grandes pressões. Com isso o lixo não ultrapassa e não chega no mar", contou.
Já para os dejetos, Coimbra explicou que o projeto prevê a construção de comportas embaixo da ponte do Salgadinho, que evita que a água poluída passe e chegue ao mar. Além disso, seria construído um tipo de poço onde bombas elétricas desviaram o curso das águas para o emissário Submarino e assim ser tratado.
"Hoje não existe mais o Riacho Salgadinho. Tudo aqui que vemos é esgoto puro que vai direto para o mar. As comportas serviriam para evitar que o esgoto chegue ao mar, como também que durante a maré alta, as águas do mar adentrem pelo leito do rio" explicou.
Segundo ele a execução do projeto está estimado em R$ 30 milhões. No evento do Crea, onde houve a apresentação, o então ministro do Turismo, Marx Beltrão (PSD) e o senador Benedito de Lira (PP), estavam presentes e garantiram os recursos via Governo Federal.
