Lendas, obras de arte e curiosidades atraem visitantes a cemitérios de Maceió

Cemitérios alagoanos tornaram-se rotas de visitantes. Curiosos, estudiosos e amantes da arte vão ao ambiente conhecer histórias e apreciar a arquitetura do local, em especial nos mais antigos, como é o caso do Nossa Senhora da Piedade e do São José, ambos localizados no bairro do Prado, em Maceió. Eles são reconhecidos pelas peculiaridades arquitetônicas, histórias, curiosidades e até lendas consagradas.

Túmulos de personalidades como dos artistas alagoanos Pierre Chalita, Linda Mascarenhas e do jornalista Jaime de Altavila estão no segundo cemitério mais antigo do Estado, o Nossa Senhora da Piedade. Lá também há um mausoléu destinado a ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial que integravam o Exército alagoano. Segundo a administração do cemitério, estes túmulos são motivo de curiosidade, especialmente pela história das personalidades e arquitetura dos mausoléus, que são regados de arte dos mais diversos movimentos. O local abriga esculturas renascentistas, vasos de louças portugueses, entre outros materiais.

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"Escolas têm trazido alunos para visitarem o cemitério e desmistificarem o ambiente. Aqui nós mostramos que não há alma penada e humanos circulando por aqui, apenas os que estão vivos.  Percebemos que, de fato, existe um receio e até um medo do ambiente por parte das crianças", explica a funcionária pública Nayara Oliveira. O cemitério recebe ainda visita de estudantes de cursos superior que vão ao local apreciar a arquitetura, o espaço e a história do local.

O estudante de arquitetura Vinícius Nicácio visita o Cemitério Nossa Senhora da Piedade com o intuito de passear. Ele diz que considera o ambiente muito seguro, e que além de fotografar, gosta de olhar os mausoléus, "tocar violão e tomar vinho", conta.

Histórias como a da Mulher da Capa Preta e do Menino Petrucio, que já viraram lenda, estão entre as favoritas dos visitantes, e também da mídia nacional. Em Maceió, existe até um bloco carnavalesco que leva o nome "A Mulher da Capa Preta" e que reúne centenas de foliões à porta do cemitério todos os anos.

O conto da  Mulher da Capa Preta retrata a história de Carolina de Sampaio Marques. Há quase um século, um homem, de identidade não revelada, a conheceu em um baile e ficou interessado por ela. Eles dançaram e, próximo da meia-noite, a moça quis ir embora. Estava chovendo e o homem pegou a capa que usava, a cobriu e a acompanhou na caminhada à sua casa. Próximo à moradia, ela citou qual era a sua residência, mas pediu para que o rapaz não a acompanhasse. Ela continuou o percurso sozinha. No outro dia, como combinado, o homem foi à casa citada para pegar a capa que havia emprestado. Chegando lá, a família da moça informou que Carolina já havia morrido há um tempo. Incrédulo, o homem foi ao cemitério Nossa Senhora da Piedade, no bairro do Prado, onde Carolina foi sepultada. Chegando lá,  identificou sua capa sobre o túmulo da "Mulher da Capa Preta".

Não muito longe dali, no mesmo bairro, fica localizado o cemitério São José, que tem o túmulo do Petrucio Correia, uma criança de 11 anos que faleceu na década de 30. O Menino Petrucio, popularmente conhecido, foi um bom filho. Por sua bondade, a população vai ao seu túmulo fazer orações e preces e quando as graças são conquistadas, em seu túmulo, são deixados ex-votos, presentes dados pelo fiéis em consagração, renovação ou agradecimento de uma promessa. "O túmulo do Menino Petrucio é cheio de plaquinhas que trazem dizeres do tipo: 'pela graça alcançada', 'obrigado Menino Petrúcio'. Também tem representações de membros do corpo humano, como pernas de gesso, deixadas por pessoas que tiveram algum tipo de cura na perna, assim como fitinhas com pedidos e agradecimentos", conta Nayara Oliveira.

O engenheiro civil Jessé Pimentel diz que visita grandes cemitérios porque eles retratam as crenças das pessoas. A relação com a religião e a arquitetura desperta a curiosidade dele. "Gosto de visitar cemitérios porque eles retratam as crenças das pessoas em relação ao morto e como se lida com a morte. O que acho interessante é a relação que as pessoas têm quando vão construir o espaço dos mortos".

Jessé observa que as pessoas de poder aquisitivo alto fazem verdadeiras obras de arte neoclássica. "Não sei se de forma consciente ou não", conta.

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