Emicida fez um show memorável no Theatro Municipal de São Paulo, em 27 de novembro de 2019. Um ano depois, ele registra essas memórias no documentário "AmarElo - É tudo pra ontem".
É mais que um filme musical. Há trechos do show e da gravação do álbum "Amarelo", mas a base são as reflexões do rapper sobre o contexto - que vai desde a chegada do primeiro navio negreiro no Brasil até a pandemia do novo coronavírus.
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O podcast G1 Ouviu tem uma conversa com Emicida sobre o novo filme, sobre arte engajada e pessoal, e sobre os movimentos antirracistas no Brasil de ontem e de hoje. Ouça acima.
Leia as principais falas da entrevista de Emicida abaixo:
Sobre as referências a artistas negros no documentário:
"A gente mostra que o Emicida não está reinventando a roda. O Emicida é uma consequência de uma série de movimentos artísticos que aconteceram sobretudo do século 20, que vão desaguar numa percepção a respeito de si mesmo de um moleque na Zona Norte de São Paulo. "
Sobre o "neosamba", estilo que Emicida diz fazer, com referências que vão de Jovelina Pérola Negra e Clementina de Souza a Marcelo D2 e Rappin' Hood:
"A gente está falando sobre uma música falada em cima de uma batida. Os ingredientes são um pouco diferentes, mas a receita é a mesma. Ritmo e poesia. Esses personagens vão desaguar nessas experiências que a gente está tentando elaborar. "
Sobre o público branco e negro nos shows. E como é falar para eles:
"Às vezes parece que a única função da música é ser política. Isso é um erro colossal. Muito pelo contrário. Eu nem me compreendo como uma pessoa que faz uma música militante. Eu acho que a minha música faz justiça ao que eu vivi. E isso acontece num grau tão intenso que ela vira um registro de um tempo. E aí esse registro do tempo pode ser usado para exemplificar a vida de várias outras pessoas, e refletir também sobre uma estrutura na qual a gente cresce. Acho que é nesse lugar em que eu estou. Acho que, por exemplo, Belchior fazia isso."