"Se a população tivesse mais consciência ambiental, nossos rios e mares agradeceriam e muitos viveriam dignamente". Este é um breve desabafo de uma ex-catadora de lixo, que conseguiu superar obstáculos e, hoje, preside uma das cooperativas de reciclagem contratadas pelo Município. A Prefeitura admite que, se a coleta seletiva fosse realizada em toda a cidade, economizaria, aproximadamente, R$ 1 milhão por mês. Porém, apenas 16 mil residências em Maceió são contempladas com a destinação correta dos resíduos sólidos e líquidos.
A capital alagoana abrange, hoje, quatro cooperativas: Cooprel (uma situada na Serraria e outra no Benedito Bentes), Coopvila e Cooplum (ambas em Jacarecica). Todas trabalham com pessoas diferentes, mas com um só objetivo: recolher o lixo reciclável nos imóveis e dar a destinação adequada, além de orientar a população sobre a importância da separação.
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Uma das cooperativas visitadas pela reportagem foi a Coopvila, que fica localizada na Vila Emater II. De acordo com a presidente, Ivanilda Gomes, 4 mil casas situadas a partir da Ponta Verde até o bairro do Jaraguá são atendidas pelos catadores de reciclagem, que chegam em um caminhão e recolhem o lixo seco e o molhado. Além disso, existem os Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), cujos contêineres ficam distribuídos em algumas regiões de Maceió, para que a população possa jogar o lixo previamente separado. O trabalho nas residências é realizado duas vezes por semana.
"Aqui, as ações acontecem com o apoio e colaboração de todos. São 23 mulheres e 7 homens que recebem o material da rua e fazem uma separação do que é plástico, ferro, alumínio e outros tipos no setor de triagem. Em seguida, o lixo é colocado nos sacos e prensado em uma máquina, gerando o fardo pronto para a comercialização", explicou Ivanilda, citando que os produtos são vendidos por quilo, cujo valor mínimo é R$ 1,30, correspondente ao comércio das garrafas Pet.
Questionada sobre o valor recebido pela cooperativa mensalmente, a presidente diz que cerca de R$ 20 mil são arrecadados com a comercialização dos produtos, mas, devido aos custos, apenas R$ 5 mil são lucrados. Do outro lado, está o valor pago pelo Município à cooperativa, que chega a receber R$ 40 mil por mês, já que R$ 10,00 são pagos por residência; porém, R$ 2 mil são destinados a pagamento de impostos.
"Arrecadamos cerca de trinta toneladas mensalmente, mas desejamos mais vinte toneladas, que é o mínimo, levando em conta a demanda populacional e o tamanho da cidade. Hoje, podemos dizer que recebemos um salário mínimo e até mais, a depender da produção, já que, há alguns anos, a gente ganhava duzentos, trezentos reais", assinalou Ivanilda, ao citar que a cooperativa existe desde o ano de 2008.

PERCALÇOS
Mesmo com uma vida melhor, os ex-catadores de lixo ainda enfrentam diversos problemas de estrutura na cooperativa e nos barracos onde vivem com suas famílias. A falta de saneamento no local impede uma vida mais digna. Além de tudo isso, os comerciantes que adquirem o material reciclado ainda não são os "grandes do mercado", isto é, os industriais. Restam, para eles, os pequenos e, algumas vezes, os médios comerciantes.
"Queríamos atingir as indústrias, mas não conseguimos porque a quantidade produzida não é suficiente. Os empresários querem uma quantidade maior, mas, como faremos isso, se o número de casas ainda é pequeno? Apesar de avançarmos muito, caminhamos a passos lentos porque é preciso que a população mude os hábitos, reservando vinte minutinhos de seu tempo para separar o lixo. Se houvesse isso, o meio ambiente agradeceria e teríamos mais geração de emprego e renda com a criação de novas cooperativas, agregando tantos carroceiros e catadores de rua que sobrevivem como podem. Só em Jacarecica, há mais de 2 mil catadores de lixo distribuídos pelas ruas do bairro", reforçou a presidente.

Desde 2008, na Cooperativa, Maria Célia Silva dos Santos afirma que, hoje, "não falta nada", ainda que tenha que sustentar quatro filhos e um neto. "Sou solteira e preciso dar conta de todos em casa. Onde eu vivia, no lixão, era pior. Tenho meu salário certinho, fixo".
Mãe de 10 filhos, a catadora Damiana Maria da Silva comenta sobre a exposição a doenças à época em que trabalhava no lixão. "A gente poderia pegar doenças com os bichos por lá, naquela podridão. Aqui é um paraíso e só tenho que agradecer. Fazemos de tudo um pouco, desde a separação do material até a embalagem nos fardos".

O QUE DIZ O MUNICÍPIO
Procurada pela reportagem, a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) explicou que, em maio de 2017, a Prefeitura de Maceió contratou as quatro cooperativas de catadores de material reciclável para fazer a coleta seletiva porta a porta.
Em uma visão macro acerca dos custos com recolhimento de lixo urbano, o município de Maceió gasta, em média, R$ 12 milhões por mês com os serviços. O aterro sanitário recebe cerca de 42 mil toneladas de resíduos mensalmente; deste total, cerca de 29 mil toneladas são compostas por resíduos domiciliares, dos quais, aproximadamente, 40% poderiam ser reciclados.
"São recolhidas, em média, cem toneladas de resíduos recicláveis por mês. Deste montante, aproximadamente 15 toneladas são de materiais plásticos. É importante considerar que, com a coleta seletiva em toda a cidade, o Município economizaria, aproximadamente, R$ 1 milhão a cada mês", declarou a Superintendência, através de sua assessoria.
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O Município informou, ainda, que são atendidos com a coleta seletiva porta a porta os bairros de Cruz das Almas, Pontal, Ponta Verde, Jatiúca, Mangabeiras, Benedito Bentes, Serraria, Antares e Jacarecica. O objetivo, segundo a Superintendência, é ampliar para 60 mil residências nos próximos anos.
Além disso, o processo da implantação da coleta seletiva em Maceió, também contempla Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) de material reciclável. Os equipamentos estão na Praça do Centenário, no Farol; na Praça Genésio de Carvalho, na Gruta; Praça da Faculdade, no Prado; na orla da praia de Ponta Verde; no Terminal do Graciliano Ramos; Praça do Colégio Atheneu, no Salvador Lyra; Praça Lucena Maranhão, em Bebedouro; Guaxuma, na Praça do Conjunto Gurguri; e, no Feitosa, na Praça Nossa Senhora de Fátima.

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