Em Alagoas, pelo menos 770 famílias vivem a expectativa de encontrar parentes desaparecidos. De acordo com o Sinalid [Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos do Ministério Público], somente neste ano, 282 pessoas sumiram no Estado; os demais casos aconteceram em 2018, e representam assustadores 488 sumiços. Muitos deles são conhecidos, ganharam repercussão na mídia e a sensibilidade da população. Outros casos, talvez, nem estejam nesta estimativa por ausência de denúncia às entidades públicas voltadas à busca de desaparecidos.
O sistema foi implantado em Alagoas em maio de 2018, e, desde então, é a ferramenta que auxilia nas buscas por pessoas a nível nacional. Até então, 26 casos de sucesso nas buscas foram registrados.
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"Quando lançamos o Sinalid em Alagoas, pedimos à polícia que nos passasse os cinco últimos lotes de boletins de ocorrências de pessoas desaparecidas, e chegaram, aproximadamente, 1.800 casos. Desde então, nós estamos diligenciado um a um. Do montante, muitas pessoas já retornaram e outras continuam desaparecidas. Só inserimos no sistema os casos que temos a confirmação de que permanecem sumidos", informou a promotora Marluce Falcão, alertando que os números de alagoanos desaparecidos podem ser ainda maiores.
De acordo com os casos registrados na plataforma, que é atualizada diariamente, a principal faixa etária de pessoas desaparecidas em Alagoas são os adolescentes, de 12 a 17 anos, representando 30,14% do índice; em seguida aparecem os adultos, com idades entre 35 e 64 anos, que representam 25,87%; logo após vêm os jovens, com idades entre 18 e 24 anos, que representam a estimativa de 14,36% dos sumiços no Estado. O menor índice de desaparecidos é de recém-nascidos, com até 11 meses, que representam 3,62% dos casos.
Os dados do sistema apontam, ainda, que 61,5% desses sumiços são de pessoas do gênero masculino; já os 38,5% dizem respeito a pessoas do gênero feminino. Infelizmente, a plataforma não relaciona idade com o gênero, mas a promotora Marluce diz que os sumiços na adolescência estão mais relacionados às pessoas do gênero feminino; enquanto na fase adulta, acontecem mais com pessoas do gênero masculino.

Uma das questões mais preocupantes destes casos é o fato de que, segundo a promotora, a maioria dos sumiços no Estado acontecem de forma involuntária. Mas também há os casos voluntários, que acontecem com mais frequência com crianças, adolescentes e idosos, que, segundo ela, são resistentes à restrições aplicadas por seus tutelares.
"Vejo muitas crianças e adolescentes voluntariamente desaparecendo. As motivações, geralmente, são porque tiraram o celular ou porque querem fazer um programa que a família não permite, acabam dormindo nas casas de colegas, inclusive, o menino [identificado como William] que morreu na praia recentemente tinha um B.O. de desaparecimento. Ele, sem que a família soubesse, foi dormir na casa de um coleguinha e de lá foram para o mar e terminou se afogando. Por isso que quando a criança sai de casa tem que ter busca imediata, porque eles não tem noção de risco", pontua a promotora.
Como proceder diante da situação de um desaparecimento
O primeiro meio que o familiar deve entrar em contato é a Polícia Civil, para a Confecção de um Boletim de Ocorrência (BO). Para o MP agir, por meio do Sinalid, é necessário que seja um desaparecimento registrado.
A próxima atitude deve ser, com o BO em mãos, procurar um promotor de Justiça de qualquer região do Estado. Eles devem indicar o procedimento a ser seguido. Mas também há a possibilidade de marcar uma entrevista com a promotora Marluce, à frente do tipo de investigação pelo MP/AL, por meio dos seguintes contatos telefônicos: 82 21225220 e 82 991820121 (WhatsApp).
Quando se trata de um adulto, a polícia aguarda o período de 48h para iniciar as buscas. Mas quando se trata de uma criança ou adolescente, a Lei diz que a busca tem que ser imediata. Em ambos os casos, não existe tempo mínimo para registrar o Boletim de Ocorrência. "O recomendado, inclusive, é que a ocorrência seja registrada nas primeiras horas da ausência. Isso tende a facilitar a localização pelos investigadores", ressalta a promotora.

Um caso recente de desaparecimento, amplamente divulgado, foi o da Maria Rita, de 14 anos, que voluntariamente saiu de casa para ficar com o namorado, escondido da família. A adolescente passou 17 dias sumida, foi encontrada pelos investigadores no último dia 24.
O pai da menina relatou àGazetawebo drama vivido. "Por falta de experiência com o tipo de situação, a primeira coisa que fizemos foi espalhar os nossos contatos e fotos da minha filha nas redes sociais. A procurávamos nas ruas, o desespero era grande. À imprensa, demos detalhes que poderiam prejudicar as investigações, não sabíamos como agir. A nossa angústia assustou a população", contou o pai, Jadson Cabral.
Com a atitude, o apelo viralizou nas redes sociais e a imprensa massivamente especulou o caso. Situações que, em um sumiço como este, no qual a decisão foi da pessoa desaparecida, segundo a promotora, a assusta e a afugenta ainda mais.
A divulgação do caso tem que acontecer com cautela, sob o auxílio de autoridades especializadas e à frente das investigações do caso.
"Com a ampla divulgação do caso, a situação rapidamente chegou ao conhecimento do Ministério Público, que nos auxiliou da melhor maneira e acompanhou tudo de perto. Nos direcionou, também, para a Delegacia Especializada da Criança e Adolescente. Além de nos indicar sobre como deveríamos proceder com a mídia, entre outras questões, a exemplo da divulgação do contato para possíveis informações sobre a minha filha, que antes havíamos espalhado os da família, e lá nos informaram que o ideal é que seja por meio de um contato do MP e da polícia", lembrou o pai.
"Como já havíamos divulgado na internet, tomou uma grande proporção, reverberou no Brasil inteiro. Recebemos informações de diversos lugares, inclusive de outros estados. Mas, nenhuma das informações eram realmente sobre a minha filha. As pessoas se confundiam, até porque ela tem um estereótipo comum entre as adolescentes, não é difícil de confundi-la", disse o pai de Maria Rita, ressaltando que, caso alguém passe por uma situação parecida, o ideal é compartilhar a notícia com os contatos das autoridades especializadas.
Jadson aproveitou para deixar uma mensagem às famílias que vivenciam o mesmo drama o qual ele passou. "O segredo é manter a calma, sei que é difícil, é uma situação muito dolorosa, mas é o ideal. O desespero acaba atrapalhando e, pior, afugentando ainda mais a pessoa que sumiu. Foram os dezessete dias mais longos de nossas vidas, mas acreditamos que serviram e continuarão servindo para fortalecer ainda mais os laços familiares. Graças a Deus nossa filha está em casa, sã e salva", disse o pai, que agradeceu às instituições que estiveram à frente das investigações, populares e à mídia, que deram atenção e se sensibilizaram com o caso.
Ainda desaparecido

Um dos 770 casos de sumiço registrados no Sinalid é o do José Arnoldo Silva, que desapareceu no dia 30 de agosto, no bairro da Ponta Grossa. Segundo a família, Arnoldo é funcionário federal e tem depressão, decorrente da perda de dois filhos que faleceram em um acidente de trânsito no ano de 2006.
Além da angústia e desespero por não ter notícias sobre Arnoldo, a família diz que está difícil manter a esperança, mas que, ainda assim, resiste. "Nossa família está muito abalada, estamos sofrendo muito com este sumiço. Estamos na expectativa da volta dele para que possamos nos cuidar", disse a irmã, Nadja Almeida.