Alagoas está em plena alta temporada - período que vai de 17 de dezembro a 18 de fevereiro - e a estimativa é que o estado receba cerca de 600 mil visitantes dispostos a apreciar as belezas da terra, os costumes, as tradições, a cultura e a arte. São hotéis, pousadas, bares, restaurantes e praias lotados de turistas. Porém, nem todo mundo que vem ao estado chega a conhecer tudo de bom que ele tem a oferecer. Para a Secretaria do Estado da Cultura (Secult), que possue apuração de visitação de apenas 5% dos museus do estado, durante o período da Alta Temporada cerca de 3 mil pessoas devem visitar tal porcentagem de equipamentos culturais durante o verão.
O estado abriga grandes riquezas culturais e conta com um grande acervo folclórico e antropológico, com histórias e elementos da época do Quilombo dos Palmares, ou seja, peças com mais de 500 anos de história; objetos da cultura nordestina, como peças do próprio Lampião e Maria Bonita; relíquias de arte sacra e da Segunda Guerra Mundial; exposições sobre ilustres alagoanos, bem como acervos com obras de artesãos populares, peças contemporâneas, entre tantas outras expressões culturais.
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FOTO: Reprodução/Instagram tenorio_VSegundo o Sistema Alagoano de Museus (SAM), em Alagoas há 82 equipamentos culturais desse tipo, sendo que mais da metade deles são particulares. No entanto, desse total, 95% são de acesso gratuito. Todos eles têm autonomia para definir sua própria legislação, o que abrange dias e horários de funcionamento.
Sendo assim, a maioria deles não abre aos fins de semana e nem durante os feriados, impedindo que grande parte das pessoas visitem as exposições e conheçam parte da história de Alagoas.
O SAM revela que não há dados quanto ao número de visitação aos museus do estado, pois não há obrigatoriedade das instituições serem vinculadas ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que coleta dados no sentido de ter uma ampla visão do funcionamentos dos equipamentos culturais do país para possíveis melhorias, como financiamentos, promoções e capacitações. Segundo o SAM, dos 82 museus do estado, apenas quatro são registrados no Ibram.

Para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Alagoas, há carência da parte governamental em relação ao circuito cultural. "Em linhas gerais, o governo poderia investir mais no turismo cultural, pouco explorado na capital". Os representantes do Iphan defendem ainda que a visita aos equipamentos culturais são uma tendência na atividade turística. "É necessário pensar em Alagoas 'além-mar. Viajar para conhecer tradições, histórias e aprender sobre o passado de maneira viva e autêntica é uma das fortes tendências'", explica a assessoria da instituição.
Porém Fernando Lôbo, coordenador do SAM, explica o motivo de a rota cultural não ter muita adesão: "Maceió não têm os equipamentos culturais como "rota turística" porque as agências de turismo cobram remuneração para levar os visitantes a qualquer instituição, seja ela comercial ou pública, e os museus não têm esta característica. A Secretaria de Turismo também não os enxerga como rota" conta.
Os questionamentos não ficam só por aí, apesar de os museus reconhecerem o baixo número de visitantes durante a alta temporada, comparado ao alto número de turistas no estado, tem museu que afirma que 90% dos seus visitantes são turistas, como é o caso do Museu Palácio Floriano Peixoto (MUPA), que revela que durante este período há o registro de cerca de 300 visitantes a mais.

Para a jovem alagoana e admiradora da cultura local, Roberta Castello Branco, o registro de um baixo número de visitantes que são do próprio estado tem uma justificativa: "Como alagoana e curiosa por arte, por história, fico um pouco decepcionada com os horários de funcionamento dos museus e exposições de Maceió. Pois a maioria funciona em horário comercial, que é o mesmo horário que a maioria das pessoas trabalha e ainda não abrem aos finais de semana. Mesmo querendo frequentar os museus, conhecer uma nova exposição, levar a família, não temos essa oportunidade. Eles só pensam nos turistas e esquecem de fomentar a cultura para os próprios alagoanos", pontua.

Fernando Lôbo explica que a promoção do acesso aos museus se dá por meio de interesses particulares, e que cada instituição tem seu perfil. Por fim, reconhece que poucos museus do estado abrem aos finais de semana, e justifica: "São dois os fatores para que os museus não funcionem aos finais de semana. Um é a questão da falta de segurança, pois a maioria dos equipamentos está em rota de risco, e o outro fator é a questão do funcionário público, que só tem o dever de trabalhar aos finais de semana se atuar nas áreas de educação, saúde e segurança, neste caso, os museus públicos deveriam pagar hora extra a eles, mas não há recurso para tal procedimento", explica.
Fernando ainda aponta outras áreas de conhecimento invisíveis à 'rota turística', citando que "Alagoas é rica em ecologia, história e arqueologia, outras áreas esquecidas".