Com segurança e disciplina das pessoas, o consumo vai voltar de modo diferente. É no que acredita o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA), industrial José Calos Lyra. Ele disse compreender a ansiedade e, principalmente, a necessidade do retorno das atividades comerciais. Tanto que compreende a reação da categoria diante dos novos prazos estipulados pelo Governo do Estado. Entretanto, destacou a relevância de se ter um planejamento para o retorno.
"O setor privado não aguenta mais ficar fechado. Vai ter empresas que, se continuarem fechadas, não abrem mais. E aí, o desemprego? Você vai ter um remédio que vai matar mais que a doença, porque o desemprego já está causando suicídio, estresse e um monte de problemas pessoais dos que estão isolados e na iminência de perderem os seus empregos", afirmou Lyra.
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Ele acredita que, para a economia voltar a evoluir, é necessário o retorno das atividades. Com o olhar macro para a economia, lembra que o ciclo de venda e consumo que foi interrompido tem desdobramentos na arrecadação dos estados e municípios, mas que, por consequência, se afetar o emprego nestes setores, aumentam, também, os números negativos, já que, no setor terciário, todos empregos são de carteira assinada.
"Nós propugnamos para que seja feita uma reabertura da economia, pautadas e tomadas as devidas medidas sanitárias, para que a economia volte a evoluir e não tenhamos um desastre de desemprego e fechamento de empresas", pontuou o presidente da Fiea.
Crise
A crise econômica e a recessão decorrentes da pandemia são realidades sobre as quais os especialistas, os empresários do país inteiro têm se debruçado. A única certeza é uma mudança nas relações de consumo presencial, com aumento do comércio eletrônico e dos ambientes físicos.
"É um ano atípico. Tenho 50 anos de formado e 73 de idade e nunca vi nada igual. Não passei pela 1° e 2° Guerras Mundiais e pode ser que tenham sido piores. Mas, de todas as crises que nós já passamos, nada tem nenhum parâmetro que se possa comparar com esse problema do Covid-19", analisou o industrial.
Por isso, entende que a principal lição que pode ser tirada é de que todos têm a necessidade de trocar informações e experiências nos demais estados para se copiar e aplicar o que deu certo. Para José Carlos, já existem iniciativas, nos estados que iniciaram anteriormente a flexibilização do isolamento social.
Ele lembrou que esta realidade tem sido constatada nas unidades onde os gestores, desde o início, optaram por tratar de modo diferenciado os pacientes no início da doença. E é com base em informações repassadas pelo próprio Governo alagoano, que tem divulgado estruturas para o atendimento que o industrial acredita que estão sendo criadas as condições para o retorno.
"Eles aplicaram logo as medicações e não se deixou avançar tanto a doença para os quadros de UTI. O Mato Grosso do Sul, o Paraná e Santa Catarina são exemplos que tomaram providências diferentes. E até mesmo aqui, agora, o Governo já está fazendo isso, com distribuição de medicamentos nos Centros de Síndromes Gripais, para se evitar que a doença chegue até o hospital", disse o industrial de acordo com dados oficiais.
Até ontem pela manhã, quando recebeu a reportagem da Gazeta Digital, ele confirmou que foi avisado sobre a estrutura de hospital que vai ser inaugurado no interior para aumentar a oferta de leitos. Então, diante desta realidade e da tendência de "achatamento na curva de contágio", ele defende a reabertura das atividades.
"Isso dá uma certa segurança para que se possa abrir a economia e a gente possa começar a reaquecer o setor empresarial. O comércio está sofrendo tremendamente. Eles estão desesperados", acrescentou Lyra, apoiando o escalonamento da reabertura dividido em faixas.
Como a cadeia produtiva é algo vivo, a interrupção de uma das etapas, como o consumo, tem reflexos que afetam também o setor produtivo, já que a regulação do que é feito depende da demanda. Deste modo, o presidente da FIEA acredita que é necessário um envolvimento de todos os setores desde a gestão, dos consumidores e, também, da Justiça para que entenda essas necessidades.
Crédito
Com a falta de vendas e dificuldades de renovar estoque ou, até mesmo, repor mercadorias, a liberação de crédito para os empresários é uma medida considerada estratégica. Segundo o presidente da FIEA, o chamado "capital de giro" deve impulsionar os negócios.
"É uma alternativa, ou melhor, uma grande alternativa se conseguir capital de giro para as empresas a um custo compatível para que eles possam pagar suas contas e seus salários até que recuperem o seu faturamento", defendeu Lyra.
O problema, porém, é que, mesmo com todas as discussões feitas até o momento com o Ministério da Economia, esse dinheiro ainda não foi liberado. De concreto nada foi definido, exceto iniciativas de bancos privados que, por conta da lógica comercial que têm, complicam mais do que viabilizam os investimentos.
"O Governo Federal acenou para as micros e pequenas empresas um dinheiro a um custo barato, mas, operacionalmente, isso não foi viabilizado. Isso seria uma grande saída e uma ajuda grande para que empresas consigam se manter funcionando", acredita o presidente.
Angústia
Sem crédito e com expectativas frustradas por terem perdido mais uma data importante para o setor do comércio, é inegável o sentimento de frustração. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio) também lembrou que os 12 dias a mais de espera para a reabertura das lojas foi um balde água fria. Tudo porque, conforme a negociação que vinha se desenhando junto aos técnicos do Governo Renan Filho (MDB), a reabertura seria para garantir as vendas para o Dia dos Namorados.
"Nesse movimento, as empresas preparam-se para voltar a funcionar. Então, não é exagero dizer que o comércio está pronto para uma reabertura imediata. A expectativa era de que isso ocorresse semana passada, com o novo decreto, o que não aconteceu. Serão mais 12 dias de lojas fechadas e algumas nem conseguirão reabrir", confirmou o presidente da entidade, Gilton Lima.
Ele lembrou, também, que, desde o início que houve a necessidade do isolamento social, o setor não só apoiou como também aderiu as medidas como forma de proteger, inclusive, os respectivos colaboradores. Em outro momento as empresas realizaram investimentos com base nas orientações de biossegurança para se prepararem para o retorno.
"Os empresários estão angustiados com a situação e buscam alternativas para a preservação de empregos e dos próprios estabelecimentos, mas, quanto mais demorar, mais difícil ficará", considerou Gilton.