O médico alagoano Paulo Valões foi uma das atrações do programa Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (23). Cirurgião do Hospital Geral do Estado (HGE) desde 1986, ele apareceu mostrando o dia a dia e as dificuldades do local, mas principalmente sua dedicação aos pacientes que chegam na unidade hospitalar.
Entrevistado por Drauzio Varella, que esteve em Alagoas para gravar o quadro "Tudo pela Vida - Quando o Remédio É Tentar o Impossível", Paulo atende na área vermelha, destinada a pacientes mais graves, como vítimas de ferimentos de arma de fogo e branca e acidentes de trânsito. Gente que ele não gosta de deixar esperando.
Leia também
"Todo minuto pra mim é importante, então vai subir, descer, esperar o maqueiro... Não. Agilizo o processo para diminuir a demora", diz o médico, enquanto leva nos braços uma criança para o centro cirúrgico. "Ter que deixar um doente esperando. Isso não entra no meu sangue, não".
Já para um paciente que, em uma cadeira de rodas, esperava há cinco horas por uma cirurgia, ele mesmo foi atrás de uma maca. "Ele está inconformado, reclamando do serviço. Realmente está faltando atendimento, então vou atrás. Vou no maqueiro, no centro cirúrgico, até no necrotério. A gente traz a maca, esteriliza e põe o paciente".
Além do problema das macas, o quadro mostrou também a falta de centro cirúrgicos - apenas três estão em funcionamento e um deles precisa ficar liberado para casos graves de trauma -, a dificuldade de diagnósticos de radiologia à noite e, ainda, equipamentos quebrados, como o pedal de um bisturi elétrico.
"Às vezes, operamos só com estudantes. O hospital não oferece uma instrumentadora, como na maioria dos hospitais públicos", acrescenta o cirurgião. "Aqui na área amarela tem cinco pacientes entubados, era para ser uma UTI. É o único hospital público para atender à demanda da população de todo o Estado. Olha os corredores, não era pra ter ninguém aqui", lamenta ele.
Quem está na área de enfermagem tem que correr junto com o médico. "A única coisa é que a gente trabalha demais. Pra gente ele é cansativo, mas para nós como usuários é um medico do qual não temos o que dizer", diz a técnica de enfermagem Anadege Pereira.
Um dos seis filhos do médico alagoano, o também cirurgião Sérgio Valões, especializado na parte torácica no HGE, falou do trabalho do pai. "Enquanto ele não operar todo mundo que ele viu, que ele conversou, que ele tocou a mão, ele não vai embora, ele não descansa", afirmou.

No quadro, Paulo contou ainda que não escolhe os pacientes. "Chega um baleado, uma vítima de tiro, não vem a questão se ele é do bem, do mal, se é bandido, se é polícia. Ele é mais grave? Esse é meu critério, porque ele precisa ser operado", expôs ele, que mantém um arquivo, desde 1988, de todos os pacientes operados por ele.
Drauzio elogiou a atitude. "O médico sai da faculdade preparado para cumprir a função principal da medicina: aliviar o sofrimento humano. Mas nas emergências dos hospitais públicos, onde a falta de estrutura impõe obstáculos diários, conhecimento só não basta. É preciso dedicação, olhar nos olhos e tocar no corpo do doente que está à frente ele, fragilizado. Esse é o médico que exerce a profissão em sua plenitude".
Paulo aponta que está apenas fazendo seu trabalho. "Eu estou vendo o doente e quero resolver o problema dele. Ele não pediu para levar um tiro, ser acidentado, cair da moto. Eu, sim; eu escolhi estar ali para atender ele. Essa escolha é minha. É de quem está ali, do médico, a responsabilidade é dele", disse.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que está construindo novos hospitais e que as obras de um novo centro cirúrgico com cinco salas devem começar até o final do ano. O órgão acrescentou que pretende implantar um sistema de diagnóstico pela internet para agilizar laudos radiológicos e que o pedal do bisturi foi consertado.