Enquanto grande parte dos maceioenses ainda dorme, as empresas de transporte urbano de passageiros já colocaram 3 mil trabalhadores nas ruas. Quatro da manhã - faça chuva ou faça sol - lá estão eles, os rodoviários. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, encaram mais um desafio e sabem que o combate à doença não ocorre apenas dentro dos hospitais. Os ônibus - que compõem o serviço essencial - não podem parar e tiveram de se adequar às exigências para evitar a proliferação da Covid.
Inovações foram implementadas pelo setor para garantir que usuários e profissionais estejam seguros. Um desafio diante de uma doença - a Covid-19 - que ainda se alastra. A reportagem ouviu trabalhadores que relatam como vivem esse momento de pandemia, além dos sindicatos que representam as empresas de transporte urbano de passageiros (Sinturb/AL) e dos rodoviários (Sinttro).
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Morador do bairro Santa Lúcia, na parte alta de Maceió, a rotina de Cláudio Nilton, 42 anos, cobrador de ônibus, começa às 4 horas e 30 minutos da madrugada, quando acorda para se preparar para mais um dia de trabalho. Enquanto faz a higienização pessoal, a esposa o auxilia na preparação da marmita. "Chego ao trabalho por volta das 5h30, onde bato o ponto, e inicio minha jornada de trabalho. Por volta das 9 horas faço uma pausa para me alimentar, comer o meu café-almoço", conta Cláudio.
Sobre a pandemia da Covid-19, o cobrador conta que adotou medidas necessárias para evitar a contaminação. "Tenho o maior cuidado com a parte higiênica. Até mesmo em casa. É necessário se precaver de várias formas. Não tive receio, até porque fomos orientados. Eu não levava a sério, mas depois comecei a ver até colegas sendo internados e se recuperarem. Graças a Deus deram continuidade à vida", disse o rodoviário, que há um mês atua no posto de recarga do Cartão Bem Legal, no bairro Salvador Lyra.
Claudio conta que, devido à pandemia, a situação financeira da família - com esposa e o filho de 17 anos - apertou. "Minha esposa foi demitida e, com isso, fez a maior diferença na nossa renda. Recebo um pouco mais que o salário mínimo e minha esposa, que antes trabalhava na casa de família, faz bicos de cabeleireira. Tivemos que reduzir gastos e não fazer mais débitos", declara.
Medidas para evitar a proliferação
Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Maceió (Sinturb) se uniu às empresas para adotar medidas de sanitização. O presidente da entidade, Guilherme Borges, fala sobre a preocupação com a higienização dos veículos e a garantia de mais segurança aos passageiros.
"Foram reforçadas as limpezas dentro das garagens e nos terminais de ônibus de Maceió. As empresas adquiriram equipamentos pulverizadores para que a limpeza seja feita de forma mais eficaz e utilizando detergente hospitalar que garante proteção contra vírus e bactérias por 72 horas. É um produto indicado no mercado de higienização, pois não traz nenhuma contraindicação", revelou.

Guilherme Borges explica ainda que as empresas devem fazer o teste com outro equipamento que podem esterilizar o veículo com ozônio - e tem uma capacidade de matar o vírus em 6 segundos - para ser utilizado entre uma viagem e outra. "Durante este período as empresas têm orientado os passageiros sobre a necessidade do uso de máscara e de lavar as mãos antes e depois de usar o transporte público. E também sobre a importância de não utilizar o dinheiro como forma de pagamento, já que o dinheiro pode ser uma via de contágio por passar de mão em mão", finaliza o presidente do Sinturb.
Outro fator importante, conforme o relato do presidente, é a campanha educativa que mostra para as pessoas que o dinheiro pode ser substituído. "O cartão Bem Legal é pessoal e pode ser higienizado com facilidade, além de não precisar entregá-lo a ninguém, basta aproximar do validador. E ainda sobre as facilidades, ele garante um embarque mais rápido no ônibus, garante também a possibilidade de integração temporal, usar mais de um veículo no intervalo de uma hora e meia pagando apenas uma tarifa", conclui Borges.
Medo de contaminação

Morador também da parte alta de Maceió, do Graciliano Ramos, o motorista de ônibus, Cicero Marques Tavares, 52 anos, relata que está com o contrato suspenso há um mês na empresa onde trabalha, mas que, antes, quando estava trabalhando, tinha receio e tomava as medidas para não ser infectado pelo coronavírus. "No começo da pandemia trabalhei 100%. Não fiquei com tanto receio não, porque sempre andava com máscara e álcool, e chegava sempre antes para higienizar minha área de trabalho e falava o mínimo para que não chegassem para falar perto de mim", pontuou.
Motorista profissional há 30 anos, dezoito deles trabalhando em ônibus, Cicero lamenta que o momento da crise sanitária e econômica no país o obrigou a enxugar gastos. "Atualmente, aqui em casa, eu e minha esposa estamos recebendo pelo programa do governo, sendo 70% pelo programa federal e 30% pela empresa. É apertado. Não é fácil porque você tinha o controle da situação, de pagar as contas em dia e, de repente, você fica sem planejamento, tudo atrasa. É difícil explicar, mas é muito complicado", contou.
Apesar do momento de incerteza, Cicero diz não estar abatido e tem esperança em dias melhores e, por isso, aposta em especialização ao investir em cursos online. "Antes mesmo da pandemia eu já gostava de me atualizar e, agora, com essa crise, tenho tentado me manter atualizado através da internet. Tudo para me adaptar e me especializar, me manter qualificado para minha função". Ele conta, ainda, que chegou a sentir sintomas da Covid, foi até um laboratório fazer o exame, que deu negativo. "Foi um alívio", resume.

Assim como Cláudio e Cicero, que tiveram suas vidas modificadas durante a pandemia, o rodoviário Sérgio Denis, que atua na função há 15 anos, dois deles como cobrador e 13 como motorista, conta que sai de casa por volta das 3 horas e 30 minutos da madrugada, seis dias da semana.
"Moro no Medeiros Neto, local de onde pego o ônibus para ir até a garagem. Minha jornada de trabalho começa por volta das 5 horas da manhã, com meia hora de intervalo, e prossigo minha jornada, a depender do trânsito, até 13 horas", relata Sérgio Denis.
O motorista, que mora com a esposa e os filhos de 23 e 18 anos, diz que no começo da pandemia ficou um pouco assustado. "Fiquei como todo mundo ficou, mas, a empresa nos deu uma ajuda de custo, álcool em gel, máscara e atualmente faz a verificação da temperatura. Estamos tranquilos", diz.
Questionado se, em alguma dessas viagens da Forene até o Trapiche da Barra, bairros da capital alagoana, algum passageiro se recusou a utilizar a máscara, Sérgio diz que "é muito raro acontecer, mas, quando acontece, a gente conversa e explica que não pode. As pessoas entendem", declara o motorista.
Prestamos serviço essencial, diz Sinttro

Hernande dos Santos é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Alagoas (Sinttro/AL) e conta a rotina dos profissionais que seguiram com as atividades nessa pandemia e que, mesmo com medo, sabiam da importância do serviço prestado à população de Maceió.
"Assim como outras categorias, nós prestamos um serviço que não pode parar. Ficamos na linha de frente, como o pessoal da saúde, e foi um momento muito difícil para nós, rodoviários, porque tivemos que fazer nosso trabalho, ir às ruas, trabalhar com as pessoas e ao mesmo tempo ter que deixar nossas famílias e, depois, retornar para o lar. Sempre correndo o risco de levar a doença para dentro de casa, onde temos esposa, filhos, pais e mães e em alguns casos avós, que são pessoas de alto risco", conta Hernande.
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus e, desde então, todos os países tiveram de priorizar medidas de saúde da população e evitar uma tragédia ainda maior. Era preciso reduzir o impacto da doença assustadora e que pouco se sabia.

Em Alagoas, o primeiro caso do novo coronavírus foi confirmado em Maceió, no dia 8 de março, e de óbito no fim do mesmo mês. De lá para cá, decretos do governo determinaram a suspensão de serviços não essenciais, reforçaram medidas de isolamento e distanciamento social, além da exigência de protocolo sanitário que deve garantir a segurança de quem tem que sair de casa. Nesse caso, os ônibus têm papel fundamental. Levam e trazem trabalhadores que atuam no combate à pandemia e quem precisa de atendimento de saúde.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Sinturb), por volta de 3 mil rodoviários atuam em Maceió e desempenham as funções de motoristas e cobradores. "Desde 2019 através de uma parceria com o Sest/Senat, 144 cobradores se formaram e se profissionalizaram motoristas de ônibus, alguns já estão, inclusive, atuando na nova função. Foram contratados como motoristas. Outros se capacitaram para área de mecânica e também foram recontratados com a nova profissão", informa a entidade.
Durante a pandemia as empresas reforçaram a parceria com o Sest Senat e os rodoviários receberam capacitação para o atendimento ao passageiro. "O curso capacitou os funcionários sobre causas, formas de contágio e prevenção do coronavírus. Os trabalhadores são capacitados sobre o que é o vírus, como surgiu, quais as formas de contágio e como prevenir", explica o Sinturb.
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