"Quero tirar o meu da reta". A fala é atribuída pela polícia ao advogado Fidel Dias de Melo Gomes. Ela faz parte de um dossiê de áudios gravados por um preso que testemunhou contra Fidel na operação "Bate e volta", realizada pela Policia Civil de Alagoas (PC/AL), na semana passada.
O inquérito, que resultou na operação, apura o esquema supostamente montado por Fidel Dias, Hugo Soares Braga e Ruan Vinícius Gomes de Lima, todos advogados alagoanos, para cobrar de presos dinheiro, móveis ou imóveis em troca de transferências e progressões de pena. Hugo é filho do juiz da 16ª Vara de Execuções Penais, José Braga Neto. A juíza Renata Malafaia, integrante da mesma Vara, foi quem denunciou o esquema à Policia Civil.
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Em um pen drive, o apenado entregou - separados em pastas - áudios que provariam as "extorsões" cometidas tanto por Fidel quanto por Hugo. Na pasta intitulada "Hugo", constam 18 áudios atribuídos ao filho do juiz. Na pasta "Fidel", 10 arquivos de voz que seriam do advogado e, em uma pasta nomeada de "Ronald", quatro gravações deste advogado.
Outra fala atribuída a Fidel é a que diz: "Hugo tem influência". Os áudios de Hugo atestam, segundo a polícia, que, de fato, ele dizia ter influência em ações na Vara de Execuções Penais. Na transcrição feita pela Polícia Civil, o filho do juiz diz aceitar carros e apartamentos como pagamento e cita alguns "entraves", caso o preso não aceite os seus serviços. A recusa poderia acarretar, por exemplo, a realização de um exame criminológico.
Já em outro áudio, Fidel acerta um pagamento com um preso que está prestes a progredir de regime, mas, aparentemente incomodado em atuar como cobrador, diz que estava fazendo somente a sua parte, enquanto o "negócio de bastidores" seria responsabilidade de Hugo.
A preocupação em não deixar rastros é exposta em uma conversa entre Hugo e Fidel. Em mensagem de voz, Fidel diz que Hugo o orientou para ficar on-linepara ler e apagar imediatamente a mensagem.
Os arquivos foram transcritos pela Polícia Civil e constam na Representação Criminal que os delegados encaminharam à Justiça. A Gazetaweb teve acesso ao documento.
A OPERAÇÃO POLICIAL
As autoridades policiais confirmaram, na petição, que as investigações começaram ainda em 2019, após provocação feita pela juíza Renata Malafaia. A magistrada teria informado que tomou conhecimento de um esquema dentro do Sistema Penitenciário, envolvendo transferência de presos.
AGazetawebtambém teve acesso à decisão que decretou a prisão dos advogados. Na decisão, a magistrada Lívia Mattos, da 10ª Vara Criminal da Capital, informa que a medida para restrição da liberdade se dá diante das informações de que os suspeitos soltos poderiam intimidar as testemunhas, influenciando, assim, no andamento da investigação. Informações apontam, inclusive, que há depoimento de testemunhas que confirmaram as intimidações.