Diz o ditado que filho de peixe, peixinho é. Albiégio Victor Silva Gouveia, de 24 anos, é daqueles que comprova o dito popular. Concluindo o curso de Fisioterapia, ele decidiu seguir à risca os passos do pai, Albiégio da Cruz Gouveia, 57, e hoje os dois trocam figurinhas quando o assunto é a carreira profissional.
A influência paterna é clara nisso. "Minha escolha inicial era de fazer uma graduação na área da saúde, tinha convicção disso. Porém, sabia que era um caminho difícil a ser trilhado, mas ver meu pai deixando as pessoas 'boas' me fez querer ainda mais seguir a carreira dele", conta o filho.
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As lembranças da infância ajudaram na escolha. Era nessa época que o menino ia ao hospital em que Albiégio da Cruz trabalhava e podia ver, de perto, o pai curando com as mãos. Para o pequeno, um verdadeiro herói. O carinho de quem era atendido também pesou na decisão final.
"Meu pai sempre foi muito querido pelos pacientes, sempre ganha presentes, um carinho, um agradecimento por ter devolvido a boa vida que eles um dia tiveram. Meu pai fazia e faz muito mais do que simplesmente reabilitar, ele realmente faz o trabalho com humanidade, e isso o faz ser quem ele é!", expõe.
Os dois já chegaram a atender as mesmas pessoas. O filho conta que, no começo, vinha aquele susto, o medo de comparação. "Mas, depois, o pessoal ficava maravilhado com a situação e sempre consegui dar a mesma atenção, fazer até eles sentirem saudade. Também tem daqueles que acham o toque familiar".

São experiências marcantes, assim como o conforto oferecido pelo patriarca. Discutir casos clínicos é um dos passatempos dos dois. "Nossos momentos bons sempre vêm dentro de casa. Às vezes o atendimento do paciente é meio desgastante e ele me acalma, conversa, a gente discute os casos".
E não é só na área profissional que pai e filho se dão bem. Em outro campo, o do futebol, a dupla também joga junta. Acompanhar as partidas, ir ao estádio e ver o time do coração, o Centro Sportivo Alagoano (CSA), está entre as atividades preferidas dos dois.
"É um momento em que ficamos mais próximos. Agora que ele chegou perto da aposentadoria, estou conseguindo sair um pouco com ele, levá-lo ao estádio. Esses são os momentos mais marcantes, conversar sobre os casos clínicos e sobre futebol", aponta Albiégio Victor.

Já o patriarca conta que ficou surpreso quando soube da escolha de curso do jovem. E se diz também impressionado com a evolução dele como fisioterapeuta. "Ele é muito aberto, extrovertido. Abrangeu a profissão de um modo que fiquei surpreso. Já dá aula de anatomia e outras matérias, é monitor, dá palestras".
Albiégio da Cruz recorda que o filho começou a se interessar mais pela profissão na adolescência, quando começaram as perguntas mais aprofundadas sobre a carreira. E, apesar de os dois pretenderem especialidades diferentes - o pai é da área motora e o filho espera seguir na acadêmica -, o orgulho é mútuo.
"Fico muito satisfeito, porque fiz tudo por ele e ele está correspondendo muito bem. O criei sozinho desde os dois anos, foi difícil, foi duro, mas hoje ele é um homem e não porque veste uma calça, mas pelas atitudes. Estou feliz com o caminho dele", aponta.
O patriarca também é motivo de elogios por parte da cria. "Que eu tenha ele sempre por perto. Durante um certo tempo ele foi pãe, pai e mãe ao mesmo tempo, e esse período foi muito difícil e marcante. Hoje digo que tudo que sou devo a ele. queria dizer que o amo demais".

Pai e filha: sócios
A história dos Albiégios lembra a de Neto Francelino e Juliana Aragão. Ao sair do ensino médio, a então menina ainda seguia indecisa com relação à carreira. Chegou a tentar duas faculdades, mas acabou desistindo. Foi quando ela decidiu ser bancária, mesma profissão exercida por ele há quase 30 anos.
Ele diz que a ideia começou por volta dos 18 anos da filha e, no início, ele desencorajou a empreitada. "Mandei ela estudar, porque ser bancário não tinha futuro, mas já estava no sangue. Minha mãe também foi bancária a vida toda", conta Neto, que terminou por aceitar a escolha e tratou de ajudar Juliana.

Ao saber de um teste no banco em que trabalhava, avisou a ela, que foi aprovada. "Foi meio que uma coisa de destino mesmo, porque acabei me identificando com algo que nunca me imaginei fazendo. E a partir daí comecei a me espelhar nele, que sempre foi muito querido e respeitado".
Os dois já trabalhavam na mesma profissão há certo tempo quando o patriarca saiu da instituição financeira em que estava e resolveu abrir a própria empresa, uma factoring - atividade comercial que fomenta operações financeiras. Era a oportunidade para que ambos virassem sócios.
"Eu saí do banco em que estava e ela continuou no emprego dela. Abri a empresa e, um tempo depois, recebi o convite para voltar ao mercado, aceitando a proposta. Chamei a Juliana para trabalhar comigo e ela saiu do emprego no banco e veio tocar a empresa. Agora está como minha sócia tocando nossa bodeguinha", explica Neto.
Juliana acrescenta que o pai está sempre por perto, aconselhando e direcionando quando é preciso. E, entre eles, nada de brigas: a convivência no negócio é pacífica. "Somos muito parecidos no modo de pensar e conduzir as situações que surgem no âmbito de trabalho, o que facilita bastante".
O mais gratificante para ela é poder trocar figurinhas com quem a viu nascer e crescer. Saber que ele tem orgulho do que ela faz também emociona a empresária - que já chegou a estudar jornalismo antes de tudo isso. E o patriarca nutre mesmo admiração pela cria.

"Ela é muito eficiente, muito mais até que eu. Não sabia dessas qualidades até ela trabalhar comigo. Hoje digo que entreguei a empresa na mão dela e ela toca 100%. O sucesso é exclusivamente dela. Tenho muito orgulho pela minha filha ser tão eficiente e eficaz no que ela faz", aponta.
A filha é só agradecimentos. "Queria agradecer por todas as oportunidades que ele me deu, pelo fato de confiar em mim e no meu potencial e desejar um Feliz Dia dos Pais! Sou muito abençoada por ter um pai-espelho, presente, íntegro, honesto e muito querido. Vamos do clichê: o dia é dele, mas o presente o meu!".