Um empresário suíço do ramo imobiliário, nascido no Líbano, comprou a cartola que pertenceu a Adolf Hitler e vários outros itens nazistas em um leilão para que eles fossem mantidos longe das mãos de neo-nazistas. O comprador irá doar as peças a um grupo judeu.
Abdallah Chatila, um cristão que vive há décadas na Suíça, disse à agência Associated Press que pagou cerca de 600 mil euros (R$ 2,78 milhões) pelos itens em um leilão em Munique, na Alemanha, na semana passada, com a intenção de destruí-los, depois de ler sobre as objeções de grupos judeus à venda.
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"Eu queria me certificar que essas peças não cairiam em mãos ruins, do lado errado da história, então decidi compra-las", disse ele em uma entrevista por telefone.
Pouco antes do leilão, porém, ele decidiu que seria melhor doá-las a uma organização judia, e entrou em contato com o grupo Keren Hayesod-United Israel Appeal.
Chatila nunca sequer verá os itens - que também incluem uma edição folheada a prata do livro "Minha Luta", escrito por Hitler e uma máquina de escrever usada pela secretária do ditador - que serão enviados diretamente ao grupo.
"Eu não tenho nenhum interesse direto, de qualquer forma, apenas pensei que era a coisa certa a se fazer", afirmou.
O Keren Hayesod não respondeu aos pedidos da AP para fazer comentários.
O diretor europeu do grupo disse à revista francesa Le Point, no entanto, que embora ainda não exista uma decisão final sobre o que será feito com os itens, o mais provável é que eles sejam enviados ao memorial Yad Vashem, em Israel, que reúne uma seleção de artefatos nazistas.
A Associação Judia Europeia, que liderou a campanha contra o leilão, elogiou Chatila por sua atitude.
"Tamanha consciência, tamanho ato de generosidade altruísta para fazer algo que você sente fortemente é o equivalente a encontrar um diamante precioso em um Everest de carvão", escreveu o rabino Menachem Margolin em uma carta a Chatila obtida pela AP.
"Você deu um exemplo ao mundo em relação a esse macabro e doentio comércio de objetos nazistas".
Chatila disse que o rabino Margolin foi quem o inspirou inicialmente. Ele também admitiu que houve alguma crítica em seu país de origem.
"Sei que alguns libaneses não ficaram felizes com meu gesto, achando que eu estava ajudando o ?inimigo?", disse o empresário em seu escritório em Genebra, fazendo o gesto de aspas no ar ao se referir às tensões entre Líbano e Israel.
"Por outro lado, muitos israelenses pensaram que foi um grande gesto porque é outro passo em direção à paz - ou algo próximo da paz", acrescentou.