"Isso é uma obra de arte de valor inestimável", disse a agente de segurança Else Nadja, 32 anos, ao admirar o trabalho do grafiteiro Joe Santos, um dos novos artistas alagoanos que vai expressando suas ideias, paixões e inspiração pelos por toda a cidade. Há quem ache que se trata de vandalismo, há quem admire como uma obra de arte, mas uma coisa é certa: o grafismo vem conquistando novos espaços, novos admiradores e o respeito da sociedade.
O surgimento do grafite aconteceu na década de 1970, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Alguns jovens começaram a deixar suas marcas nas paredes da cidade e, algum tempo depois, essas marcas evoluíram com técnicas e desenhos. No Brasil, a arte foi introduzida no final desta década em São Paulo. Os brasileiros não se contentaram com o grafite norte-americano, então começaram a incrementar a arte com um toque brasileiro. O estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo.
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Em Alagoas, não há registros oficiais de quando o movimento deixou sua marca pela primeira vez, mas, certamente, todo mundo já viu e admirou um grafite legitimamente alagoano.

O grafiteiro e estudante universitário, Joe Santos, de 28 anos, é um dos artistas alagoanos mais conceituados atualmente no cenário do grafite brasileiro. Ele possui intervenções em muros, viadutos e espaços públicos, fachadas de empresas e residências em Maceió e outras cidades do Nordeste.
"Desde moleque eu desenho, mas comecei o grafite há pouco tempo. Divido meu tempo com o trabalho e com meu irmão, que é especial, então fica muito difícil trabalhar com um parceiro ou em grupo. Assim, geralmente eu saio só para desenhar", expõe Joe Santos.
Nossos sonhos na parede, nossas ideia são limpas/ Nos muro da cidade, prega arte e liberdade/ Sempre na atividade, pega a vibe, reparte/ Daqui eu faço minha parte prego uma ideia também/ Prego o bem, faço o bem, não quero mal a ninguém [...]
A letra da música do cantor de hiphop, Chá Preto, expressa exatamente o sentimento dos grafiteiros quando estão em ação. Inclusive Joe, que diz que o grafite lhe proporciona uma sensação de liberdade e que quando está pintando ele se sente feliz. "Naquele instante em que estou pintando, me sinto feliz e isso tudo é transferido para as minhas artes", contou.
Sobre os registros que ganham paredes em ruas de Maceió, o grafiteiro Joe Santos, que também já passou pelas técnicas de desenhos mais tradicionais, conta que a inspiração para os grafites surgem das coisas do cotidiano.
Ele desenvolveu um estilo próprio de desenho, que transformou-se em sua marca registrada. Com cores fortes, traços expressivos e com uso da técnica do "fine line", ele desenha paisagens, animais, temas de filmes, artistas e até caricaturas de amigos. Os materiais utilizados pelos grafiteiros vão desde tradicionais latas de spray até o látex.
"Não tenho um tema definido ou um desenho que gosto de fazer. Com exceção de trabalhos contratados com temas já definidor, eu gosto muito de usar minha criatividade e ir desenhando", relatou.
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Apesar de o Brasil ser um dos países referência na pichação e no grafite, essa realidade está bem distante de Maceió. Para os artistas, isso se deve à falta de incentivo ao artista e ao mercado limitado para arte no Estado. Joe reclama que em Alagoas o incentivo à arte está muito aquém dos demais estados.
"Ainda estamos longe de ter uma cena forte em Alagoas. A falta de incentivo do poder público é grande e dificulta trazer eventos para cá. Recentemente realizamos pinturas em monumentos públicos, mas o incentivo poderia ser maior e melhor", reclamou.
Para o grafiteiro, não existe uma superfície específica para grafitar. Para eles, todo lugar é bom para pintar: paredes, muros, janelas, portas, telhados, no chão, na calçadas. Qualquer lugar é possível pintar.