Um problema e uma solução. Morte de cães com otite e equipamento para impedir entrada de água no ouvido. Quer mais? Até um robô "entra na onda" para ajudar nos problemas diários, como retirada de leite nas vacas de forma autônoma. Como resultado, prêmios estaduais e nacionais conquistados pela equipe TecMade Robótica, um pequeno grupo de jovens estudantes do Sesi/Senai com um potencial sem tamanho, que "está fazendo estrago" neste universo inédito e tentador chamado robótica.
Ao final de maio, os meninos chegaram da Dinamarca, onde representaram Alagoas em uma competição intitulada First Lego League (FLL), que envolveu 118 equipes de mais de 50 países. A equipe alagoana saiu vencedora, com o troféu de 2° lugar na categoria Design Mecânico do Robô.
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"Competimos e chegamos onde queríamos estar, pois conseguimos premiação internacional e estamos verdadeiramente alegres", afirmou o professor Eduardo Monteiro, logo após a conquista de um prêmio oficial de nível mundial.
Antes da conquista, aGazetawebesteve na Unidade Integrada Sesi/Senai, situada no Benedito Bentes, e constatou a produção realizada por José Luiz Costa, 17 anos; Fernando Cavalcanti, 17; Marcos Freire, 17; Maria Samia, 17; Noemy Araújo, 17; Matheus Vieira, 16; e Joab Almeida, 18 anos; além de Victor Dantas, 19 (mentor e intérprete); e o técnico da equipe, o professor de Robótica Eduardo Cerqueira, da disciplina Oficinas Tecnológicas. Os trabalhos contam com o auxílio da pedagoga Elaine Lopes.

A formação da equipe partiu do técnico, que encontrou habilidades e ideias diferentes para um só objetivo. O grupo conta com estudantes dos cursos de Logística e Administração e Rede de Computadores.
"Aqui nós temos aluno com aptidão textual, facilidade de se comunicar, de construir equipamentos e de fazer artes gráficas. A partir desse contexto, montamos a equipe e começamos os treinos no ano passado, com a primeira participação acontecendo em fevereiro deste ano, na etapa regional em Salvador, onde conquistamos o primeiro lugar geral. Já em março, conquistamos o terceiro lugar em Brasília, como a terceira melhor equipe de robótica do país. Na Dinamarca, vamos representando o estado e o Nordeste", explicou Eduardo.
O desafio da competição deste ano para a turma de aprendizes foi a produção de um equipamento voltado ao tema mundial Animal Allies (Animais Aliados), ou seja, os jovens aprendizes desenvolveram o protetor auricular canino Hydro Protect, feito com silicone líquido, vasilina, catalisador, velcro, espuma e pigmento.

"Com relação ao problema, verificamos que até 20% da população canina mundial morre com otite, uma infecção no ouvido devido ao acúmulo de bactérias com a entrada de água, podendo atingir nós, humanos. Portanto, o objetivo do protetor é impedir a entrada de água. Já testamos o equipamento no canil do Bope [Batalhão de Operações Policiais Especiais] e conseguimos uma validação da veterinária responsável. A produção é algo inédito no mundo", explicou Fernando Cavalcanti, um dos membros da equipe.

E o duelo tecnológico não acabou por aí, pois a turma ainda teve que desenvolver um robô apto a diversas atividades do dia a dia. Como o tema é voltado ao mundo animal, os estudantes produziram a máquina, que faz, por exemplo, ordenha nas vacas, extrai o mel em colmeias e distribui alimentos para bichos, tudo de forma autônoma e lúdica. O robô - feito com peças de lego apenas - sofre mutações para se adaptar às ações rotineiras. Além disso, a terceira produção da equipe foi um pôster mostrando os valores da competição.
"A submissão dos trabalhos é rigorosíssima, porque, primeiro, lançamos o produto em inglês, depois, apresentamos o pôster e, por último, mostramos o desenvolvimento do robô, que recebeu o nome de Gegeo, em homenagem ao nosso ex-técnico Geovane", disse Luiz Costa.

Apesar de todas as conquistas alcançadas pela equipe, as dificuldades foram muitas ao longo do caminho. O problema que mais impactou os alunos foi o fechamento da Escola Sesi de Marechal Deodoro - onde os estudantes moram - e a imediata transferência para Maceió, além da falta da mesa específica para treinar o robô, o que atrasou sua montagem. Eles, porém, conseguiram uma emprestada com estudantes da Bahia.
"Como se não bastasse, perdemos o nosso técnico com o fechamento da unidade e tivemos que treinar sozinhos, colegas passaram por cirurgia, tivemos problemas com material destinado aos trabalhos, além da distância, já que voltamos todos os dias para Marechal. Tem um membro que mora em Marechal, desenvolve o projeto em Maceió e estuda em Atalaia", disse a estudante Maria Samia, acrescentando que a equipe "não sabe o que é fim de semana e feriado, mas que tudo valeu a pena para o resultado final".
No decorrer da entrevista, os alunos citaram a importância dos oito valores exigidos pela competição de caráter mundial. São eles: "Somos um time", "Nós nos esforçamos para encontrar soluções com a ajuda de nossos técnicos e mentores", "Nós sabemos que nossos técnicos e mentores não sabem todas as respostas; mas nós aprendemos juntos"; "Nós honramos o espírito de competição amigável", "O que descobrimos é mais importante do que ganhamos", "Nós dividimos experiências com os outros", "Nós nos divertimos" e "Nós praticamos o gracious professionalism em tudo o que fazemos".
A equipe, que não dorme no ponto, ainda produziu outro valor para ser integrado à lista internacional de critérios: "Mesmo que surjam motivos para desistir, nós precisamos de apenas um para continuar". "Lançamos para a FLL e a liga está analisando a frase e o texto que elaboramos. Se aprovado, o valor será incorporado aos demais e, mais uma vez, Alagoas terá seu reconhecimento", destacou o professor Eduardo.

HISTÓRICO
A equipe TecMade Robótica (Tecnologia de Marechal Deodoro) foi criada em 2015 e, em dois anos, já subiu em palcos mais de 20 vezes para receber troféus. Os prêmios conquistados foram na Olimpíada Brasileira de Robótica, Torneio Regional de Robótica FLL, Torneio Nacional de Robótica FLL, Torneio Internacional de Robótica FLL, Prêmio Contra Todas as Adversidades, Prêmio Inspiração, Aberto Europeu de Robótica FLL e Torneio de Robótica Sesi Alagoas.
"Temos pouco tempo de estrada, mas já conseguimos bons resultados aqui no estado, em outros estados e lá fora. É muito importante o envolvimento desses alunos, que possuem um grande potencial", ressaltou o técnico.
ESTÍMULO AO ENSINO
De acordo com a Secretaria de estado da Educação, no ano passado, 50 escolas da rede estadual tiveram a robótica inserida na grade escolar, e, neste ano, mais 45 unidades inseriram-na como disciplina. Até o início de 2016, apenas duas escolas desenvolviam a prática da robótica. Vendo nisso o engajamento dos alunos, a secretaria preferiu investir neste campo e, em poucos meses, os estudantes desenvolveram trabalhos que se destacaram bastante.

Como investimento em tecnologia, foram adquiridos três mil computadores para a rede estadual (no total de 140 escolas). Neste contexto, foi desenvolvido o Programa Escolaweb, em que as unidades recebem recursos para contratar internet banda larga e realizar a manutenção de laboratórios.
Para o secretário de estado da Educação, Luciano Barbosa, investir em robótica e em tecnologia é imprescindível nos tempos atuais em que os jovens se encontram conectados o tempo todo."O uso da robótica, além de trazer as novas tecnologias para a sala de aula, torna o ensino mais atraente e instigante, fazendo o aluno vivenciar a aprendizagem com a realidade do cotidiano", declarou.
A secretária executiva de Educação, Laura Souza, assinalou que a robótica é uma das mais promissoras estratégias pedagógicas para estimular os processos de aprendizagem. "Por meio destes laboratórios, queremos aumentar o interesse dos alunos da rede estadual pelas carreiras de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática, proporcionando novas perspectivas de ascensão pessoal e profissional. Os alunos envolvidos apresentam melhoria significativa do rendimento escolar, com aumento da atenção, da flexibilidade e da capacidade de resolução de problemas".
UMA PREOCUPAÇÃO?
Segundo o consultor em tecnologia Valdick Sales, a robótica é o futuro. Logo após a Segunda Guerra, o mundo passou pela Revolução Industrial e já existia a automatização, que é um processo da robótica. "Na hora em que você é mordido pelo mosquito, os seus estímulos são repassados ao cérebro, que promove uma reação. A mesma coisa é o que chamamos de inteligência artificial, só que, desta vez, de forma mecânica. No Japão, já existem secretárias e guias robôs. Já existem aspiradores de pó que detectam onde tem poeira e identificam quando está com bateria baixa, indo até a tomada sozinhos. Isso não tem jeito, é parte da evolução do homem", expôs.

