O Mundial de Clubes da Fifa poderia ser um aperitivo para a Copa do Mundo de 2022, que também será realizada no Catar, mas o futebol está longe de ser o prato principal do esporte para os moradores de Doha, que preferem as corridas de cavalos e camelos à bola. Nem mesmo a presença de times como Liverpool e Flamengo mexe com as emoções do povo local.
Para tentar esquentar a relação dos catari com o futebol, o comitê organizador da Copa do Mundo fechou contrato com Xavi para ser garoto propaganda do Mundial. A imagem do ex-jogador da seleção espanhola e atual treinador do Al-Sadd, que participou do Mundial de Clubes, está estampada em outdoors e comerciais de TV.
Leia também
Xavi também faz parte da Aspire Academy, responsável pela formação de jogadores de base no Catar. Os contratos de publicidade do ex-jogador são milionários.
- As corridas de camelo e cavalos são mais importantes para nós daqui, são esportes tradicionais do país - afirma Sadeq Baderaldin, jornalista muçulmano e produtor local.
Por conta do calor, as corridas de camelo são realizadas às 5h (horário local) em Al Shahaniya, pequena aldeia a uma hora do centro de Doha, onde se localiza uma grande pista. Na última sexta-feira, por exemplo, aconteceram alguns páreos.
O tênis também está mais em pauta do que o futebol. Em Doha, é possível ver mais outdoors da etapa do ATP - Qatar ExxonMobil Open 2020 - que começa em 6 de janeiro - do que do Mundial que acontece por esses dias. Mesmo assim, o público do tênis costuma ser baixo. Porém, mais do que presença maciça, a propaganda é a alma do negócio.
Em uma pesquisa informal com funcionários de hotel, peões de obras no centro de Doha e motoristas de aplicativo, nenhum deles citava Gabigol, alguns lembravam de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo, outros ainda exaltam Salah, mas quase todos saem do futebol para falar de Nasser Salih Nasser Abdullah Al-Attiya.
- Temos um campeão - exalta o segurança particular Mohamed Adallah, em referência a Al-Attiyah, campeão do Rali Dakar três vezes (2011, 2015 e neste ano, além de ser medalhista olímpico de bronze no tiro esportivo).
Torcida paga
Para que os estádios não ficassem vazios em jogos de futebol era praxe em Doha que grandes empresários financiassem uniformes, transporte, alimentação e mais uma quantia em dinheiro para que "torcedores" marcassem presença nas partidas. Em 2020, está planejado que seja organizado um campeonato com 24 equipes.
- Meia dúzia de torcedores acompanhava os jogos do campeonato local, alguns recebiam dinheiro para torcer e tocar uns tambores. Mas aí na Copa Emir (torneio eliminatório entre quatro times) o estádio lotava. Mas isso porque sorteavam jet-sky e carros para os torcedores - recorda o ex-jogador Roger, que atuou, a partir de 2008, durante dois anos no Catar S.C.
Roger não acredita em maiores mobilizações do povo do Catar para a Copa do Mundo:
- A Copa não é feita para agradar o povo de Doha, mas sim para elevar o Catar como referência mundial nos esportes. O país tem sediado grandes eventos esportivos e tem seu nome em evidência.
E esse é quase um lema: falem bem ou falem mal, mas falem do Catar. É isso que tem acontecido desde que o país foi anunciado como país-sede da Copa do Mundo de 2022.
Na próxima quarta-feira, a atenção de boa parte de admiradores do futebol pelo mundo estará voltada para o Khalifa International, onde o Liverpool faz sua estreia no Mundial diante do Monterrey. Mas o mesmo 18 de dezembro é festejo para a população local por outro motivo: Dia Nacional do Catar, feriado nacional.
E, neste domingo, diante do início da invasão rubro-negra à Doha, parte da população local vibrava, tirava fotos, filmava e tentava pronunciar Flamengo, mas sem muito sucesso.
Pouco deve mudar. A Copa das Confederações, que costumava servir de evento-teste para o Mundial, não será disputada em novembro de 2021 em Doha. Assim, o país árabe não terá mais nenhum grande evento de futebol. Resta rezar para que tudo dê certo.