É de conhecimento geral que Alagoas é atraente por suas belezas naturais, em especial, a beleza dos mares. O que ainda não é tão popular assim, porém, é a prática do turismo aquático no Estado, mesmo que os mares alagoanos abriguem grande diversidade de ecossistema e muitas histórias, como é o caso dos naufrágios que ocorreram na costa alagoana desde o ano de 1556. Percebendo a riqueza desse ambiente, empresas têm se dedicado em proporcionar a alagoanos e turistas a prática de mergulho esportivo com cilindro e oferecem até cursos profissionalizantes.
Segundo a instrutora de mergulho e sócia da operadora de Let's Dive, Fernanda Paiva, a procura pelo esporte e pelos cursos, que podem resultar em uma profissão, ainda é pequena. Ela explica que são os turistas o público principal. "Mesmo vivendo em um Estado considerado o paraíso das águas, a população local ainda não sabe da possibilidade de praticar o mergulho e que, aqui, é um esporte de fácil acesso", diz ela, que trabalha para promover a cultura do mergulho. "Queremos ver os alagoanos desfrutando desta maravilha".
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A Let's Dive é uma operadora de mergulho licenciada pela Professional Association of Diving Instructors (Padi) - em português, Associação Profissional de Instrutores de Mergulho. E os cursos e especializações oferecidos por aqui têm despertado a atenção de apreciadores do esporte Brasil afora, como é o caso da paulista Érika Nezu, que ficou muito feliz pela decisão de mergulhar em Maceió devido à diversidade e à pureza da vida marinha. "Aqui tem uma diversidade maior de corais e algas do que em São Paulo. Lá os oceanos estão infestados de um coral considerado uma praga; já nesta cidade, eu consegui ver tipos de vida marinha que, anteriormente, ainda não tinha visto. Isso é o diferencial", ressalta.

Mas a decisão de realizar o curso em Alagoas vai além das límpidas águas, como conta a curitibana, Angelita Cogo. "É como diz aquela música, 'Ô Maceió você roubou meu coração'. Isso aqui é o Caribe brasileiro! Quando cheguei me deparei com esse pedaço de paraíso e fiquei encantada. Na minha opinião, Maceió é a cidade mais linda do Brasil. Agora, tudo isso atrelado à culinária e ao povo, pois o alagoano é simpático, comunicativo e alegre, me faz amar esse clima", detalha ela.

A prática de mergulho é considerada uma das mais eficientes entre as atividades físicas - o esporte proporciona ao mergulhador a perda de 900 calorias por hora, o fortalecimento dos músculos, principalmente os das pernas, melhora a eficiência respiratória, além de ser uma atividade relaxante, que ajuda a aliviar a tensão e o estresse. "É um ambiente totalmente agradável, me sinto calmo, o mergulho é um esporte que, além de me causar um extremo prazer, me tranquiliza", conta o mergulhador Caio Queiroz.
Desde os oito anos de idade já é possível realizar o batismo, como é conhecido o mergulho para iniciantes. Já os cursos só são possíveis para quem tem a partir de 10 anos. A idade máxima para o mergulho não é definida: basta dispor de saúde e, caso o interessado no esporte tenha alguma complicação de saúde, deverá consultar um médico antes da atividade.
A única condição que proíbe estritamente a atividade é a gravidez, pois tanto a absorção de nitrogênio quanto a exposição à alta pressão em águas profundas podem lesar o feto, ou o bebê, em casos de gravidez avançada.
A prática esportiva é acessível também a pessoas que não dispõem de movimentos de membros, como braços e pernas. "O mergulho é para todos. O deficiente físico pode fazer o mergulho adaptado. E para nós, profissionais, acompanhar essas pessoas é fantástico, pois eles se sentem libertos, e a sensação de não estar ligado a uma cadeira de rodas, de estar flutuando, deve ser muito boa. A emoção que essa pessoa vive é algo que ficará marcado para o resto da vida dela e pra gente ser o responsável por isso é uma satisfação muito grande", conta a instrutora Fernanda.
Nem tudo, porém, são maravilhas. A empresária relata as dificuldades. "O mar de Maceió são excelente ponto de mergulho, o que falta é a iniciativa do governo para melhorar a infraestrutura; não há pier, sem ele não há como ter operações com total eficiência. Imagina um cadeirante subindo em uma embarcação", aponta Fernanda, que reclama ainda da falta de fiscalização e da caça predatória. "As pessoas pegam arraia, mero - peixe ameaçado de extinção -, entre outros. Daqui a pouco vai virar um deserto azul, com água fantástica, naufrágios, mas sem vida", lamenta.

Para além dos encantos com a riqueza da natureza local, mergulhadores desfrutam dos naufrágios da costa alagoana. Segundo o pesquisador carioca Maurício Carvalho, que registra naufrágios há mais de 20 anos, Alagoas tem 51 deles, ocorridos entre os anos de 1556 a 1960. Quatro são rotas constante de mergulhadores: os navios Dragão, Draguinha, Sequipe e Itapagé, este último considerado um dos 10 naufrágios mais importantes do Brasil.

Conheça as histórias
Dragão
A embarcação draga, veículo utilizado para remover material submarino, é do início do século XX, naufragou no ano de 1927, a cerca de 30 a 35 m de profundidade em uma distância de 6 milhas da costa da capital alagoana. Foi dado a ela o nome de Dragão, mas pesquisas em documentos da Marinha do Brasil indicam que trata-se da embarcação André Rebouças. Ela encontra-se emborcada.
Draguinha
O nome Draguinha foi dado a outra embarcação com a mesma propriedade do Dragão, sendo que ela tem dimensões menores. Segundo os registros do pesquisador Maurício Carvalho, trata-se da Draga nº 9, de propriedade da Companhia Nacional de Construções Civis e Hidráulicas. O navio zarpou do Rio de Janeiro com destino a Recife, porém, já no Espírito Santo, passou por complicações. A partir de lá a Draga nº 9 passou a ser rebocada e ao chegar na costa alagoana, em 14 de julho de 1961, naufragou a cerca de sete milhas da praia de Pajuçara, em Maceió, em uma profundidade de 30 metros. Neste navio, é possível penetrar no casco e há muitas passagens no interior dos destros e pontos de luz.
Sequipe
Ainda segundo as pesquisas do Maurício Carvalho, o navio Nevelloyde nº 4, de nacionalidade brasileira, naufragou em 6 de novembro de 1935, quando estava sendo rebocado. A embarcação encontra-se a seis milhas do mar de Ponta Verde, em Maceió, em uma profundidade de em média 29 m. O navio permanece com estrutura conservada, com pontos rompidos no convés e laterais.
Itapagé
Considerado o mais importante naufrágio que aconteceu em Alagoas, o navio Itapagé foi bombardeamento em 26 de outubro de 1943, no mar de Lagoa Azeda, no município de Jequiá da Praia. Há especulações de que esta situação tenha motivado a participação do Brasil na II Guerra Mundial.
"Na época, 33 navios mercantes foram afundados. Quando o Itapagé foi afundado, o Brasil ainda não estava em guerra contra o Japão, a Itália e a Alemanha. O que estava acontecendo é que o nosso país tinha relações cortadas, tendo em vista as atrocidades que estavam acontecendo na guerra e os prejuízos de ordem humanitária. A questão do naufrágio do Itapagé é que já existiam leis que definiam até onde iam o mar territorial brasileiro, o italiano e principalmente o alemão", conta.
Ele continua: "Saíram da Europa com submarino, vieram colados à nossa costa para levar a pique navios que carregavam brasileiros. A Major Elza - enfermeira oficial que trabalhou na época no hospital Santa Casa - conta em uma entrevista que a embarcação tinha uma carga ácido e outra de diesel. Quando se junta esses materiais, o normal é que haja uma combustão absurda, então as pessoas começaram a se jogar do barco e viram que o navio estava afundando. Nesse meio tempo, o submarino que bombardeou veio à tona, instalou metralhadora na proa e começou a atirar nas pessoas que estavam tentando se salvar", revela o coronel Frederico, da 20ª Circunscrição de Serviço Militar (CSM), onde fica o museu da II Guerra Mundial.

No espaço, que fica localizado em frente à Praça Olavo Bilac, 33, Centro de Maceió, há objetos que foram resgatados do Itapagé. Lá é possível encontrar partes da embarcação, louças, talheres, garrafas, entre outros materiais.
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